Ser youtuber, tiktoker, criador de conteúdos digitais ou fazer entrevistas para projetos pessoais e profissionais é agora mais simples, graças ao sistema de microfones de lapela da iS.

A qualidade do som captado diretamente pelos smartphones ou câmaras nem sempre é a melhor. Por isso, e para elevar o nível dos conteúdos, um bom microfone é indispensável. Afinal, além de uma boa imagem, o som de qualidade é essencial para captar a atenção do público e transmitir a mensagem de forma clara e envolvente. Por vezes, os microfones tradicionais com fios podem ser complicados de instalar e pouco práticos. Assim, com este conjunto da iServices, esses problemas desaparecem.

A caixa de transporte permite arrumar os microfones e os acessórios, assim como realizar o carregamento

Simples e prático

A simplicidade é a palavra de ordem: basta ligar o microfone e começar a gravar. Era difícil pedir uma utilização mais simples e prática para este sistema. Na caixa de transporte encontra-se um recetor, que liga através de um adaptador duplo USB-C (ou Lightning, no caso dos iPhone mais antigos), e dois transmissores (microfones de lapela) que podem ser fixados à roupa com uma espécie de mola ajustável. Depois, basta ligar cada aparelho.

O recetor possui um visor que indica quando está a receber sinal, garantindo que tudo está a funcionar corretamente. A partir daí, é tão simples como abrir a aplicação da câmara no smartphone e começar a gravar o vídeo. Estes aparelhos garantem ainda um bom alcance (cerca de 100 metros), eliminando preocupações com a distância entre o recetor e os microfones.

Contudo, em alguns smartphones, o processo pode não ser tão simples. Isto deve-se ao facto de o smartphone nem sempre reconhecer automaticamente o microfone externo, o que faz com que o som continue a ser captado pelo microfone ‘interno’ do dispositivo. Para evitar este problema, após ligar o transmissor ao smartphone, é necessário aceder às definições de vídeo e selecionar a opção “microfone externo” (a nomenclatura pode variar dependendo da marca do telemóvel).

Gravar com qualidade

A qualidade do som captado é convincente e revela, como seria de esperar, uma grande diferença em relação ao som gravado diretamente com um smartphone. O som é limpo e nítido, melhorando significativamente a qualidade das gravações de vídeo. Mesmo ao reproduzir os vídeos com o volume elevado, não se verifica qualquer distorção.

A iServices inclui no conjunto dois corta-ventos para os microfones, que são discretos e fáceis de instalar no transmissor. Basta encaixá-los, e um clique audível confirma a fixação correta.

Em termos de eficácia, os resultados impressionam: em testes realizados em condições de vento intenso, praticamente não se registou qualquer ruído. O kit de transporte é robusto e bem concebido. Inclui uma bolsa, e no seu interior encontra-se uma caixa onde os componentes podem ser guardados e carregados, graças a dois pinos magnéticos. O carregamento, realizado através de USB-C, demora cerca de 90 minutos para restabelecer a autonomia total.

O preço é equilibrado, considerando dois aspetos principais: a qualidade da captação e a facilidade de utilização do produto. Não é necessária qualquer instalação ou aplicação adicional, o que torna a experiência simples e intuitiva. Esta é uma solução prática e eficiente para quem deseja melhorar a qualidade das gravações sem complicações.

Tome Nota
Microfones Wireless iServices – €99,95
Site: iservices.pt

Construção Satisfatório
Design Bom
Som Muito Bom
Utilização Muito bom

Características: Material: Plástico ○ Conectividade: Wireless, USB-C, Lightning ○ Transmissão: 2.4G ○ Distância de transmissão: cerca de 100 metros ○ Microfone: -30db:3db ○ Frequências: 20Hz-20Khz ○ Autonomia: 7h ○ Tempo de carregamento: 60-90 min

 

Desempenho: 4
Características: 4
Qualidade/preço: 4

Global: 4

Agradecida a quem inventou esta alma portuguesa, não a do fado e da saudade, mas a das anedotas, uma vontade de galhofar com o ridículo de certas figuras políticas, que nos mata, sim, mas de tanto rir. 

Bem vistas as coisas, que outra atitude seria adequada perante o absurdo de imaginar um deputado da Nação a roubar malas nos tapetes de bagagens dos aeroportos? É um crime tão original que o dia de ontem se encheu de piadas, nas redes sociais virtuais trocaram-se memes furiosamente, e nas “redes sociais dos bairros”, os cafés e as mercearias, reinou o escárnio. Também na Assembleia da República, entre o sério e altamente ideológico debate sobre o Sistema Nacional de Saúde, se dizia entre dentes: “Cuidado com a mala!”.

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Palavras-chave:

DEFENDER A DEMOCRACIA. Para lá de todas as naturais divergências, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos têm um imperioso dever cívico comum: não se guerrearem nem agirem de forma a contribuir para o descrédito dos partidos, dos políticos, do regime democrático. Descrédito que é terreno fértil para os extremistas, os populistas, os violadores dos direitos humanos, cada vez mais poderosos e perigosos por todo o mundo.

Ora, o primeiro-ministro, que teve um relativamente positivo início de mandato, cometeu, naquela perspetiva, uma muito grave fala quando comparou/equiparou as duas manifestações na sequência da intervenção policial na Rua do Benformoso. Segundo ele, teriam sido promovidas por dois hipotéticos, semelhantes, “extremos” – ficando a virtude no “meio”, no PSD… A primeira, “Não nos encostem à parede”, por dezenas de associações antirracistas e de imigrantes, com o apoio de PS, BE, Livre e PAN, elogiada pelo bispo presidente da Conferência Episcopal, etc. A segunda, contra a primeira, a “Encostem-nos à parede”, organizada pelo Chega. Foi, é, repito, muito grave, e não está em linha com outras afirmações/ações de Montenegro, que devia encontrar forma de reparar o que disse.

AS PRESIDENCIAIS DE 2026. Terão começado demasiado cedo a ser matéria em destaque na generalidade dos média. Mas compreende-se, ou era mesmo inevitável. Assim, já há meses circulam nomes de prováveis candidatos. Todos de partidos, menos um: o almirante Gouveia e Melo. Não por acaso, e talvez também por isso, o até agora à frente nas sondagens. E o mais “contestado”, na perspetiva de uma espécie de falta de legitimidade política, por não se lhe conhecer percurso, a posição e o pensamento nesse domínio. O que, como militar no ativo, se pode explicar, veremos agora o que dirá. Seja como for, julgo não haver, para já, razão para a “classe política”, e adjacentes, se mostrar tão incomodada com a sua eventual candidatura.

Face à inexistência de uma indiscutível figura da sua área para Presidente, como o seria um António Guterres, os eventuais candidatos mais falados são partidariamente expectáveis ou explicáveis. O que me surpreende é não terem (quase) aparecido outros nomes, com uma dimensão e uma qualidade que faltam a alguns deles.

Exemplifico, com as “áreas” do PSD e do PS. Na primeira tem de ser um “militante” do partido, numa reveladora opção/decisão anunciada por Luís Montenegro. Ora, penso que ninguém do PSD seria melhor candidato do que Leonor Beleza. É certo que ela recusou essa hipótese, agora decerto já impossível. Mas não sei se teria sido possível antes, se… Porque a simples recusa, à partida, não significa impossibilidade. Quando eu disse a Maria de Lourdes Pintasilgo que a incluiria nas sondagens de O Jornal sobre as presidenciáveis, nas eleições de 1986, ela pediu-me para não o fazer, pois não queria nem nunca aceitaria ser candidata. Era seu amigo, tinha pertencido com ela à direção do Movimento para o Aprofundamento da Democracia, mas mantive o seu nome – e, contra as expectativas, ela apareceu em 1º lugar. Continuando, porém, a recusar ser candidata, até a convencerem de que tinha uma espécie de dever cívico de o ser. E foi.

Na área do PS, sua militante, creio que Elisa Ferreira é uma personalidade com um percurso, profissional e político, e um perfil que amplamente justificam a inclusão do seu nome como eventual muito boa candidata. Não militante, ressalta o nome de António Sampaio da Nóvoa, que surpreende (ou já não?…) nunca ser referido, quando em 2016, além do mais, teve o excecional apoio, e participação na sua campanha, de (com exceção de Cavaco Silva) todos os antigos presidentes: Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio. E, sem nenhum expresso apoio partidário, em disputa com o “invencível” Marcelo Rebelo de Sousa, teve mais de um milhão de votos – enquanto a também respeitável Maria de Belém, ex-ministra e presidente do PS, teve um pouco menos de 200 mil. 

À Margem

Trump e o “estado do mundo”

A minha tentação inicial era escrever sobre o chocante e deprimente espetáculo da tomada de posse de Donald Trump, com a imediata impudica ostentação de poder ao assinar cerca de cem “ordens executivas”, com transmissão em direto pelos média, tendo uma roda de jornalistas como pés de microfone.

Muitas dessas “ordens” constituindo ora a destruição do que antes fora feito de positivo, ora o perdão para condenados pela invasão do Capitólio, ora medidas perigosas para a Humanidade. Como são, em si e no que representam, retirar os EUA do Acordo de Paris, da OMS, etc., etc.

Uma tentação a que resisti: porque já (quase?) tudo foi dito a esse respeito, e porque não encontro palavras para exprimir o que sinto, também sobre o “estado do mundo” que revela tudo isto, incluindo os ultrarricos e os políticos ultraconvidados especiais… 

A trapalhada relacionada com a demissão de Gandra de Almeida do cargo de diretor-executivo do SNS é uma espécie de cereja no topo de um bolo que costuma conduzir o titular de um cargo ministerial – neste caso, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins – ao estatuto de “remodelável”. Os ingredientes estão lá todos e refletem um padrão já experimentado noutros governos, em particular, os de António Costa, em que uma coisa leva à outra. O caso é simples: à data da nomeação de Gandra de Almeida, a ministra sabia, ou não sabia, que ele tinha acumulado funções no SNS, sendo remunerado por serviços prestados em vários hospitais, como médico tarefeiro, ao arrepio da lei, que exigia exclusividade, como dirigente do INEM do Porto? E se não sabia, devia ter sabido?

Do que se conhece, no momento em que este texto está a ser escrito, é que muito dificilmente a ministra não saberia de factos que eram públicos e que constavam do próprio currículo do indigitado. Esta semana, a ministra alegou que se limitou a seguir o parecer positivo da CRESAP (organismo que superintende sobre a contratação pública), numa declaração de passa-culpas – sendo que, de facto, a própria CRESAP não fica isenta de responsabilidades. Seremos levados a concluir, no entanto, que, perante o parecer da CRESAP, a ministra, talvez juridicamente mal assessorada, assinou a nomeação de cruz. Aparentemente, e segundo notícias não desmentidas cabalmente – a não ser pelas alegações vagas de Gandra de Almeida sobre “imprecisões e falsidades” não especificadas –, o ex-diretor-executivo detinha, com a mulher, uma empresa de prestação de serviços que teria operado no SNS, como tarefeira. Ou seja, eventualmente, não seria ele a prestar o serviço, diretamente, mas sim “a empresa”, o que, pelo menos, no plano ético, vai dar ao mesmo. Agora, Gandra de Almeida foi substituído pelo experiente gestor Álvaro Santos Almeida, professor na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, que já liderou a Entidade Reguladora da Saúde, o que, na interpretação do “comentador” Marcelo Rebelo de Sousa, é uma nomeação “defensiva”.

Ou seja, apesar das dúvidas de Marques Mendes, que, na SIC, este domingo, propôs que se fizesse uma reflexão sobre a necessidade de termos uma “Direção Executiva do SNS”, o órgão continua a existir. Realmente, se pensarmos bem, a ideia do governo anterior de criar um órgão (e um cargo mais bem remunerado do que o do próprio ministro da tutela) foi recebida com ceticismo pela então oposição, PSD incluído. O certo é que, chegados ao Governo, os sociais-democratas mantiveram a estrutura. Ainda que, devido a desacordos antigos – de quando a ministra foi presidente do Hospital de Santa Maria e se demitiu –, as relações entre o anterior diretor-executivo, Fernando Araújo, e Ana Paula Martins fosse tensa. Digamos que nenhum deles queria trabalhar com o outro e Araújo demitiu-se. Da parte da ministra, o que se sentiu foi alívio, por se ter livrado do antigo “inimigo”. As dúvidas de Marques Mendes, entretanto, fazem sentido: o que é que a Direção Executiva pode fazer que não deva ser feito por uma estrutura tão pesada como a dos serviços pré-existentes do Ministério da Saúde? Aparentemente, a explicação terá a sua lógica: o Ministério define as grandes linhas da política de Saúde e a Comissão Executiva, mais ágil e próxima do terreno, planeia e executa orientações técnicas. Este modelo exige, porém, estabilidade. E essa nunca foi uma prioridade, nem para a ministra, nem para Gandra de Almeida: a ânsia de fazer uma “limpeza” varreu, sem explicação plausível, várias administrações hospitalares e de ULS pelo País: Viseu-Dão Lafões, Lezíria, Leiria, Alto Alentejo, Almada-Seixal (com o Hospital Garcia de Orta), etc. Declarações explosivas sobre a competência de algumas administrações criaram anticorpos contra Ana Paula Martins. E casos como o do caos das maternidades e dos serviços de obstetrícia, no verão, das broncas do atendimento da Linha de Saúde 24, da promessa falhada de um plano de emergência para 60 dias, apresentada pelo primeiro-ministro, e da greve do INEM – com a suspensão da assistência de emergência médica que pode ter sido a causa direta de várias mortes – completaram o quadro de um consulado tão cheio de casos e casinhos que fazem de figuras como Marta Temido verdadeiros “santinhos de altar”. Ora, para proteger o primeiro-ministro, quem costuma cair são os ministros. Veremos se Montenegro remodela antes ou depois do verão, antes ou depois das eleições autárquicas. Ou se a ministra da Saúde se aguenta tanto tempo.

Golpe de vista

Política de campanário

Na passada sexta-feira, a AR aprovou uma série de desagregações de freguesias, mais de 300, pelo País inteiro, revertendo uma importante reforma administrativa sugerida pela Troika ao governo de Passos Coelho – que a defendeu com convicção. Mas já se esqueceram: em ano de eleições autárquicas, na ânsia (correndo o risco da injustiça da generalização) de satisfazer bairrismos, e com muitas clientelas partidárias locais a quem agradar, os dois maiores partidos lá se entenderam para reverter uma das poucas medidas racionais do período de “ajustamento”. Até que sejam obrigados a reverter a reversão, claro.

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Não foram poucas as vezes em que ao longo dos anos me envolvi em polémicas sobre o que é a liberdade de expressão, e as suas várias dimensões.

Ouvi muitas vezes que insultar, mentir, difamar era muito feio e tal, mas, pronto, fazia parte da liberdade de expressão e que quem queria punir esses atos era basicamente um censor, alguém disposto a pôr em causa o princípio democrático, pelos vistos, acima de todos os outros. O direito ao bom nome e à honra seria algo menor. Então se a coisa fosse dita como uma piada ou proferida por um humorista, quem se atrevesse a sequer pensar que essa conduta pudesse ser punida seria considerado um aprendiz de Beria.

Confesso que me dá um certo gozo ver alguns dos que batiam no peito na defesa intransigente da liberdade de expressão muito preocupados com os Musks e Zuckerbergs. Isto é tão velho como a história do mundo: só nos apercebemos do problema quando o sentimos na pele.

Quando somos nós a poder dizer alguma coisa e temos um púlpito público que nos permite chegar a muitas pessoas, achamos que a nossa liberdade de dizer o que nos vem à cabeça não pode ser limitada. São só palavras, pois então. E, claro está, todos devem poder usufruir dessa sacrossanta liberdade.

Confesso nunca ter percebido se era desonestidade, ingenuidade ou estupidez fazer o paralelo entre uma qualquer pessoa que faz um comentário numa rede social e outra que tem uma coluna num jornal, um espaço televisivo ou muitos milhares de seguidores numa qualquer plataforma. Prefiro ingenuidade.

Esta rapaziada começa a ver o problema quando são outros a ter uma voz que pode sobrepor-se à nossa duma forma arrasadora. Nessa altura começa-se a perceber que, se calhar, as palavras têm mesmo importância, que há um problema quando alguém pode usar o poder que tem sem se preocupar com a lei ou com qualquer conceito de honra e dignidade.

Claro que quem defende a inexistência prática de limites à liberdade de expressão está sempre convencido da bondade dos seus propósitos. Não só acha que este largo espectro é um fator fundamental de limitação a abusos do poder político, como crê que as causas que defende são as certas. No limite, defende que o atropelo de alguns princípios é um preço aceitável a pagar. Qualquer semelhança com o que os Musks desta vida fazem não é uma mera coincidência.  

Estamos tão-só perante uma questão de poder e de como queremos estruturar os vários poderes que se entrecruzam numa comunidade.

O que ontem era um debate sobre se um colunista pode difamar alguém sem que a lei se lhe aplique, hoje é sobre a capacidade de o homem mais rico do mundo espalhar mentiras e teorias da conspiração de forma impune.

Na essência, é o mesmo debate, o que é diferente são as consequências imediatas. Foi a sementeira da liberdade de expressão como a mãe de todos os princípios que originou o ponto onde estamos.

Dir-me-ão que pessoas como o Zuckerberg não querem controlar os conteúdos porque isso exige muitas pessoas, muita tecnologia e faz com que os lucros sejam mais baixos. Ou que ao Musk não o move só o lucro, mas um objetivo ideológico mais vasto e que a preocupação dos dois com a liberdade de expressão é uma farsa – isto face aos nossos mártires da opinião que acham mesmo que o princípio é o mais importante numa democracia. Pouco importa, o efeito é o mesmo: a destruição do valor da lei, daquilo que é a expressão máxima dum Estado de direito.

Somos nós que estamos a ser postos em causa quando os nossos tribunais não atuam contra quem abusa da sua liberdade, seja ele um colunista, seja ele um troll de rede social com milhões de seguidores. São as leis que exprimem a vontade do povo que são violadas quando no X me aparecem constantemente mensagens duma pessoa que não sigo. 

Lembro-me bem do que foi dito quando o poder judicial brasileiro silenciou o X. O que foi de vestes rasgadas por estar a ser atacada essa plataforma de imaginária liberdade, quando o que de facto o juiz brasileiro fez foi defender a lei, a liberdade e a democracia.

Ao defender os Musks e Zuckerbergs e a pretensa liberdade das redes sociais que eles supostamente nos dão, está-se a defender o poder do dinheiro sobre a Justiça; a força de meia dúzia de homens poderosos em contraste com a vontade dos povos expressa na lei.

Não há liberdade nenhuma quando a lei não é cumprida. Não há liberdade nenhuma na mentira, na calúnia, na manipulação.

Não há democracia sem a igualdade de todos perante a lei, a impunidade dos oligarcas globais é o maior indicador da profunda crise em que ela vive.

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Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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As palavras quase sempre importam, raramente são proferidas em vão. E “reféns” foi a palavra que, nesta segunda-feira, 20 de janeiro, Donald Trump utilizou para se referir aos que invadiram o Capitólio há quatro anos e por isso foram condenados. Depois de ter tomado posse, um dos primeiros decretos que assinou, a par da saída dos EUA da Organização Mundial da Saúde e do Acordo Climático de Paris, foi o perdão das 1 500 pessoas responsáveis pelo ataque de 6 de janeiro de 2021. 

Trump está de regresso ao Capitólio, quatro anos e 15 dias após esses acontecimentos inimagináveis, perpetrados por quem não concordou com os resultados das eleições presidenciais de então. Ao assinar aqueles indultos massivamente, o que Trump fez foi, de facto, legitimar o uso da violência como forma de protesto. Biden, ao invés, concedeu-lhe uma transição pacífica (agora que já vimos tudo, é sempre bom recordá-lo). Antes, havia uma dissociação clara entre o que Trump dizia que ia fazer e o que, depois, Trump efetivamente fazia. No mandato que esta semana se inicia, o que se afirma não é apenas uma nova ordem mundial, com múltiplos polos e vários centros de poder. De agora em diante, as palavras do 47º Presidente vão ter correspondência real com os seus atos. Duvidam?

E se é de palavras que começámos por falar, atentemos também ao facto de, no discurso de investidura de 2025, Trump não ter usado a palavra “carnificina” de há oito anos. Pelo contrário, falou em “declínio”, anunciando uma nova “idade de ouro dos EUA” (obviamente escolhido para ser o soundbite do dia) e, sobretudo, assumindo-se como o homem providencial, um verdadeiro Messias, salvo por Deus de uma bala que, em julho passado, lhe rasou a orelha, num comício na Pensilvânia. O tom geral foi, ainda assim, grandiloquente. “Estamos à beira dos maiores quatro anos da História da América”, proclamou no Capitólio.

Afinal, o que podemos esperar dos próximos quatro anos? Daqui em diante, não será mais possível afirmar que, com Trump, o futuro é imprevisível: Trump II não será uma caixinha de surpresas. Vai ser absolutamente previsível, vai fazer o que prometeu fazer, vai fazer o que disse, vai dizer exatamente o que vai fazer. Ajudam, claro, as atuais maiorias no Senado e na Câmara de Representantes, ainda que ténues. No Supremo Tribunal, os ventos também lhe correm de feição e, por isso, tudo se alinha em seu benefício. O humor é sempre uma boa saída para as adversidades da vida, mas, aos seus opositores, nos EUA e no resto do mundo, recomenda-se pouco riso. Por favor, levem-no a sério: Trump vai mesmo deportar “milhões e milhões” de imigrantes ilegais, vai mesmo rever o sistema de taxas alfandegárias para que os países estrangeiros “deixem de enriquecer à custa dos americanos”, vai mesmo retomar o Canal do Panamá, vai mesmo alterar o nome do golfo do México para golfo da América, vai mesmo fechar a fronteira com o México…

Até agora, melhor ou pior, tem funcionado a estratégia de ignorar o menino provocador. Veja-se, porém, a reação imediata de Elon Musk quando, no discurso da inauguration, Trump falou em pôr uma bandeira norte-americana em Marte: já quase não há adultos na sala. Em relação a Trump II, há, de resto, uma contradição discursiva que deverá ser preservada: a retórica antielites, supostamente defensora dos interesses do povo contra os poderes instituídos, e a proteção dos mais ricos, nomeadamente, dos magnatas das tecnológicas de que, esta semana, se rodeou no Capitólio. Eis a nova realpolitik.

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A 22 de janeiro de 2009, menos de 48 horas após tomar posse, Barack Obama, o 44º Presidente dos EUA assinou o decreto 13 492, destinado a encerrar definitivamente a mais polémica e infame das prisões americanas, Guantánamo. Volvidos 16 anos, o complexo militar e penitenciário instalado na parte sudeste de Cuba continua aberto e ainda conta com 15 prisioneiros num limbo jurídico, a começar pelo alegado “principal arquiteto” dos atentados do 11 de setembro, o engenheiro paquistanês Khalid Sheikh Mohammed.

Na última segunda-feira, 20, numa clara demonstração de quem manda agora na Casa Branca, Donald Trump assinou mais de uma centena de ordens executivas com o propósito de cumprir as suas promessas de campanha e sobretudo começar a desmantelar o legado do seu antecessor, Joe Biden.

Inigualável Mal reentrou na Sala Oval, para assinar vários decretos presidenciais, Trump tinha já dado ordens para as cortinas voltarem a ser douradas

Se algumas delas são simbólicas, e serão seguramente alvo de prolongados litígios nos tribunais e no Congresso, outras são indiciadoras do que será feito até ao início de 2029 (quando termina o mandato) e passam a ter efeitos imediatos: estado de “urgência nacional” devido à imigração (na fronteira com o México); retirada da Organização Mundial de Saúde e do acordo de Paris sobre o clima; fim do New Green Deal (acaba a aposta nas energias renováveis e renovam-se os investimentos nos combustíveis fósseis, nomeadamente o petróleo e gás de xisto); eliminação do wokismo e das políticas vulgarmente apelidadas de DEI (diversidade, equidade e inclusão); suspensão da contratação de funcionários federais e purgas em toda a administração do país para “identificar e destituir os milhares de pessoas (…) que não estão alinhadas” com a “visão de engrandecimento da América”; e, não menos importante, uma amnistia generalizada para os mais de 1500 indivíduos que invadiram e vandalizaram o Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, então incentivados pelo antigo empresário nova-iorquino a não reconhecerem a vitória de Joe Biden. Entre os beneficiários desta última medida está Enrique Barrios, líder dos Proud Boys (uma milícia conspiracionista e de extrema-direita), condenado a 22 anos de prisão pelo destacado papel que teve na organização do ataque.

No seu discurso de tomada de posse, com a duração de 29 minutos e realizado sob a cúpula do Capitólio devido ao frio glaciar que se fazia em Washington D.C., Donald Trump foi igual a si próprio ‒ imprevisível, egocêntrico e narcisista, sempre pronto a reescrever a História e a assumir uma retórica messiânica: “A idade de ouro dos EUA começa agora mesmo. A partir deste dia, o nosso país florescerá e será respeitado em todo o mundo. Seremos a inveja de todas as nações e não permitiremos que se aproveitem de nós durante todos e cada um dos dias da Administração Trump. (…)  Fui salvo por Deus para devolver a grandiosidade à América”, afirmou ‒ referindo-se ao atentado de Butler, na Pensilvânia, em julho de 2024 ‒ perante uma plateia de gente ilustre que o aplaudiu de pé uma dúzia de vezes. 

IMIGRAÇÃO E (ÓBVIO) PRECONCEITO

Como Donald Trump vive obcecado em ser o melhor em tudo, é provável que tenha já batido o recorde de decretos presidenciais nos primeiros dias após tomar posse. E um dos temas que lhe mereceu maior número de assinaturas tem que ver com a regulação dos fluxos migratórios e a suposta necessidade de proceder ao que chama “o maior programa de deportação da História”. Objetivo imediato, de acordo com o documento intitulado Proteger as nossas fronteiras, colocado a 20 de janeiro no site da Casa: “Nos últimos quatro anos, os Estados Unidos da América enfrentaram uma invasão em grande escala, num nível sem precedentes. Milhões de imigrantes ilegais de várias nações e regiões do mundo entraram nos EUA, onde agora residem, incluindo potenciais terroristas espiões estrangeiros, membros de cartéis, gangues e organizações criminosas transnacionais, além de outros indivíduos hostis com intenções maliciosas.” Como sublinhou o New York Times, as coisas não são bem assim. É verdade que, durante o mandato de Joe Biden, entraram, por ano, cerca de dois milhões de pessoas no país, mas só 60% o fizeram de forma irregular. Pormenor adicional. Neste momento, 15,2% dos residentes nos EUA nasceram no estrangeiro, valor idêntico ao de 1890, e a população cresce também ao mesmo ritmo que em meados do século XIX ‒ 0,6%. Estatísticas que a equipa de Trump prefere ignorar, em particular Stephen Miller, vice-chefe de gabinete do Presidente, e Tom Homan, o “czar das fronteiras”. Os efeitos já se notam: todos os pedidos de asilo estão cancelados; a app CBP One, muito usada por mexicanos que cruzavam o Rio Grande, está bloqueada; o famoso muro com o vizinho do Sul voltou a ter estaleiros de obras para que se conclua a infraestrutura; vários centros de repatriamento serão erguidos; a Guarda Nacional e as Forças Armadas serão chamadas a intervir nas zonas críticas e a fazer cumprir a legislação de 1798 (Allien Enemies Act) que permite ao Presidente deter e deportar homens indesejados. Por fim, uma outra medida radical que promete dar polémica: deixar de reconhecer a cidadania a quem nasce nos EUA, o princípio do jus soli (direito ao solo), ao arrepio do que manda a 14.ª emenda da Constituição, por se tratar, segundo Trump, de algo “ridículo”: “Somos o único país do mundo a fazer isto.” Correção: meia centena de países concedem a nacionalidade a quem nasce no seu território, Portugal incluído.

ENERGIA E (MAU) AMBIENTE

Além do desmantelamento do Obamacare (programa que permitiu a quase 30 milhões de americanos terem assistência médica), uma das medidas mais emblemáticas anunciada por Donald Trump em 2017, no início do seu primeiro mandato, foi a saída dos EUA dos acordos de Paris sobre o clima, assinado dois anos antes.

Uma decisão que indignou meio mundo por pôr em causa as mudanças climáticas. Esta semana, a história repetiu-se. Em vez de o fazer em conferência de imprensa frente à mais conhecida mansão da Avenida Pensilvânia, em Washington D.C., o Presidente do segundo país que mais polui a nível mundial (logo a seguir à China) optou por fazê-lo no Capital One Arena, o principal pavilhão de basquetebol da capital americana, perante 20 mil apoiantes eufóricos.

Para já, segundo a Casa Branca, a medida irá vigorar durante um ano. Para Trump e para os negacionistas ambientais do seu gabinete, a prioridade passa por declarar o “estado de emergência energética”, em nome daquilo que chamam a “revolução do bom senso” e à imperiosa necessidade de promover uma “nova era de domínio energético” da América.

Idolatrado A 20 de janeiro, Washington D.C. foi palco de várias cerimónias com Trump a assumir-se como um “unificador” e um “pacificador”

Tradução: eliminar a meta definida por Joe Biden de reduzir para metade as emissões de dióxido de carbono da indústria automóvel até 2027, com o aumento da produção de veículos elétricos, e sobretudo ignorar quaisquer regulamentações que condicionem a prospeção e exploração de combustíveis fósseis. No que a este último ponto diz respeito, a antiga vedeta de TV assevera que vai “potenciar os recursos naturais do Alasca”.

Chris Wright, que vai tutelar a pasta da Energia agradece, ou não tivesse ele sido administrador-executivo da Liberty Energy e um dos pioneiros da fraturação hidráulica, o polémico método de produzir gás de xisto. Outro secretário que vai contribuir para “a nova idade de ouro da prosperidade americana”, em que as eólicas e as energias renováveis vão ser praticamente banidas, é Doug Burgum, antigo governador do Dakota do Norte e igualmente amigo das grandes petrolíferas. Responsável pela gestão dos territórios federais, incluindo reservas indígenas e parques nacionais, cumprirá à letra aquilo que Trump prometeu durante toda a campanha: “We will drill, baby, drill!” (numa tradução livre, “Iremos furar, pessoal, furar!).

REFORMAS (AO GOSTO) DE MUSK

O homem mais rico do mundo não pertence formalmente à equipa ministerial, mas terá direito a um gabinete na Casa Branca e a lidar diretamente com o Presidente, enquanto chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, nas siglas em inglês), para reduzir drasticamente a despesa federal e os gastos com funcionários públicos.

Uma missão pro bono que deveria partilhar com o multimilionário Vivek Ramaswamy, mas que ficará exclusivamente a seu cargo devido à demissão deste último, na segunda-feira, 20, por divergências entre ambos e com outros assessores de Trump ‒ oficialmente, Ramaswamy irá candidatar-se a governador do Ohio.

Entre os decretos presidenciais, contam-se múltiplas peças legislativas destinadas a congelar o recrutamento de pessoal para as agências federais, diminuir as regalias sociais de quem trabalha para o Executivo, fim do teletrabalho, alteração das regras de contratação de acordo com os critérios a definir pela nova Administração, bem como a flexibilização dos mecanismos para despedir burocratas supostamente “incompetentes”, “incumpridores” ou “corruptos”.

Na prática, uma purga a realizar com o auxílio da Inteligência Artificial contra o deep state (estado profundo”), entenda-se a limpeza das elites que, alegam os trumpistas, controlam o “sistema” político, judicial e económico.

Coreografias Milhares de americanos continuam a defender incondicionalmente o Presidente cuja fortuna decuplicou na última semana, graças ao lançamento da sua própria criptomoeda Foto: ALLISON DINNER/LUSA

Um outro possível executor deste plano é Kash Patel, o conspiracionista que o Presidente nomeou para liderar o FBI e que escreveu um livro ‒ Government Gangsters ‒ em que identifica dezenas de inimigos de Trump que devem ser neutralizados. Na lista de alvos, estariam Joe Biden, alguns dos familiares do 46º Presidente, Merrick B. Garland, ex-procurador-geral, Anthony Fauci, o médico que geriu a pandemia no país, ou Liz Cheney, congressista republicana que é filha do ex-vice-presidente Dick Cheney e defendeu em vários momentos a destituição de Trump.

Daí que Biden tenha amnistiado preventivamente algumas destas personalidades para não ficarem à mercê de eventuais retaliações da nova Administração. Um dos mistérios que será desvendado em breve prende-se com o acesso, ou não, de Elon Musk a informações top secret.

É que Trump decidiu que alguns dos seus colaboradores ficam dispensados dos procedimentos tradicionais de escrutínio e aprovação do Senado.

DELÍRIOS POLÍTICOS (E SEXUAIS)

Este ano, a Organização das Nações Unidas celebra o seu 80º aniversário mas o 47º Presidente ignorou por completo a principal instituição multilateral do planeta, chefiada pelo português António Guterres e criada em outubro de 1945, em São Francisco. Donald Trump não esconde a ambição de um dia vir a receber o Nobel da Paz.

Curiosamente, nada faz para convencer a maior parte dos seus aliados de que merece tal galardão. No seu discurso de tomada de posse e nos decretos presidenciais por si assinados, não houve a mínima referência à ONU, à NATO ou à União Europeia. Em contrapartida, ficou a saber-se que os EUA voltam a retirar-se da Organização Mundial de Saúde e que o Presidente pretende mesmo cumprir algumas das suas promessas de campanha mais abstrusas. Uma prende-se com a vontade de redesenhar e de rebatizar geograficamente determinados lugares.

A montanha Denali, a mais alta do país (6200m), no Alasca, volta a chamar-se McKinley, apelido do 25º Presidente (William Mckinley, assassinado em 1901 e um adepto do expansionismo americano e da aplicação de taxas alfandegárias às outras potências da sua época). O Golfo do México passa a designar-se Golfo da América, apesar das piadas que a Presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, tem feito em defesa do rigor histórico e das intenções do seu homólogo do norte querer impor tarifas de 25% sobre os produtos mexicanos ‒ e canadianos ‒ a partir de 1 de fevereiro. Sobre a Gronelândia, Trump nada disse, mas voltou a insistir que Washington não aceita pagar pela utilização do canal do Panamá, que acusa de estar a ser controlado pela República Popular da China.

Outras medida com efeitos imediatos é o perdão dos mais de 1500 “patriotas” condenados pela invasão do Capitólio, o fim do financiamento às políticas DEI e pôr termo a todos os “delírios transgénero”. De acordo com o Presidente, “só há dois sexos, o masculino e o feminino”, definidos à nascença, abrindo-se uma campanha contra a “ideologia de género” e para reduzir os direitos das minorias LGBT, recusando cirurgias e novos passaportes.

Nada mal para o homem que, há apenas um ano, numa entrevista à Fox News, prometeu que iria voltar à Casa Branca e seria “ditador”, mas só por 24 horas.

Anatomia de um retrato

A foto oficial do segundo mandato de Donald Trump é mais uma na construção de uma imagem icónica do Presidente dos EUA

Olhar
A expressão dos olhos remete para uma ligação à foto de prisão, quando foi detido para julgamento no final de agosto de 2023, mas também para uma das mais célebres imagens do atentado de que foi alvo, em junho de 2024, na Pensilvânia. Agora, o tríptico fica completo.

Luz
A iluminação foi o trabalho principal do fotógrafo oficial Daniel Torok, na composição desta foto, cuidadosamente coreografada. O rosto de Trump é iluminado por baixo, com uma luz quase metálica e crepuscular, que cria um grande efeito dramático. Depois, o contraste dos olhos completa o quadro, de forma poderosa.

Mensagem
A imagem foi produzida de forma a transmitir uma mensagem séria e ameaçadora, segundo Eric Drapper, antigo fotógrafo da Casa Branca, citado pela BBC. A imagem rompe com o cânone habitual de apresentar o Presidente dos EUA como um ser sorridente, disposto a dar as boas-vindas. Aqui, fica antes patente a intenção de poder ameaçador, através de um olhar severo, duro e direto.

Assinatura
“Estamos a entrar na Idade de Ouro da América”, escreveu o fotógrafo Daniel Torok, nas redes sociais, ao apresentar o retrato.

Confesso que ainda não compreendi, com a devida profundidade e zelo, o escândalo gerado em torno do ex-CEO do SNS, o tenente-coronel médico Gandra D’Almeida. Acumulava funções, dizem. A Assembleia da República irá investigar do ponto de vista político, e o IGAS fará diligências semelhantes para apurar responsabilidades.

A inimaginável acumulação terá ocorrido enquanto desempenhava o cargo de diretor do INEM no Porto, trabalhando também como médico especialista em urgências hospitalares, em alguns hospitais algarvios. Ou outros.

A primeira dúvida prende-se com o verbo acumular: era diretor e também realizava urgências? E então? Não são esses mesmos serviços de urgência que frequentemente encerram ou funcionam de forma debilitada em determinados períodos do ano? Não é o próprio Ministério da Saúde que tenta contratar médicos em período de férias para colmatar falhas nos hospitais algarvios?

Relativamente ao próprio do “acumulador”, importa matutar: sendo especialista em urgências (quando é que passará a ser oficialmente uma especialidade médica em Portugal?), é perfeitamente natural que dirija o INEM, e que, além disso, realize algumas horas de serviço nos bancos hospitalares. Na especialidade em que é reconhecidamente bom e eficaz. Afinal, o verdadeiro problema só reside no dinheiro. Ganhava em várias frentes. Pois, mas trabalhava de sol a sol.

Se Gandra fosse voluntário, apenas porque é competente e gosta do que faz, ninguém se queixaria, nem denunciaria, levando-o à demissão. Isto confunde os portugueses?

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

A tomada de posse de Donald Trump como 47º Presidente da História dos EUA marcou o início formal de uma nova era, em que a América assume um comportamento diferente em relação ao resto do mundo, altera as suas prioridades e redefine a sua postura em relação àqueles que foram os seus aliados do pós-II Guerra Mundial.

Com o ego inflamado, embora sem esconder os muitos ressentimentos, e rodeado de oligarcas que projetam o seu domínio muito para lá dos quatro anos de um mandato presidencial, Donald Trump mostra-se determinado a mudar a face do país mais poderoso do mundo, seguindo um único caminho: preocupar-se apenas com a América e nada mais do que a América. Tudo o resto só lhe interessa desde que contribua para o engrandecimento e o enriquecimento dos EUA. Caso contrário, nada vale o esforço nem o tempo perdido.

Ninguém se engane: Trump apenas promete fazer a América grande outra vez. Nunca ninguém o ouviu dizer que queria ter também os seus aliados, antigos ou recentes, grandes novamente. E quando fala no Ocidente, a sua visão é bem mais limitada do que aquela que se convencionou designar nos tempos da Guerra Fria: refere-se àquela zona em redor dos EUA, englobando uma esfera de influência que ele deseja que vá da Gronelândia ao Panamá.

Este é, portanto, o momento em que a Europa precisa de perder as ilusões em relação ao “amigo americano” e de começar, rapidamente, a alterar os hábitos das últimas décadas e, sem demoras, mudar de trajetória. O tão falado diálogo transatlântico, incensado durante décadas, prepara-se para ser interrompido por Trump. Da Europa, ele não quer parceiros, mas somente clientes: países que lhe comprem o petróleo e o gás natural que ele vai extrair das imensas reservas do território americano, ao alcance de mais uns quantos furos, mesmo que sejam em regiões que deviam estar sob proteção ambiental. Em matéria de Defesa, a Trump apenas interessa que os europeus lhe comprem armamento, porque em relação à disputa de fronteiras com a Rússia considera que não é assunto que lhe diga respeito. Além disso, quer que os automóveis europeus fiquem mais caros para os americanos, através de novas taxas, e vai apoiar até ao limite todas as suas empresas tecnológicas nas disputas legais na União Europeia sobre as regras de privacidade.

Neste contexto, mais importante do que estar a analisar – ou a horrorizar-se… – com as consequências e os efeitos sistémicos previsíveis das decisões da nova Administração em Washington, a Europa precisa de se virar também para dentro e procurar analisar de que forma pode crescer, desenvolver-se e evitar o papel irrelevante em que pode cair num mundo dividido entre os EUA e a China. O diagnóstico é tão simples quanto brutal: ou a Europa se esforça para ser grande ou fica condenada a um futuro insignificante.

A entrada em funções de Donald Trump e o anúncio formal das suas prioridades constituem, inegavelmente, uma ameaça à Europa. Mas a resposta tem de ser dada pela própria Europa, de forma a sobreviver ao “desafio existencial” proclamado por Mario Draghi, há alguns meses, na apresentação do seu relatório sobre o futuro e a competitividade da União Europeia.

Para “mudar radicalmente” a Europa, tornando-a mais produtiva, mas “preservando os valores de equidade e inclusão social”, Draghi propôs, no seu relatório, um plano de investimento colossal, da ordem dos 800 mil milhões de euros anuais – o dobro do Plano Marshall do pós-guerra. E que teria de ser financiado através da emissão regular de dívida conjunta, o que deixou muitos políticos do Centro da Europa, nomeadamente os alemães, em choque, levando a que o relatório não tivesse sido suficientemente discutido no seio da União Europeia, como seria necessário.

Agora, à falta de outros planos, este é o debate que precisa de ser feito – e o mais depressa possível. Para sobreviver, a Europa não pode ignorar os avisos de Draghi, necessita de ganhar autonomia e de se fortalecer em três eixos principais: inovação tecnológica, segurança e descarbonização. Para se afirmar perante o resto do mundo, a Europa precisa, ainda, de saber ocupar os espaços deixados vazios pelos EUA de Trump: a transição energética, o apoio à Organização Mundial da Saúde, a regulamentação das criptomoedas, o controlo da Inteligência Artificial, a defesa da equidade e do Estado social.

Face a Trump, a resposta europeia tem de se inspirar na gloriosa frase de John F. Kennedy: Não perguntem ao Presidente da América o que pode ele fazer pela Europa. Perguntem, isso sim, aos europeus o que devem fazer pela Europa. É essa a única resposta que conta.

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A Netflix, a plataforma líder de streaming a nível mundial, confirmou um aumento dos preços das subscrições em Portugal, numa altura em que o serviço regista um crescimento recorde no número de subscritores. No último trimestre de 2024, a empresa somou 18,9 milhões de novos utilizadores, elevando o total global para 302 milhões.

Mas, apesar do crescimento significativo, a Netflix anunciou que a necessidade de continuar a investir em conteúdo exclusivo e inovador levou à decisão de aumentar os preços das subscrições em vários mercados, incluindo Portugal. “À medida que continuamos a investir em programação e a oferecer mais valor aos nossos membros, ocasionalmente pediremos aos nossos membros que paguem um pouco mais para reinvestirmos e melhorar ainda mais a Netflix”, justificou a empresa em comunicado.

Aumentos de até dois euros por mês

Para quem subscrever um plano pela primeira vez ou for consultar os preços, no site ou na aplicação da Netflix, já estão disponíveis as atualizações de valores para cada plano. O plano Base, que custava 7,99 euros, passou para 8,99 euros. O plano Standard sofreu igualmente um aumento de um euro, passando de 11,99 para 12,99 euros. Por fim, o plano Premium, que inclui streaming em 4K, HDR, qualidade sonora de alto nível e permite utilização em até quatro dispositivos em simultâneo na mesma residência, registou o maior aumento, subindo dois euros e passando de 15,99 para 17,99 euros mensais.

Adicionalmente, para os subscritores dos planos Standard e Premium que optem por adicionar membros extra à conta, o custo mensal por membro subiu de 3,99 para 4,99 euros.

Resultados financeiros em alta

O aumento de preços surge num período em que a Netflix regista resultados financeiros acima das expectativas. No último trimestre, a empresa registou um lucro por ação de 4,27 dólares, ultrapassando a previsão de 4,20 dólares, e as receitas aumentaram 16% em relação ao mesmo período do ano passado, atingindo 10,2 mil milhões de dólares.

Perspetivas para 2025

A Netflix também reviu as previsões para 2025, apontando para receitas anuais de 44,5 mil milhões de dólares, acima dos 43,5 mil milhões inicialmente previstos. O foco da empresa continuará a ser o investimento em conteúdos que cativem os subscritores, o desenvolvimento de novos formatos como transmissões ao vivo e jogos, bem como a expansão dos planos com publicidade.

Em Wall Street, as notícias positivas impulsionaram as ações da Netflix, que encerraram a sessão de terça-feira, dia 21, com uma valorização superior a 1,5%.