A partir de agora, o valor cobrado pelos bancos e outros prestadores de pagamento nas transferências imediatas tem de ser igual ao que é cobrado nas transferências normais. Esta alteração decorre da entrada em vigor do regulamento europeu e, com ela, o Banco de Portugal espera que os clientes prefiram as transferências imediatas em vez das “tradicionais” (designadas tecnicamente por transferências a crédito), pela comodidade de terem os fundos disponibilizados no momento, representando “o impulso há muito aguardado na [sua] utilização”.

As transferências imediatas garantem que o dinheiro transferido fica disponível, em poucos segundos, na conta da pessoa ou entidade para quem foi dada a ordem de transferência, esteja essa conta domiciliada em Portugal ou em outro país da União Europeia.

O número de casos de HMPV, ou vírus metapneumovírus humano, continua a aumentar na China. Com sintomas muito semelhantes aos das constipações ou gripe, o vírus respiratório HMPV afeta sobretudo crianças e idosos e transmite-se de forma também semelhante, estando a gerar alguma preocupação, sobretudo pelas redes sociais.

Apesar dos meios de propagação em comum com, por exemplo, o SARS-CoV-2, responsável pela Covid-19, os especialistas defendem que não há motivo para alarme e que o risco deo HMPV vir a desencadear uma nova pandemia mundial não é significativo. O Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças já está a monitorizar a situação, descartando, para já, a necessidade de preparação para outra epidemia. “Posso assegurar que, de momento, não há necessidade de preparação para outra epidemia”, referiu Eva Hrncirova, porta-voz da Comissão Europeia para a Saúde, numa conferência de imprensa em Bruxelas.

Em Portugal, já foi identificado um caso pelo Instituto de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que se encontra sob vigilância.

O que é o HMPV?

O HMPV foi identificado pela primeira vez nos Países Baixos, em 2001. Presente em todo o mundo, pertence à mesma família que o vírus sincicial respiratório (VSR) e circula sazonalmente durante os meses de inverno.

Na maioria das pessoas, este vírus pode causar sintomas semelhantes aos de uma constipação comum. No entanto, pode provocar dificuldades respiratórias, sobretudo em crianças ou pessoas mais vulneráveis.

Quais os sintomas a que deve estar atento?

Muito semelhantes aos de outras doenças comuns nas estações mais frias do ano, os sintomas da infeção por este vírus incluem tosse, dores musculares, dores de cabeça e garganta, febre, congestão nasal e dificuldades respiratórias.

Em casos mais graves e não tratados, o HMPV pode ter em consequências mais gravosas como bronquites e pneumonia. Em declarações à Sky News, Peter Openshaw, professor de medicina no Imperial College de Londres explica que os casos de hospitalização são os de doentes com níveis oxigénio baixo, o que implicar a necessidade de internamento nos cuidados intensivos ou de ventilação mecânica, “mas isso é relativamente invulgar”.

Como se transmite?

O HMPV é transmitido pelo contacto próximo com pessoas infetadas, através de gotículas respiratórias passadas por espirros ou tosse, por exemplo. Pode ainda ser transmitido através de objetos ou superfícies contaminados

Para minimizar o risco de transmissão podem ser adotadas algumas medidas preventivas como a lavagem das mãos de forma regular ou evitar o contacto próximo com as pessoas infetadas.

Como é feito o tratamento?

Não existe uma vacina para este vírus. O tratamento do HMPV, tal como acontece com outras doenças de inverno, é feito através do alívio dos sintomas pela toma de medicamentos.

Porque é que os especialistas não estão preocupados?

O aumento do número de casos que tem vindo a ser registado na China tem suscitado alguma preocupação, sobretudo pelas similaridades que partilha com a Covid-19. Pelas redes sociais encontram-se a circular diversas fotografias de hospitais sobrelotados no país. No entanto, segundo os especialistas, não há razões para acreditar que o HMPV venha a desencadear uma pandemia semelhante à que ocorreu em 2020.

No final de dezembro, as autoridades de saúde chinesas afirmaram estar a intensificar a vigilância das doenças respiratórias e que é expectável que ocorra um aumento do número de casos durante o inverno. “As infeções respiratórias tendem a atingir o seu pico durante o inverno. Os casos de doença parecem ser menos graves e propagam-se em menor escala do que no ano anterior”, sublinhou Mao Ningna, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, citado pelo The Independent.

Já imaginou um futuro onde respirar ar puro seja um luxo? É sabido que a queima de combustíveis fósseis associadas ao tráfego automóvel, a algumas formas de produção de energia e outras atividades humanas estão a envenenar a atmosfera. Em Portugal, as emissões de dióxido de azoto (NO₂) e partículas finas (PM₂.₅ e PM₁₀) colocam cidades como Lisboa e Porto perigosamente próximas – ou mesmo acima – dos limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estas partículas podem danificar os pulmões, mas os seus impactos vão muito além, afetando outros órgãos e contribuindo para problemas cardiovasculares e doenças crónicas.

À medida que o planeta aquece, também a química da atmosfera muda. O aquecimento global promove a formação de poluentes secundários, como o ozono troposférico, enquanto fenómenos extremos, como incêndios florestais, libertam partículas que deterioram ainda mais a qualidade do ar. Os incêndios de 2017, por exemplo, deixaram várias cidades portuguesas sob níveis alarmantes de poluição, uma antecipação de uma realidade onde alterações climáticas e poluição atmosférica se agravam mutuamente.

Porém, o impacto não é igual para todos. Comunidades próximas de vias de tráfego intenso ou zonas industriais enfrentam maior exposição, com consequências mais severas na saúde. Ao mesmo tempo, a ausência de espaços verdes em muitas áreas urbanas agrava ainda mais este problema. Por vezes somos levados a crer que a qualidade do nosso ar não nos afetará como sabemos que ocorre, por exemplo, na China e na Índia, mas, como as próximas imagens mostram, o NO₂, por exemplo, chegar a ter nas grandes cidades da Península Ibérica concentrações preocupantes deste gás poluente.

Concentração de NO2 na Península Ibérica durante a primeira semana de 2020.
Concentração de NO2 em Lisboa e no Porto, durante o ano de 2020. A tracejado encontra-se o limite considerado como seguro pela OMS

Apesar deste cenário, há esperança. Portugal tem dado passos importantes, como a promoção de veículos elétricos, o incentivo ao transporte público e a implementação de zonas de baixas emissões. No entanto, estas ações precisam de ser reforçadas e complementadas com estratégias mais ambiciosas. O futuro das nossas cidades passa por um planeamento urbano inteligente, que integre mais espaços verdes, melhore a mobilidade sustentável e implemente sistemas de monitorização contínua da qualidade do ar.

No contexto europeu, ferramentas como o Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS) já permitem monitorizar a poluição em tempo real e prever picos de poluição, protegendo as populações mais vulneráveis. Portugal pode e deve aproveitar estas ferramentas para desenvolver soluções adaptadas às nossas necessidades, como prever picos de poluição e proteger as populações mais vulneráveis.

Respirar é essencial, mas garantir ar limpo exige escolhas conscientes e políticas robustas. Não se trata apenas de avanços tecnológicos, mas de um compromisso geracional. Imagine cidades com parques verdejantes, transportes limpos e ar puro. Esse futuro é possível, mas depende das ações de hoje. Prefira transportes sustentáveis, apoie políticas ambientais mais sustentáveis e incentive a utilização dos dados resultantes de iniciativas como o CAMS por parte de quem decide e monitoriza o ambiente em que vivemos. O ar que respiramos molda o futuro – sejamos a geração que escolheu respirar, não apenas sobreviver.

A NERLEI CCI – Associação Empresarial da Região de Leiria/Câmara de Comércio e Indústria tem uma rede industrial instalada das mais diversificadas e modernizadas do país, contando com posição relevante, a nível nacional, em produções como cerâmica decorativa e utilitária, cimentos, plásticos, moldes, madeira e mobiliário, vidro e cristalaria. 

No âmbito de um Plano Estratégico a cinco anos que integra também a transformação digital, esta associação deu mais um passo com a implementação do Cegid XRP Enterprise, a cargo da inCentea. Na linha da frente, o objetivo alargado de melhorar a eficiência e a eficácia organizacional, o que passa pela melhoria na forma como é sistematizada e registada a informação financeira associada a projetos. 

Henrique Carvalho, diretor executivo da NERLEI CCI, especifica que houve necessidade de fazer evoluir o sistema de informação de gestão, de modo a dar a melhor resposta à evolução da própria organização e aos seus objetivos estratégicos. 

Dos dois cenários possíveis – fazer um upgrade do sistema existente ou mudar para um novo sistema de gestão integrado –, a NERLEI CCI optou pelo segundo. “Após análise das várias alternativas, entendemos que uma solução cloud, consistente e robusta, do ponto de vista da estrutura de dados, é a que melhor se ajusta às necessidades da NERLEI CCI que, embora não seja uma grande organização, apresenta particularidades muito específicas quanto à prestação de informação para diferentes tipos de entidades”, afirma Henrique Carvalho. 

Vantagens do Cegid XRP Enterprise 

O projeto envolveu a migração de dados, a configuração do sistema e a formação dos utilizadores para garantir uma transição suave e eficiente, bem como uma alteração de conceito, se assim se lhe pode chamar. Ao invés de um ERP assente numa infraestrutura própria, com os custos inerentes à aquisição dos equipamentos, sua manutenção e atualização, o Cegid XRP Enterprise é uma solução nativa cloud

Henrique Carvalho, diretor executivo da Nerlei CCI

A solução XRP Enterprise permitiu-nos acomodar o essencial das necessidades e estamos certos de que conseguiremos importantes ganhos de produtividade

henrique carvalho, diretor executivo da nerlei cci

Isso traduz-se numa capacidade de atualização do sistema mais ágil, sendo o upgrade de versões feito em menos tempo e com menor custo, além de o Custo Total de Propriedade ser mais baixo e ser possível o acesso ao sistema de qualquer lugar ou dispositivo. 

Para Henrique Carvalho, também relevante na implementação do Cegid XRP Enterprise é o facto de integrar uma solução de CRM e uma solução de business inteligence (BI). Tão ou mais importante no projeto foi o desenvolvimento de uma solução vertical, pela inCentea, aproveitando o potencial do XRP Enterprise, direcionada a gestão de fundos europeus

Assenta num modelo analítico que permite uma gestão ágil, no âmbito de procedimentos que envolvem uma forte capacidade de gestão de dados, documentação, prazos, etc. As diferentes atividades da NERLEI CCI exigem a caracterização da informação financeira em várias dimensões de análise e com relacionamentos não usuais. “A solução XRP Enterprise permitiu-nos acomodar o essencial das necessidades e estamos certos de que conseguiremos importantes ganhos de produtividade”, adianta. 

Miguel Lopes, administrador na inCentea

O processo de implementação é mais ágil, e a adequação da plataforma aos requisitos das organizações é mais rápida e exige um esforço menor, além de se verificar uma maior motivação dos utilizadores

miguel lopes, administrador na incentea

Miguel Lopes, administrador na inCentea, sublinha o forte impacto do template de gestão de fundos europeus na eficiência de processos, num projeto que teve outros elementos diferenciadores, como o recurso a uma metodologia de implementação ágil. “No mercado de ERP, este tipo de metodologia, que potencia a agilidade dos processos de implementação, desde o arranque do projeto até ao go live, ainda é uma novidade”, afirma. E acrescenta: “Os utilizadores têm acesso ao sistema logo que o projeto arranca, e começa aí a formação sobre o mesmo. Há uma interação forte com os utilizadores desde o início, o que significa que o seu feedback também começa numa fase inicial. O processo de implementação é mais ágil, e a adequação da plataforma aos requisitos das organizações é mais rápida e exige um esforço menor, além de se verificar uma maior motivação dos utilizadores.” 


CONTEÚDO PATROCINADO POR INCENTEA

Se há país que conhece a dor e o sofrimento causado por incêndios florestais que atingem casas e pessoas, é Portugal. A tragédia de Pedrógão Grande, em 2017, ceifou 66 vidas, 47 das quais naquela que ficou conhecida como a estrada da morte. Há de perdurar por muito tempo na nossa memória coletiva, assim como a que se seguiu, a meio de outubro do mesmo ano, no Centro e Norte do País, que custou a vida a mais 50 almas.
Nesta ponta da Europa, é raro o verão sem vítimas das chamas, como bem sabemos, mas elas causarem tanta devastação já em pleno outono, completamente fora de época, deixa-nos ainda mais perdidos nos pensamentos.
Este misto de terror e surpresa deve estar a passar pela cabeça de muitos californianos, à medida que os incêndios florestais avançam imparáveis, desde terça-feira, na direção das zonas habitacionais do estado americano colado ao Pacífico.

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1. Já quase tudo tem sido dito sobre a operação da PSP na Rua do Benformoso (Lisboa), na qual há muito residem ou têm pequenos negócios imigrantes, sobretudo asiáticos. Mas não quero, não posso, deixar de sublinhar aqui que julgo inadmissível numa democracia aquela operação, nos termos e na forma que assumiu – e neste domínio, como na arte, a forma também é conteúdo…

Foi, para mim, “chocante”. Mas não só, não tanto, visualmente, no sentido em que Luís Montenegro usou a palavra, antes sobretudo pelo que foi em si mesma, pelo que encarnou e representa do espírito e da orientação na sua base, de que o visual deu expressiva imagem. Ora, se a PSP pode ter sido responsável pela “forma” da execução, tal espírito e orientação são da óbvia responsabilidade do Governo.

2. O primeiro-ministro afirmou ter ficado “atónito” com as reações condenatórias da operação. Eu fiquei “atónito” (pelo menos admirado, desgostoso) com tal reação de Montenegro. E com as reações de alguns integrantes ou apoiantes do atual Governo, de quem esperava outra atitude, não a acrítica e conivente posição que tomaram.

Sem nenhuma circunstância ou sequer simples suspeita concreta que o impusesse, parar/paralisar, encostar à parede de mãos no ar, revistar, dezenas e dezenas de cidadãos que num dia normal de trabalho estavam ou passavam numa rua, onde nenhum incidente se verificara, é mal e é mau; fazê-lo com tal aparato bélico, com uma numerosa força policial equipada como se fossem combater uma guerrilha urbana, é, repito, inadmissível.

3. Pelo que li da queixa apresentada na provedoria de Justiça, estou de inteiro de acordo com ela. Por óbvias razões penso que esta intervenção policial, no local e nos moldes em que ocorreu, é suscetível de ser interpretada como indiciando: a) possíveis preconceitos racistas ou anti-imigrantes; b) uma intenção política, por parte de quem promove este tipo de intervenção, de conquistar eleitorado do Chega.

Ora, este compreensível e positivo objetivo não é assim que se consegue, pelo contrário. Como já se viu: o Chega considera tratar-se de uma vitória sua (que de certa forma é…) e cavalga-a, avançando sempre no pior sentido. Assim, já depois da ofensiva policial na Rua do Benformoso, anunciou que vai agendar um “debate de urgência” sobre segurança no Parlamento e André Ventura pediu ao Presidente da República uma reunião do Conselho de Estado sobre o mesmo tema!

4. Se isto não bastar para quem não o percebeu antes perceber agora a quem servem e para que servem estas “operações”, estaremos cada vez pior. Até porque se o governo e o PSD as justificam para combater uma efetiva ou alegada “perceção de insegurança” – num país dos mais seguros do mundo… –, também aqui o efeito é exatamente o contrário.

O que me parece muito preocupante pela falta de visão, se não de senso comum, que em meu juízo isso demonstra. De facto, creio ser de meridiana clareza que ver uma rua, na área central de uma grande cidade, ocupada por polícias fortemente armados, e um grande número de cidadãos encostados a uma parede a serem sujeitos ao que se sabe, só pode levar a concluir-se tratar-se de uma cidade insegura, com perigosos gangs e alta criminalidade – não o inverso. 

Se há segurança, para quê uma operação destas? Já alguém viu uma “cena” semelhante onde essa segurança existe, como nos países nórdicos? Imagens como as da Rua do Benformoso, ou ainda com mais polícias e armas pesadas, veem-se em operações, por exemplo, nas favelas do Rio de Janeiro. Isso quer dizer que as favelas são seguras? As imagens dessas operações transmitem uma ideia ou perceção de segurança?… Não percebo como se pode defender a tese do Governo e adjacentes a este propósito. Defendê-la é ver o filme ao contrário, ver o filme do lado do bandido…

Creio ser praticamente consensual que para combater a insegurança ou (errada) perceção dela, deve ter um papel importante a polícia, mas através, sim, do “policiamento de proximidade”. Que é o avesso do agora feito, porque se caracteriza não por ações estentóreas, ineficazes e que só aumentam o antagonismo entre polícia e comunidades, mas pela aproximação às comunidades e pela colaboração com elas, inclusive no plano social. Visando, além do mais, prevenir os crimes.

À MARGEM

O Presidente e os jornalistas

Uma vez mais o Presidente da República esteve, e falou, na entrega dos prémios do Clube dos Jornalistas, creio que os mais prestigiados do País. E, como sempre, sublinhou a relevância, ou mesmo indispensabilidade, da comunicação social, de uma boa comunicação social, livre e independente, para a democracia.

Ora, estes prémios são também importantes, em especial agora, para mostrar que ainda há bons trabalhos jornalísticos, apesar de os média em geral atravessarem uma crise grave, e de em parte deles haver uma notória falta de qualidade e rigor.

De lamentar é que – reflexo dos males que os afetam? – bastantes média minimizem, até ignorem, esses prémios e o que eles significam. Ao contrário, justamente, de Marcelo Rebelo de Sousa.

A Conservação da Natureza (CN) em Portugal é sinónimo de proibição. Ao fim de décadas, o conceito e a prática de CN são tão retrógrados e arcaicos que nos afastam da Natureza e de tudo o que esta tem de bom para nos oferecer. Estranhamente, a Natureza por cá não é uma mais-valia, é uma limitação. Em Portugal não é bom viver num Parque Natural, os constrangimentos são tantos que fazem com que os portugueses estejam de costas voltadas para tudo o que tem a ver com a Natureza. Todos tememos que haja um valor natural que nos impeça tudo e mais alguma coisa.

Com um património natural ímpar na Europa, o País desperdiça, individual e coletivamente, o enorme valor deste capital natural. O Estado, acompanhado de uma ação ecologista muito limitada e ideologicamente amarrada a preconceitos, com grande carência de meios, não consegue promover uma Natureza viva e vivida. “Viva”, como um ecossistema são e equilibrado; “vivida”, porque usufruída. Isto é, qualquer coisa como um rio onde se possa nadar e pescar e uma floresta ou montanha onde se possa passear, caminhar, acampar ou viver. É por isto, e algo mais, que qualquer cidadão ou promotor de bem foge do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, como o diabo da cruz. Muito raramente saímos da prática do “proibir para não estragar”. Segundo a cultura vigente, a Natureza é para ser conservada de forma quase intocável, mantida quase num despovoamento total, ser vista ao longe ou num qualquer ecrã. É urgente inverter esta situação, a expressão “conservação” tem de ir muito além do proibido, tem de proteger, valorizar, diversificar, promover, etc.

Há uns anos, tive o privilégio de atravessar a pé grande parte da Escócia. Lá, o urbano e a Natureza confundem-se. O campo, a floresta, os rios e os lagos entram pelas cidades, vilas e aldeias. A harmonia é quase perfeita e chega a provocar inveja. Por tudo isto, é impossível a um escocês ignorar o meio natural; ele vive na Natureza, apesar de a biodiversidade ser miserável quando comparada com a nossa. Esta faz parte do seu modo de vida e qualquer pessoa, por muito distraída que seja, sente isso e vive-o.

O corpo nacional de “guardas-florestais”, que lá existe, promove um enorme conjunto de atividades na floresta, dirigidas a todos os públicos, que visam ensinar, viver, educar e valorizar o meio natural. Na verdade, uma das notas mais impressionantes desta experiência foi compreender como este simpático povo vive o campo. Tudo é pretexto para ir ao campo e usufruir do campo. Acresce o perfeito papel e a integração de cada parte, pública e privada, que se sente e percebe em cada situação. É tão simples e claro que fica fácil e é bom para todos, como não pode deixar de ser.

Logo no aeroporto, como todos os viajantes, fui explicitamente convidado a ler o Scotland’s Outdoors Responsibly, que se resume em três significativos e simples tópicos: é responsável pelos seus atos e ações; respeite as outras pessoas; cuidado com a Natureza. Mais não é preciso, a Natureza é viva e vivida e essa é a melhor garantia de conservação e valorização dos ecossistemas. Por cá é exatamente o contrário de tudo isto. Alguém me comentou um dia: “Porque cá há portugueses e não escoceses…”

Na verdade, a gestão que o nosso país faz do seu enorme património natural é estúpida porque a ninguém aproveita, tão-pouco a própria Natureza.  Em Portugal é proibido acampar no campo, só é legal acampar em parques de campismo que na generalidade são réplicas das cidades onde vivemos, com supermercados, restaurante, zonas ajardinadas, piscina, etc. É imaginável algo mais absurdo e caricato?

Tudo isto acontece no País que diz apostar fortemente no turismo, que tem o principal aeroporto no centro da capital e o do Algarve numa Reserva Natural. Somos o mesmo país onde é possível o abate de milhares de hectares de preciosas árvores para espalhar parques solares.

Educar e responsabilizar os portugueses pelos seus atos na Natureza é incontornável, proibir, porque sim, é atraso. Às vezes basta um pouco de bom senso.

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Nos finais de 1988, farto das rasteiras dos barões do seu próprio partido, Vítor Constâncio bateu com a porta e demitiu-se de secretário-geral dos socialistas. Para memória futura, bradou: “Não tenho generais!” Referia-se o malogrado líder do PS à falta de nomes que aceitassem avançar, em Lisboa, para uma candidatura autárquica à capital, em 1989. O último a dar-lhe a nega fora António Guterres, que desejava tudo menos afundar-se numa guerra considerada perdida, hipotecando as suas hipóteses de, um dia (o mais cedo possível) ficar com o lugar de Constâncio. Nessa altura, o PS era a terceira força, na capital, atrás da AD – a câmara era liderada pelo centrista Nuno Krus Abecasis – e do fortíssimo PCP, representado, na vereação, por, entre outros “históricos”, o cabeça de fila Rui Godinho. Uma candidatura à capital era, pois, uma jogada de alto risco. E o único interessado, não pela perspetiva de vitória, mas pelos ganhos de notoriedade, era o (então) pouco credenciado filho do Presidente da República, João Soares. Mas, à época, Soares júnior, longe de ser considerado um “general”, não passava de um fogoso “tenente”. Acontece que a CML era crucial para a afirmação de uma nova liderança que não via outra forma de furar a pujante hegemonia da maioria absoluta cavaquista. Pouco depois, já em 1989, o sucessor de Constâncio, Jorge Sampaio, enfrentou o mesmo problema: falta de “generais”. Uma bela manhã, fazendo a barba, vendo-se ao espelho, encontrou o candidato ideal: “Naturalmente, sou eu próprio!” – palavras que repetiria na apresentação da candidatura. O resto foi o que sabemos.

Acontece que, embora os paralelos só muito dificilmente possam ser encontrados (a começar pela ausência de uma maioria absoluta intransponível…), ainda há quem os encontre. Num inesperado artigo, publicado no Público, esta terça-feira, 7, o ex-ministro da Cultura do último governo de António Costa, Pedro Adão e Silva, titula: “E se Pedro Nuno Santos concorrer a Lisboa?” No desenvolvimento do raciocínio, Adão e Silva nota que “a curtos nove meses das autárquicas, o caso de Lisboa permanece um mistério”, que Carlos Moedas “não tem um único projeto mobilizador” e vê contra si “a deterioração dos principais problemas da cidade” e que, apesar disso, “o PS continua a não apresentar um candidato”, custando a compreender “um impasse que diminui a capacidade de fazer oposição e limita a afirmação de um projeto alternativo”. O autor sustenta que, ao contrário do que acontecia em 1989, não faltam generais ao líder do PS e que este atraso apenas pode justificar-se pelo facto de o próprio Pedro Nuno estar a ponderar uma candidatura. Diz o antigo ministro de Costa: “Como aconteceu com Sampaio em 1989, se tivermos uma legislatura de quatro anos, caso Pedro Nuno Santos se candidatasse a Lisboa e vencesse, teria apenas dois anos até ser candidato a primeiro-ministro.” Sabemos o que aconteceu a Sampaio, em 1991: perdeu, com estrépito, as eleições legislativas, concedendo a Cavaco o reforço da sua maioria absoluta. Não é por aí, portanto. Na verdade, o que faz hesitar Pedro Nuno em aprovar um candidato é mesmo isso: a falta de generais. Ganhar as autárquicas, em geral, e, em particular, Lisboa, será crucial para a sua afirmação. Terá, pois, de acertar em cheio. Mas quem? Independentemente dos desenvolvimentos – Pedro Nuno desmentiu, imediatamente, qualquer intenção de se candidatar a Lisboa –, alguns dos nomes de que se fala, Alexandra Leitão, Mariana Vieira da Silva, outros, não são bem generais, talvez não passem de “majores”. E o único capaz de aspirar ao generalato, Duarte Cordeiro, impôs-se a si próprio uma travessia do deserto, sendo que pode deparar-se com o mesmo dilema de Guterres, em 1989: se perder em Lisboa, ficará hipotecada a sua ambição de ocupar, um dia, a cadeira que agora pertence a Pedro Nuno. O dilema do líder é excruciante: vai ele a Lisboa, perde e demite-se? Ganha e afirma a liderança (mas perde foco, como Sampaio, na função de líder da oposição)? Ou vai um outro que, a vencer, adquire – como é inevitável que aconteça em Lisboa – protagonismo suficiente para se constituir como uma alternativa interna? Partilhando com o Sampaio de 1989 a necessidade absoluta de reconquistar Lisboa, mas sem correr o risco de lançar uma criatura que venha a engolir o criador, resta a Pedro Nuno Santos considerar o desafio de Pedro Adão e Silva, mesmo que lhe pareça um conselho envenenado. Ou então, perdido por um, perdido por mil, desafiar o desafiante para se candidatar ele.

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Fosse eu muito otimista e estivesse completamente alheado do atual estado das coisas e diria que o cocktail de chico-espertice, ignorância, jogatana politiqueira e incompetência comunicacional que foi a atuação do Governo na nomeação falhada de Hélder Rosalino tinha servido para colocar no debate público a questão dos salários dos políticos e dos altos dirigentes da administração pública.

Sei, porém, que a discussão vai ficar pela politiquice e pela mesquinhez. O foco será apenas o pequeno ganho politiqueiro e, claro, o tema dos salários será olimpicamente ignorado. Diz que não dá votos. Continuem assim que cada vez menos tempo falta para nem termos sequer votações.

No mesmo sentido, não admira que o assunto não seja falado nem comece a ser resolvido: são os nossos políticos os executantes desta política que tem afastado bons profissionais de carreiras ligadas ao Estado.

Convenhamos, os populistas estão a fazer um excelente trabalho. O seu sucesso na corrosão das principais instituições democráticas é inegável. Mas houve quem lhes tenha irresponsável e criminosamente aberto o caminho.

Não foi o Ventura e as suas réplicas que conseguiram afastar os nossos melhores das tarefas de defesa do bem comum.

Um homem ou uma mulher que vai para ministro, secretário de Estado, presidente da câmara ou vereador não o faz apenas pelo salário. Há em muita gente o desejo de servir o próximo, de contribuir para uma comunidade que funcione melhor, que seja mais justa, que traga mais prosperidade a todos. Sabe que muito provavelmente ganharia bem mais na atividade privada e sem os problemas que a exposição pública traz. Mas há limites.

Não é lógico, não é defensável, não é sequer digno que um presidente da câmara de uma cidade como Lisboa ou Porto leve para casa cerca de 3 000 euros e ministros pouco mais do que isso.

Alguém com este tipo de responsabilidades é pago como um quadro médio de uma empresa. E acrescem a este salário indigno para as funções as incompatibilidades que não vão permitir-lhe trabalhar naquilo para que foi treinado e o epíteto de gatuno mal entre no ministério ou na câmara municipal.

É verdade que estes salários podem parecer elevados num país onde se ganha tão mal, mas é exatamente para que Portugal evolua que temos de pagar bem a quem dirige o País e a máquina do Estado. Não é degradando mais a classe política e a administração pública que vamos evoluir.

Pois claro, temos muitos boys das máquinas partidárias. Ah, pois, não falta gente em altos cargos políticos que não arranjaria emprego em mais lado nenhum. Claro, um primeiro-ministro só consegue um ministro à quarta ou quinta tentativa.

Lamento, não foi o Ventura que inventou isto nem que fez com que chegássemos a este ponto. Fomos nós como comunidade que fizemos a sementeira que agora ele está a colher. Fomos nós que aplaudimos os políticos que se armavam em muito sérios quando cortavam nos seus próprios salários e replicavam a conversa de “os políticos são todos uns ladrões”.

Também não foram os novos populistas que inventaram o discurso de que quem trabalha para o Estado é tudo um bando de preguiçosos que só lá estão para não deixar o País prosperar e atrasar quem quer trabalhar. Não foram eles que levaram à situação em que um diretor-geral de departamentos públicos essenciais ao funcionamento da comunidade ganhe 5 000 euros brutos. Não foram eles que fizeram com que os salários da esmagadora maioria dos funcionários da administração pública não sejam minimamente competitivos com os do setor privado.

Não foram eles que desprestigiaram as carreiras na função pública, que fizeram com que um jovem ambicioso no início de carreira queira ir para todo o lado menos trabalhar para o bem-comum.

Fomos nós que levámos a que quando um departamento público queira um bom advogado, um bom economista, um bom eletricista, tenha de o contratar fora do Estado, pagando muito mais porque não tem suficientes profissionais competentes.

Fomos nós que embarcámos na conversa dos funcionários públicos a mais sem que soubéssemos perguntar se de facto era verdade ou se havia a mais nuns lados e a menos noutros.

Não tenho a mínima dúvida de que a administração pública funciona mal e que a burocracia emperra o funcionamento das empresas e da própria economia. Mas de quem é a culpa? Não será também ou mesmo sobretudo de quem ajuda a que o Estado não tenha melhores profissionais? De quem não tem outro discurso político que não seja que é preciso cortar no Estado? De quem fez de facto tudo para que não funcionasse?

Estamos a pagar um preço altíssimo por não fazermos o suficiente por trazer os melhores, ou, pelo menos, mais gente competente, para cargos políticos e para a administração pública. Esta degradação foi péssima para o funcionamento eficiente da comunidade, mas está agora a ter uma consequência ainda pior: a contribuir para o discurso populista antidemocrático. E, repito, fomos nós que decisivamente ajudámos a criá-lo.

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