Recuemos no tempo, até 2012, para lembrar uma menina que, no Paquistão, escapou à morte às mãos de um talibã no trajeto entre a escola e a sua casa: Malala Yousafzai. Naquele dia, Malala foi baleada. Porém, e mais do que simbolicamente, aquela bala atingiu-nos a todos enquanto Humanidade.

Tudo quanto essa barbaridade encerra transporta um peso que nos impele ao questionamento sobre o estado a que os Direitos Humanos chegaram um pouco por todo o globo. Ali se atacou a vida de cada ser humano, de cada criança e de cada mulher. Ali se feriu o direito à igualdade, à educação, ao acesso ao conhecimento, bem como o direito a um futuro melhor e mais consciente que só a formação num clima de paz nos pode dar.

Passaram já 48 anos desde que a ONU reconheceu o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, todavia, o caminho a percorrer até se alcançar uma verdadeira justiça em matéria de igualdade de género afigura-se ainda difícil em muitas latitudes, incluindo em diversas sociedades democráticas.

São múltiplos os exemplos de atrocidades que estão a acontecer neste preciso momento. Recuando apenas até ao início deste ano de 2025, as Nações Unidas destacaram já variadíssimas situações de recuo ou de perigo iminente em matéria de Direitos Humanos e de Direitos das Mulheres em particular. Os casos são múltiplos, impactantes e que não se esgotam minimamente nos seguintes exemplos.

Na Ucrânia, desde o início da guerra, foram já assassinadas mais de 3799 mulheres e 289 meninas, sendo que 1,8 milhão de mulheres se encontram forçadamente deslocadas no país e 6,7 milhões precisam de ajuda humanitária, tendo aumentado assustadoramente os níveis de depressão.

Em mensagem recente, à margem do Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina (dia 6 de fevereiro), o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para o facto de, pelo menos, em 92 países a mutilação genital feminina continuar presente, gerando uma profunda brutalidade contra a igualdade de género, com danos físicos e mentais profundos, para além dos inerentes riscos de saúde que podem levar à morte, estimando-se que 27 milhões de meninas estejam em risco até 2030. Na República Democrática do Congo, a intensificação dos combates entre as forças do governo e os rebeldes do grupo armado M23 tem originado diversos ataques a civis com a prática de atos de violência sexual que incluem muitas dezenas de violações, violações em grupo e casos de escravidão sexual. No Afeganistão, após a perseguição brutal encetada pelo regime talibã às juízas afegãs, prosseguiram as perseguições com base no género, privando-se as mulheres do acesso a empregos, educação e de frequentar espaços públicos. Nessa sequência, e pela primeira vez, e numa decisão histórica, o Tribunal Penal Internacional emitiu mandados de detenção contra as lideranças dos Talibã.

Mas, para além destes exemplos mais chocantes, a verdade é que a questão os direitos das mulheres, da igualdade de género e da não discriminação continua premente e atinge também as sociedades modernas e ocidentais, baseadas constitucionalmente em pilares democráticos e no Estado de Direito.

Afigura-se muito preocupante que, no ano de 2024, em 31 eleições presenciais diretas realizadas em todo o mundo, apenas cinco mulheres (na Moldávia, México, Islândia, Namíbia e Macedónia do Norte) se tenham tornado presidentes, sendo que a representação parlamentar feminina é genericamente baixa um pouco por todo o mundo, apenas se registando níveis iguais ou superiores a 50% em seis países (Ruanda, Cuba, Nicarágua, Andorra, México, Nova Zelândia e Emirados Árabes Unidos).

Num ano em que se assinalam 30 anos sobre a Plataforma de Ação de Pequim, (adotada, em 1995, na 4ª Conferência Mundial da ONU sobre as Mulheres, e em que 189 países instituíram uma nova forma de pensar as políticas de igualdade), o que se constata é que, ao ritmo atual, a igualdade de género nos mais altos cargos políticos só será alcançada daqui a 130 anos. Trata-se de uma conclusão da própria ONU e que nos deve encher de preocupação quanto ao futuro que seremos capazes de deixar para as jovens e meninas de que muitos de nós são pais.

Portugal não pode deixar de estar alerta para esta realidade, impondo-se a prossecução séria de medidas de defesa dos Direitos Humanos, salientando-se, quanto à igualdade de género, a necessidade de um reforço da legislação em matéria de não discriminação salarial, de promoção de igualdade no acesso à educação e à cultura, de melhoria de acesso à Justiça por parte das vítimas, de criação de políticas mais assertivas de conciliação entre o trabalho e vida familiar, bem como de reforço dos direitos parentais, ao que deve acrescer a efetivação de políticas de maior inclusão e de criação de oportunidades para grupos vulneráveis.

No nosso país são ainda pontuais os casos de mulheres que acedem a cargos de destaque em matéria de liderança, designadamente no âmbito dos cargos executivos ou políticos e ao nível das posições de destaque no âmbito das magistraturas. Num contexto global particularmente conturbado, o dia 8 de março apresenta-se, assim, como um dia de importância reforçada, como um dia de alerta que nos convoca para uma vigilância ativa em prol dos direitos das mulheres e das meninas, em prol dos Direitos Humanos e em defesa das nossas conquistas civilizacionais que, mesmo nas melhores democracias, não estão consolidadas em absoluto.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

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Nas últimas décadas, vários estudos associaram o consumo de “fast food” ao aumento do risco de obesidade e, a longo prazo, ao desenvolvimento de doenças metabólicas e cardiovasculares. Agora, um recente estudo realizado por uma equipa de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) sugere que o consumo de apenas uma refeição de “fast food”- rica em açúcares e gorduras saturadas, mas pobre em fibras – pode ter um impacto negativo imediato no sistema nervoso e resultar num aumento do stress e da inflamação das vias respiratórias.

Para a investigação, publicada recentemente na revista Nutrients, os investigadores compararam os efeitos que uma refeição saudável – com base na dieta mediterrânica – tem nas vias respiratórias e no sistema nervoso autónomo (que regula a resposta ao stress e outros processos fisiológicos) com os de uma refeição de “fast food” – rica em açúcar e gordura. Ambas as refeições possuíam o mesmo valor calórico – cerca de 1.000 calorias – mas valores nutricionais, e porções, diferentes.

De acordo com as conclusões do estudo, as consequências da ingestão de uma única refeição de comida rápida são imediatas, tendo sido possível verificar um aumento dos níveis de stress e uma tendência para uma maior inflamação das vias respiratórias. “O nosso estudo mostra que uma única refeição é capaz de induzir uma resposta rápida do sistema nervoso e de influenciar imediatamente o nosso bem-estar e a nossa saúde”, explicou Diana Silva, investigadora da FMUP e principal autora do estudo.

Por outro lado, um prato de comida saudável teve um “efeito protetor instantâneo” do sistema nervoso. “O sistema nervoso autónomo reage de forma diferente a uma refeição mediterrânica ou à fast food, com as mesmas quilocalorias. A refeição mediterrânica induz uma maior resposta do sistema nervoso parassimpático, protegendo do stress. Pelo contrário, a fast food ativa sobretudo o sistema nervoso simpático, mais ligado ao stress”, refere um comunicado da Universidade.

Uma colaboração da Faculdade de Ciências de Nutrição e Alimentação (FCNAUP) e da Faculdade de Desporto (FADEUP) da Universidade do Porto, o ensaio clínico contou com 46 voluntários – com idades entre os 18 e os 35 anos – e incluiu pessoas saudáveis, com excesso de peso/obesidade e com asma. A resposta do sistema nervoso dos voluntários foi medida através de pupilometria – a resposta da pupila à luz, que dilata quando “há uma ativação do sistema nervoso simpático, nomeadamente em situações de stress”, referiu a especialista. Segundo a investigadora, a ativação do sistema nervoso simpático à ingestão de comida rápida é uma resposta involuntária do organismo, que surge em situações de perigo ou ameaça.

Os participantes foram ainda submetidos a testes de espirometria, que mediram a função respiratória dos participantes e a resposta inflamatória das vias aéreas, antes e após cada refeição. Através desta análise foi possível verificar uma tendência para uma maior inflamação com a ingestão de “fast food”.

Numa era marcada pelo rápido crescimento do mercado dos automóveis elétricos, as baterias destacam-se como um dos componentes mais cruciais e existem vários compostos de baterias. Agora, a empresa britânica Integrals Power revelou um avanço significativo na tecnologia de baterias para veículos elétricos, prometendo aumentar a autonomia e a eficiência das baterias até 20%. O novo material, apelidado de catódico de fosfato de ferro-lítio-manganês (LMFP), desenvolvido pela empresa foi validado em testes conduzidos pela QinetiQ, uma entidade global de investigação e testes.

“Estou entusiasmado por anunciar que a QinetiQ validou o desempenho do material catódico LMFP (constituído em 80% por manganês) para células de bateria comerciais”, afirmou Behnam Hormozi, diretor executivo (CEO) e fundador da Integrals Power.

A validação revelou que as células LMFP retêm 99% da capacidade original a uma taxa de descarga de 2C (30 minutos de descarga), 95% a 5C (12 minutos) e ainda 60% num extremo de 10C (6 minutos), de acordo com o site Interesting Engineering.

“Validado em taxas de descarga até 10C, os testes mostram que o material LMFP manteve 92% da capacidade original a 5C e 99% a 2C. Mesmo a 10C, muito acima dos cenários de utilização realistas, a retenção foi de 60%”, destacou Behnam Hormozi.

O que significa o “C”?

No contexto das baterias, a taxa de descarga (C) refere-se à rapidez com que a bateria é descarregada em relação à sua capacidade total. Uma taxa de descarga de 1C significa que a bateria se descarrega completamente em uma hora. No caso de 2C, a descarga ocorre em 30 minutos, enquanto 5C representa uma descarga em 12 minutos e 10C num tempo extremamente curto de 6 minutos. Isto é fundamental para veículos elétricos e outras aplicações de alta potência, pois permite que a bateria forneça rapidamente energia sem perder demasiada capacidade ou comprometer a eficiência.

Por exemplo, se uma bateria tiver uma capacidade de 100 Ah (ampere-hora) e for descarregada a 1C, fornecerá 100A durante uma hora antes de se esgotar. Se a taxa for 2C, fornecerá 200A durante 30 minutos. Se for 10C, entregará 1000A em apenas seis minutos. Essa característica é essencial para veículos elétricos, garantindo melhor desempenho em acelerações e exigências de alta potência sem comprometer a autonomia.

Mais autonomia e menor custo

Segundo a Integrals Power, os testes confirmam que o novo material catódico de fosfato de ferro-lítio-manganês consegue aumentar a eficiência energética em até 20% face às baterias compostas por fosfato de ferro-lítio convencional. Podem também ser uma alternativa viável às baterias de níquel-cobalto-manganês (NCM), que têm um custo mais elevado e dependem de minerais críticos. A nova tecnologia promete baterias mais leves, acessíveis e sustentáveis.

“Este avanço permite que a nossa tecnologia LMFP combine elevado desempenho, longa autonomia e maior durabilidade, sem os altos custos e dependência de materiais críticos do NCM”, acrescentou Behnam Hormozi.

Atualmente, amostras do material LMFP estão a ser avaliadas por clientes das indústrias de armazenamento de energia e mobilidade elétrica. Este avanço pode ser um passo fundamental para o desenvolvimento de veículos elétricos com maior autonomia ou baterias mais compactas e acessíveis.

Aos vintes somos demasiado jovens e inexperientes. Aos quarentas expira-nos a validade profissional, social e pessoal – enquanto os homens são profissionalmente consumíveis até depois dos cinquentas, e desses para cima são socialmente “maduros”. Para a sociedade e as organizações, nós, mulheres, temos prazo de validade e chegados os 40, encaminham-nos para a prateleira dos consumíveis com cautela a preço promocional, e rapidamente se nos expiramos. Meus senhores de tenra-meia-e-toda-a-dade: em pleno séc. XXI, o que já está para lá do prazo de consumo é idadismo em geral, e o idadismo de género em particular. Como todos os estigmas sociais, este fascínio discriminatório com a eterna juventude, o último dos preconceitos de grande aceitação social, tem um impacto profundo na saúde mental das mulheres.

O idadismo e o género. O preconceito com a idade ganhou nome em 1969, quando o psiquiatra norte-americano Richard Butler chamou idadismo à “estereotipação sistémica e discriminação contra pessoas que são velhas”. Afirmou também que os seus colegas eram praticantes, considerando que os adultos mais velhos estão para lá da possibilidade de tratamento, oferecendo pior cuidado terapêutico, normalizando a depressão como parte normal do envelhecimento – toda uma sistémica desigualdade de “health status”, como reconheceu a Organização Mundial de Saúde em 2021, no seu “Global Report on Ageism”, que mostra às claras as características gerentofóbicas da sociedade: 1 em cada 2 adultos entre os 16 e 99 anos têm atitudes preconceituosas de idadismo, sendo o número maior na Europa.

Se isto já é mau quando pensamos no estigma etário, pior fica quando lhe damos género, interseccionando-se a discriminação – a que podem e acrescem outras, como o racial. Segundo a OMS, somos considerados idosos a partir dos 65 anos (nos países desenvolvidos; nos demais, depois dos 60). Mas em relação às mulheres, o mundo comporta-se como se lá chegássemos a partir dos 40, porque à idade se juntam séculos de relações sociais de género iníquas e a vinculação do valor e status das mulheres ao seu “capital estético”: a aparência, sendo a beleza standard e a juventude os “ativos” que dão acesso às oportunidades e ao sucesso. No trabalho, o problema é patente: 77,8% das mulheres sofrem discriminação por idadismo de género, 60% das quais depois dos 21 anos de carreira, de acordo com a “Women of Influence+” (num inquérito de 2024).

A ironia de tudo isto é que a esperança de vida continua a subir, a população portuguesa é das mais envelhecidas da UE, a longevidade é a grande “healthtrend” e a indústria já não pensa em “lifespan” mas em “healthspan”, e o “silver market” é o mais apetecível – ainda assim, aos 40+ desce em nós a capa da invisibilidade. Mais irónico ainda: em 2024, a nossa esperança média de vida global eram 76 anos, avançando pelos oitentas nos países desenvolvidos. Portanto, aos 40 vamos a meio da vida. Aos 50, com ou sem menopausa, temos mais de 30 anos pela frente. A biologia mudou, a sociologia mantém-se estática – e a nossa saúde mental deteriora-se.

Idadismo de género e saúde mental. Antes de introduzirmos o idadismo na equação, já a saúde mental das mulheres compara mal com a dos homens. Menos igualdade, menos saúde mental, disse a OMS em 2001, reconhecendo que os papéis sociais de género são a determinante que antecede a bioquímica: a nossa prevalência de depressão e ansiedade é 2x maior, o risco de burnout 34%, e a incidência de distúrbios alimentares galopante. Junta-se um larga pitada de idadismo, e aumenta o isolamento social, a solidão (uma “serial-killer” silenciosa), o risco de violência e abuso. A OMS, ao analisar 422 estudos sobre o tema, concluiu que o idadismo é um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças mentais. E se elas se desenvolvem: nos idos de 2015, associavam-se mais de 3 milhões de casos de depressão feminina ao idadismo – imagine-se em 2025, com redes sociais à mistura. A resposta das mulheres à gerentofobia alheia e ao seu autoestigma etário é de grande ansiedade. E tem uma tradução cosmético-estética de grande impacto na sua saúde mental, na batota à perceção da idade: o idadismo aumenta a incidência do transtorno dismórfico corporal, anorexia, abuso de substâncias e o declínio cognitivo.

Eu acabei de fazer 47 anos, e recuso rótulos de validade. As mulheres que nunca sentiram discriminação estavam desatentas, e portanto já experimentei essa ignóbil sensação muitas vezes. Não aspiro aos perpétuos 34 anos, identificados por arautos do preconceito como a idade ideal das mulheres, estou muito bem com a minha. Mas se somos metade da população mundial, ao menos pela quantidade temos de mudar a forma como se pensa, sente e age perante a idade – que a longevidade não discrimina, o Homem sim.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Estava no carro com o meu filho e eis que surge a pergunta (as crianças com as suas perguntas simples e inocentes, mas que nos fazem ponderar):

“Mãe, porque mudaste de trabalho? Tinhas um trabalho mais fácil e agora foste para um muito mais difícil”.

É uma pergunta que, de forma não tão simples, me é feita muitas vezes. Respondo sempre da mesma forma, superficial:

“Bem, estava à procura de algo que me desafiasse mentalmente e de um pouco mais de estabilidade”. Mas a resposta, na realidade, não é assim tão simples.

Eu trabalhava na área da estética, como esteticista. Um entre outros títulos, vindos de formações nessa área que fui fazendo ao longo do tempo. Ao contrário que se pensa, esta não é uma profissão fácil, tem os seus desafios e determina uma procura constante de formação, para se manter atual no mercado.

Lembro-me como se fosse ontem: estava sentada com uma cliente e, naquela altura, muito se falava numa grande crise que iria afetar imenso as nossas vidas, iria fazer com que repensássemos o nosso estilo de vida (e, consequentemente, os nossos gastos), e em como iria afetar a nossa profissão. Inevitavelmente, na minha cabeça começaram a surgir as lembranças da época do confinamento… assustadoras.

O meu conflito não surgiu apenas do medo e da incerteza do que viria para nós nesta altura, mas também de dois outros motivos: o facto de o trabalho na área da beleza por vezes não nos permitir estar presentes na vida pessoal, algo que para mim é importante, e também um desejo que sentia, quase que como um chamado para algo que me desafiasse mais e num outro sentido.

Tudo junto foi a virada da chave.

Procurei por formações na área e inscrevi-me num curso de Gestão de Redes e Sistemas Informáticos. Tive medo, sim, e dúvidas sobre deixar a minha área e tudo o que daí viria, não vou mentir, mas fui.

Posso dizer que mudou a minha vida.

Houve apoio das pessoas à minha volta – mas também houve questionamento – “Mas porquê? Não tem nada a ver com a área em que estavas. Se calhar não é bem para ti, mas tu é que sabes.” Estas e outras questões que me faziam ponderar, mas motivavam-me ainda mais, porque nós não somos só uma coisa – uma pessoa tem várias “vertentes”, vários gostos e também tem o direito de mudar para o que ela quiser. Faz parte da experiência humana.

Depois, porque o que os outros acham não nos define.

O curso em si foi muito desafiante, porque apesar de gostar da área, “pôr as mãos na massa” e aprender a sério é muito diferente. Fomos avisados do nível de exigência, desde o início, mas ouvir e passar por isso são coisas distintas. Confesso que houve alturas em que não estive tão confiante, mas desistir, para mim, não era opção.

Aprendi muito, sou muito grata pelos nossos formadores e com apoio, tanto deles, como dos colegas de curso, consegui terminar.

Após este passo, estagiei na empresa Syone, que foi o melhor que me poderia ter acontecido. Adorei a experiência! Poder estar com pessoas incríveis de várias áreas no mundo da tecnologia só me incentivou ainda mais. Ter acesso a vários tipos formação, lidar com diferentes sistemas na prática, dar assistência, fazer parte da rotina da empresa… Senti que era desafiada a crescer e valorizada tanto como pessoa como enquanto profissional, mesmo sendo estagiária. Toda esta experiência só me deu mais confiança para seguir em frente. Após o estágio, fiquei a tempo inteiro na empresa, enquanto consultora, inserida num projeto de migração de sistemas de monitorização, onde aprendi muito. Sinto que este passo abriu mais uma porta para uma evolução e integração, para atualmente fazer parte dessa mesma equipa.

Mas nem tudo são rosas e acho que é importante ser realista. Houve altos e baixos, e às vezes tive dúvidas se teria seguido o melhor percurso – por vezes a Síndrome do Impostor ataca – mas gostaria de salientar que ter ao nosso lado pessoas que nos apoiam e que já passaram pelo mesmo faz com que o processo seja mais fácil.

Portanto, a todas as mulheres que gostariam de apostar no mundo da Tecnologia e têm receio, deixo o meu testemunho. Se é o que querem, não tenham medo! Ouvi várias vezes durante o curso que esta é uma área dominada por homens e que, talvez por isso, nos fosse dificil vingar na área. Não entendo esse tipo de mentalidade. Interajo diariamente com muitas mulheres que são profissionais incríveis. Umas são mães, outras não, de todas as idades, personalidades, de tudo – a seguirem esta profissão e a serem tudo o que elas quiserem! Há um ano tinha terminado o estágio e fui integrada na empresa, e hoje, estou prestes a ocupar o cargo de Manager. Tudo é possível para nós!

É preciso equilíbrio, claro, e o facto de esta profissão permitir trabalhar em regime híbrido contribui para que consiga organizar-me de forma diferente do passado, o que acaba por me facilitar, também a vida pessoal, e isso é ótimo.

Apesar de (ainda) ser uma área dominada pelos homens, é notório que cada vez mais mulheres estão a escolher esta área e acredito que, em breve, esta será mais equilibrada em termos de género. O caminho faz-se caminhando, acreditem. Sem medo, porque para além de termos de ter confiança nas nossas capacidades, vai sempre haver mais pessoas a torcer pelo vosso sucesso do que contra ele.

Foi na sua rede social, a TruthSocial, que o Presidente dos Estados Unidos avisou esta sexta-feira que está a ponderar a imposição de sanções “em grande escala” contra a Rússia para forçar negociações diretas com a Ucrânia que conduzam a um cessar-fogo.

“À luz do facto de a Rússia estar absolutamente a martelar a Ucrânia no campo de batalha, estou a considerar sanções bancárias em grande escala, sanções e tarifas contra a Rússia até que sejam declarados um cessar-fogo e um acordo de paz final”, escreveu.

“À Rússia e à Ucrânia: venham já para a mesa das negociações, antes que seja demasiado tarde”, concluiu.

“Acho que se o PS vier declarar que reconhece ao Governo condições para executar o seu programa, se declarar que se considera satisfeito com os esclarecimentos dados e que retira a comissão parlamentar de inquérito, acho que há condições para a moção de confiança poder ser retirada”, afirmou Manuel Castro Almeida, em entrevista ao Observador.

O ministro Adjunto e da Coesão Territorial sublinhou que “desde o princípio”, o Governo tem dito que não quer “levar o País para eleições e que as eleições são absolutamente indesejáveis”. “Será um mal necessário se não houver da parte do PS a formulação de que há condições para que o Governo cumpra o seu programa”, acrescentou.

Segundo Manuel Castro Almeida, o Executivo “ou tem condições para executar o seu programa, tomar medidas, continuar a reformar o País, ou não vale a pena”.

“Será a contragosto que vamos para eleições. Mas quem as provoca de facto é o PS”, defendeu, considerando que se os socialistas quiserem evitar a antecipação das legislativas, podem fazê-lo, bastando absterem-se na votação da moção de confiança, em vez de votarem contra, como já foi anunciado pelo secretário-geral do PS.

O governante assinalou que o PS não viabilizou as moções de censura apresentadas por Chega e PCP e acusou os socialistas de incoerência e “taticismo puro”.

Castro Almeida garantiu ainda que “todas as perguntas que foram colocadas por escrito serão respondidas antes da moção de confiança”.

A conhecida história da Branca de Neve está quase a chegar aos cinemas, mas agora com  imagens reais – misturadas com efeitos especiais. O filme original, em desenhos animados, estreou-se em 1937 e ainda hoje é um grande clássico da Disney, mas esta é uma versão diferente, com algumas novidades e muita música.

Rachel Zegler interpreta Branca de Neve e Gal Gadot, que noutro filme deu vida à Mulher-Maravilha, é a terrível Rainha Má. E claro que a história não ficaria completa se cá faltassem os fantásticos sete anões: Dengoso, Mestre, Dunga, Zangado, Feliz, Soneca e Atchim.

Gal Gadot interpreta a Rainha Má. © 2024 Disney Enterprises, Inc. All Rights Reserved.

Este musical é uma das estreias de cinema mais aguardadas de março e promete surpreender os fãs dos contos de fadas. Branca de Neve chega ao grande ecrã no dia 20 de março, mas tu podes ser dos primeiros a vê-lo, já no dia 16. Vê em baixo o que tens de fazer para ganhares convites duplos.

Como participar:

O passatempo é aberto a leitores entre os 6 e os 14 anos. Temos 10 convites duplos para a antestreia nos cinemas NOS NorteShopping, no dia 16 de março (domingo), às 11 horas. Para seres um dos vencedores, tens de nos dizer qual o nome das atrizes que interpretam Branca de Neve e a Rainha Má.

Envia-nos um e-mail com a tua resposta para vjunior@visao.pt. até 13 de março. Deverás dizer o teu nome completo, idade e cidade onde pretendes assistir ao filme.
As 10 primeiras respostas certas ganham, e os vencedores serão anunciados no dia 14, aqui no site.

NOTA: Se fores um dos vencedores, não te esqueças de levar o teu cartão de cidadão para apresentares na bilheteira para levantares o teu convite.

Rachel Zegler é Branca de Neve. Disney. © 2024 Disney Enterprises, Inc. All Rights Reserved.

O VOLT Live é um programa/podcast semanal sobre mobilidade elétrica feito em parceria com a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE).

Neste VOLT Live, episódio 96, comentamos os planos da União Europeia para a indústria automóvel, desde a criação de uma aliança para o desenvolvimento da condução autónoma ao apoio à investigação e desenvolvimento na área das baterias
Em Produto em Destaque falamos da experiência a bordo do Xiaomi SU7 Ultra e em Carrega Aqui revelamos mais hubs de carregamento rápido.

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Durante 400 mil anos, a Humanidade teve apenas a ajuda do fogo, da impetuosidade dos ventos e das torrentes, do seu ardor laborioso e dos seus cavalos para viajar, construir fortalezas e trabalhar os campos. Nesse mundo de energia rara e preciosa, os gestos eram lentos, o crescimento económico estava adormecido durante a maior parte do tempo, e todo o progresso era necessariamente singular. A História avançou frequentemente passo a passo.

Então, no século XIX, o Homem passou a utilizar em grande escala uma invenção: a máquina a vapor. Usou-a para estimular os teares mecânicos, propulsar as locomotivas e pôr a flutuar navios couraçados que rapidamente reinaram sobre os oceanos. A máquina a vapor desencadeou a primeira revolução industrial, que foi também a primeira transição energética da História. Uma transição que se apoiou na exploração de um combustível indispensável: uma pedra negra que se chama carvão.

Trabalheira É necessário purificar 1200 toneladas de rocha para se produzir, por exemplo, um quilo de lutécio

No século XX, o ser humano abandonou a máquina a vapor em detrimento de uma outra inovação: o motor de combustão interna (também chamado motor a gasolina). Esta tecnologia permitiu aumentar a potência dos veículos, dos navios, dos tanques e de novos aparelhos, os aviões, que tinham agora a capacidade e o poder de se elevar do solo. A segunda revolução industrial, para a qual contribuiu a primeira transição energética, também foi uma nova transição desse tipo, desta vez baseada na extração de outro recurso: um betume chamado petróleo.

Desde o princípio do século XXI, os seres humanos, preocupados com as alterações climáticas geradas pelos combustíveis fósseis, foram aperfeiçoando novas invenções, tidas como mais eficazes, mais limpas, e ligadas a redes de alta tensão ultraeficientes: as eólicas, os painéis solares, as baterias elétricas. Após a máquina a vapor e o motor térmico, essas ditas tecnologias “verdes” envolvem a Humanidade numa terceira revolução energética, industrial, que está em vias de transformar o nosso mundo. Tal como as duas revoluções precedentes, também esta se apoia num recurso essencial. Uma matéria de tal forma vital que os especialistas em energia, os profetas da tecnologia, os chefes de Estado e mesmo os estrategas militares já lhe chamam “the next oil”, o petróleo do século XXI. De que recurso se trata? O público em geral ignora-o.

É A ENERGIA ESTÚPIDOS!

Alterar a forma de produzir energia (e, desse modo, alterar os hábitos de consumo) é a nova grande aventura da Humanidade. Os responsáveis políticos, os empresários de Silicon Valley, os teóricos da “sobriedade feliz”, o Papa Francisco e as associações ecologistas apelam a uma só voz para que se concretize esse desiderato, para que se contenha o aquecimento global ‒ e para que possamos evitar um novo Dilúvio. É um projeto que une o mundo de uma forma que os impérios, as religiões e as moedas nunca conseguiram fazer. A prova disso foi o “primeiro acordo universal da nossa História”, segundo as palavras do antigo Presidente da República francesa, François Hollande; não se tratou de um acordo de paz, nem de comércio, nem destinado à regulação financeira: foi o Acordo de Paris, assinado em 2015 no seguimento da COP214, ou seja… um tratado sobre a energia!

No entanto, ainda que as tecnologias que utilizamos quotidianamente evoluam, a necessidade primária de recursos energéticos continua a existir. Ora, ninguém sabe verdadeiramente a resposta à pergunta sobre qual será a matéria-prima que irá substituir o petróleo e o carvão para que se possa abraçar um mundo novo e mais verde. Os nossos antepassados do século XIX sabiam da importância do carvão, e um homem culto do século XX não ignorava a necessidade do petróleo. No século XXI, nem sequer sabemos que um mundo mais durável depende, em grande parte, de substâncias rochosas a que se atribui a designação de “metais raros”.

Os seres humanos exploram, desde há muito, os metais principais que todos conhecemos: o ferro, o ouro, a prata, o cobre, o chumbo, o alumínio… Mas, desde a década de 1970, começámos a tirar partido das fabulosas propriedades magnéticas, catalíticas e óticas de uma miríade de pequenos metais raros contidos nas rochas terrestres em proporções muito menores. Essa grande família reúne primos excêntricos que possuem nomes com evocações enigmáticas: terras raras, vanádio, germânio, platinoides, tungsténio, antimónio, berílio, rénio, tântalo, nióbio… Estes metais raros formam um subconjunto coerente com cerca de 30 matérias-primas cujo ponto comum é estarem frequentemente associadas, na natureza, aos metais mais abundantes.

Como tudo aquilo que se extrai da natureza em doses ínfimas, os metais raros são uma espécie de concentrados dotados de propriedades fantásticas. Destilar um óleo essencial de flor de laranjeira é um processo longo e entediante, mas o perfume e os poderes terapêuticos de uma só gota desse elixir ainda espantam os investigadores. Produzir cocaína nos confins remotos da selva colombiana não é menos difícil, mas os efeitos psicotrópicos de um grama desse pó perturbam totalmente um sistema nervoso central.

Acontece a mesma coisa com os metais raros, ou muito raros… É necessário purificar 8,5 toneladas de rocha para produzir um quilo de vanádio, 16 toneladas para se obter um quilo de cério, 50 toneladas para conseguir o mesmo de gálio, e a quantidade incompreensível de 1200 toneladas para se poder obter um mísero quilo de um metal ainda mais raro, o lutécio. O resultado é, de certo modo, o próprio “princípio ativo” da crosta terrestre: um concentrado de átomos com propriedades inauditas, aquilo que milhares de milhões de anos de atividade geológica nos podem oferecer de melhor. Uma dose ínfima destes metais, uma vez industrializada, emite um campo magnético que permite produzir mais energia do que a mesma quantidade de carvão ou de petróleo. É nisso que reside a chave do “capitalismo verde”: substituímos recursos que emitem milhares de milhões de toneladas de gás carbónico por outros que não ardem ‒ e que, por esse motivo, não produzem um só grama de CO2.

A GUERRA DOS METAIS RAROS

A primeira edição desde livro vendeu mais de 100 mil exemplares. Agora, a obra de Guillaume Pitron (de que publicamos um dos capítulos), vai chegar a Portugal, numa edição revista e atualizada, sob a chancela da Livros Zigurate

Menos poluição e muito mais energia produzida, ao mesmo tempo. Não terá sido por acaso que um desses elementos recebeu o nome “promécio”, descoberto na década de 1940 pelo químico Charles Coryell. Foi a sua esposa, Grace Marie, quem sussurrou a designação ao marido, inspirada pelo mito grego de Prometeu. Ajudado pela deusa Atena, esse titã tinha, com efeito, entrado em segredo no domínio dos deuses, o Olimpo, para roubar o fogo sagrado… e oferecê-lo aos homens.

E esse nome diz muito sobre o poder prometeico que o Homem adquiriu ao dominar os metais raros. Tal como os demiurgos, multiplicamos as utilizações nos dois domínios que são os pilares essenciais da transição energética: as tecnologias a que chamamos “verdes” e o mundo digital. Porque, como atualmente nos explicam, é da convergência entre as green tech (tecnologias verdes) e a informática que vai nascer um mundo melhor. As primeiras (as eólicas, os painéis solares, os veículos elétricos), graças aos metais raros de que estão recheadas, produzem uma energia descarbonizada que circula por redes de eletricidade, ditas “ultraeficientes”, que permitem poupar energia. E essas redes são, por sua vez, conduzidas por tecnologias digitais, que também estão repletas desses metais. O norte‑americano Jeremy Rifkin, grande teórico desta transição energética e da terceira revolução industrial que a acompanha, vai mais longe. Segundo este autor, o cruzamento entre as tecnologias verdes e as novas tecnologias de informação e de comunicação (NTIC) já permite que cada um de nós produza e partilhe a sua própria eletricidade “verde”, em quantidade abundante e a baixo custo. Dito de outra forma, os telemóveis, os iPads e os computadores que utilizamos no nosso dia a dia tornaram‑se atores indispensáveis de um modelo económico mais respeitador do ambiente. As profecias de Rifkin são de tal forma excitantes que o autor tem atualmente a confiança de numerosos chefes de Estado e assessorou a região de Hauts-de-France na criação de novos modelos energéticos.

ADMIRÁVEL MUNDO VIRTUAL

Este tipo de intuições baseia-se no curso da História: em dez anos, a energia eólica produzida aumentou sete vezes, e a energia solar fotovoltaica, 44. Em 2020, as energias renováveis já representavam quase 15% do consumo final de energia em todo o mundo, e a Europa prevê, para si mesma, elevar essa parcela aos 32% até 2030! Mesmo as tecnologias que fazem uso de motores térmicos dependem desses metais, porque eles permitem conceber veículos e aviões mais eficientes e mais leves, ou seja, que consomem menos recursos fósseis.

Também os exércitos estão a passar por uma transição energética. Ou melhor, por uma transição estratégica. Estaríamos enganados se acreditássemos que os generais se preocupam realmente com as emissões de carbono provenientes dos seus arsenais. Mas, por outro lado, com o declínio das reservas de ouro negro, os estrategas devem antecipar cenários de guerra sem petróleo. Já em 2010, um poderoso grupo de reflexão norte-americano recomendava ao maior exército do mundo que procedesse a algumas alterações de modo a deixar de estar dependente de energias fósseis até 2040. Como é que se consegue alcançar tal objetivo? Recorrendo, nomeadamente, às energias renováveis e utilizando frotas de veículos elétricos, incluindo veículos táticos. A capacidade de libertação da dependência das energias fósseis eliminaria o pesadelo logístico que é fazer chegar os combustíveis às linhas da frente.

De resto, a guerra já penetrou em novos territórios, como os virtuais: deve dar-se atenção à proteção das infraestruturas digitais e das redes de comunicação, e desenvolver a capacidade de atingir as do inimigo. O conflito armado que opõe a Ucrânia à Rússia desde 24 de fevereiro de 2022 tem demonstrado a importância do digital, tanto no terreno como na vertente informativa da guerra. Tal como os generais, estamos assim envolvidos numa transição para um mundo desmaterializado, uma vez que, ao recorrermos ao digital, iremos substituir certos recursos por… nada ‒ simples clouds (ou “nuvens”), e-mails impalpáveis e tráfego na internet, em vez dos engarrafamentos de veículos. Esta digitalização da economia representaria a promessa de uma extraordinária diminuição da marca física do Homem sobre o mundo vivo. Estamos, assim, perante uma revolução energética e digital: estas duas famílias tecnológicas caminham de mãos dadas e contribuem para o surgimento de um mundo que nos é apresentado e prometido como sendo melhor.

Os metais raros alteram igualmente a condução das relações internacionais. Graças a eles, os diplomatas realizam atualmente uma transição geopolítica. Dizem-nos os analistas que a proporção crescente das novas energias descarbonizadas vai alterar as relações entre os Estados produtores e os Estados consumidores de recursos fósseis. Irá permitir que os Estados Unidos concentrem em outros palcos as armadas que hoje cruzam os estreitos de Ormuz e de Malaca, pelos quais transita uma parte considerável do petróleo mundial, e reavaliem a sua parceria com as petromonarquias do Golfo Pérsico. Além disso, ao tornar a União Europeia menos dependente dos hidrocarbonetos russos, cataris e sauditas, reforçará também a soberania energética dos seus membros.Por todas estas razões, pretende-se que a transição energética seja um processo otimista. A sua concretização não será fácil, pois o petróleo e o carvão ainda são muito relevantes, mas o mundo que desperta sob os nossos olhos dá-nos alguma esperança. A sobriedade energética atenuaria necessariamente as tensões relacionadas com a obtenção de recursos fósseis, criaria certamente emprego “verde” nos ramos industriais de excelência, e colocaria novamente os países ocidentais em posição de poderem disputar a dura batalha da competitividade. Pouco importa aquilo que tenham eventualmente pensado Donald Trump, Jair Bolsonaro ou os estrategas do Kremlin; esta transição é inevitável, porque se tornou um negócio que envolve enormes quantias e que atrai o conjunto dos atores económicos ‒ incluindo os grupos petrolíferos.

O início da transição energética remonta à década de 1980, na Alemanha. Mas foi em 2015, em Paris, que 195 Estados aprovaram em conjunto a aceleração desta formidável aventura. O objetivo: fazer com que o aquecimento global não ultrapasse dois graus até ao fim deste século, graças, nomeadamente, à substituição das energias fósseis pelas suas homólogas “energias verdes”.

Os delegados estavam prestes a assinar o Acordo de Paris quando um velho sábio de barba farta e olhos de um azul evanescente, vestido como um peregrino que descia da sua montanha, entrou no vasto salão do Parque de Exposições de Paris-Le Bourget. Com um sorriso enigmático no canto dos lábios, atravessou a multidão de chefes de Estado e, chegado à tribuna, tomou a palavra com uma voz grave e refletida: “As vossas intenções são encantadoras e podemos alegrar-nos com o mundo novo que estão prestes a dar à luz. Mas não fazem ideia dos perigos diante dos quais a vossa audácia vos coloca!” Fez-se silêncio.

O sábio voltou-se para as delegações ocidentais: “Esta transição vai colocar em maus lençóis secções inteiras das vossas economias, nas áreas mais estratégicas. Vai provocar o sofrimento de hordas de desempregados que, em pouco tempo, causarão perturbações sociais e reprovarão as vossas conquistas democráticas. Irá até mesmo fragilizar a vossa soberania militar.”

Dirigindo‑se ao conjunto da assistência, acrescentou: “A transição energética e digital vai devastar o ambiente em proporções incomparáveis. Definitivamente, os vossos esforços e o tributo exigido à Terra para construir essa nova civilização são de tal modo consideráveis que nem sequer é garantido que o consigam fazer.” Concluiu com uma mensagem sibilina: “O vosso poder cegou-vos de tal maneira, que já não conhecem a humildade do marinheiro perante o oceano, nem a do alpinista aos pés da montanha. Mas os elementos terão sempre a última palavra!”

Como é óbvio, o velho sábio é uma fantasia. Nunca esteve na tribuna da COP21, nem apanhou um comboio suburbano para voltar ao seu eremitério. Pelo contrário, nesse dia, as 196 delegações presentes em Le Bourget assinaram o Acordo de Paris e dedicaram-se ao décimo terceiro trabalho de Hércules… sem nunca se colocarem as questões essenciais: onde e como é que vamos obter esses metais raros, sem os quais o tratado foi em vão? Haverá vencedores e vencidos no novo xadrez dos metais raros, como houve outrora com o carvão e o petróleo? A que preço, para as nossas economias, para o Homem e para o ambiente, é que conseguiremos garantir o seu fornecimento?Durante seis anos, realizámos uma investigação numa dúzia de países sobre essas novas matérias raras que já estão a alterar o mundo. Para isso, foi necessário frequentar os recônditos das minas da Ásia tropical, ter os ouvidos atentos aos boatos dos deputados no Palácio Bourbon, sobrevoar num bimotor os desertos da Califórnia, prostrarmo-nos perante a rainha de uma tribo da África Austral, ir até às “aldeias do cancro” no interior da Mongólia, e limpar a poeira de velhos pergaminhos armazenados em veneráveis instituições londrinas.

Em quatro continentes, homens e mulheres que atuam no mundo conturbado e discreto dos metais raros revelaram-nos uma outra narrativa sobre a transição energética e digital, que é muito mais sombria. Ouvindo-os, o surgimento dessas novas matérias‑primas no seguimento dos recursos fósseis não ofereceu ao Homem nem ao planeta os serviços augurados pela eclosão de um mundo supostamente mais verde, mais fraterno e mais esclarecido ‒ longe disso.

A Grã-Bretanha dominou o século XIX graças à sua hegemonia sobre a produção mundial de carvão; em boa medida, os acontecimentos do século XX podem ser lidos sob o prisma do ascendente conseguido pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita sobre a produção e segurança das rotas petrolíferas; no século XXI, há um Estado que vem firmando o seu domínio sobre a exportação e o consumo dos metais raros. Esse Estado é a China.

CONSTATAÇÕES GRAVES

Avancemos desde já esta primeira constatação, de ordem económica e industrial: ao envolvermo‑nos na transição energética, atiramo-nos para as mandíbulas do dragão chinês. O Império do Meio tem hoje a liderança, e até mesmo quase o monopólio, de uma quantidade imensa de metais raros que são indispensáveis para as energias de baixa emissão de carbono e para o digital, ou seja, para os dois pilares da transição energética. Tornou-se até, em condições rocambolescas, o único fornecedor do mais estratégico desses recursos, uma classe de metais designados “terras raras”, muito dificilmente substituíveis, e a grande maioria dos industriais tem dificuldade em passar sem eles.

Ao fazer isto, o Ocidente colocou o destino das suas tecnologias verdes e digitais ‒ ou, dito de outra maneira, a nata dos seus setores do futuro ‒ nas mãos de apenas uma nação. Ao limitar a exportação desses recursos, a China alimenta em primeiro lugar o crescimento das suas próprias tecnologias e endurece o confronto económico com o resto do mundo. Disto resultam graves consequências económicas e sociais em Paris, Nova Iorque ou Tóquio.

Segunda constatação, de ordem ecológica: a nossa busca por um modelo de crescimento mais ecológico conduziu, em vez disso, a uma exploração mais intensiva da crosta terrestre para extrair o princípio ativo, ou seja, os metais raros, com impactos ambientais ainda mais significativos do que aqueles causados pela extração petrolífera. Sustentar a transformação do nosso modelo energético já exige uma duplicação da produção de metais raros a cada 15 anos, sensivelmente. É uma das razões pelas quais deveremos extrair, ao longo dos próximos 30 anos, uma quantidade de minerais maior do que aquela que a Humanidade extraiu da Terra ao longo dos últimos 70 mil anos. Ora, a escassez que se perfila poderá desiludir Jeremy Rifkin, os industriais das tecnologias verdes e o Papa Francisco ‒ e dar razão ao nosso eremita imaginário.

Terceira constatação, de ordem militar e geopolítica: a durabilidade dos equipamentos mais sofisticados dos exércitos ocidentais (robôs, armas cibernéticas, aviões de combate como a “coqueluche” dos caças norte‑americanos, o F‑35) depende igualmente, em parte, da boa vontade da China. Algo que, numa altura em que a administração norte‑americana se prepara para uma guerra potencial entre os Estados Unidos e a China no mar da China Meridional, preocupa as agências de informação norte‑americanas até às mais altas esferas.

De resto, esta nova corrida aos recursos já está a acentuar as tensões relativamente à posse das jazidas mais férteis e leva os conflitos territoriais até ao coração de santuários que se pensava estarem fora do alcance da cobiça.

A sede por metais raros é, com efeito, espicaçada por uma população mundial que atingirá 8,5 mil milhões de pessoas em 2030, pela expansão de novas formas de consumo de alta tecnologia e por uma convergência económica mais forte entre os países ocidentais e os países emergentes.

Ao pretendermos libertar-nos das energias fósseis, ao movermo-nos de uma ordem anterior para um mundo novo, criamos, na realidade, uma dependência nova, e ainda mais forte. Robótica, Inteligência Artificial, medicina digital, cibersegurança, biotecnologias médicas, objetos interligados, nanoeletrónica, veículos sem motorista… todos os setores mais estratégicos das economias do futuro, todas as tecnologias que multiplicarão por dez as nossas capacidades de cálculo e que irão modernizar a nossa forma de consumir energia, o mais pequeno dos nossos gestos quotidianos e até mesmo as nossas grandes escolhas coletivas, vão revelar-se totalmente dependentes dos metais raros.

Esses recursos vão tornar-se a base elementar, tangível e palpável do século XXI. Mas essa dependência esboça desde já os contornos de um futuro que nenhum oráculo previra. Pensávamos libertar-nos da escassez, das tensões e das crises provocadas pelo nosso apetite por petróleo e carvão; estamos em vias de substituir o mundo anterior por um novo mundo de escassez, de tensões e de crises inéditas. Do chá ao “ouro negro”, da noz-moscada à tulipa, do salitre ao carvão, as matérias-primas acompanharam sempre as grandes explorações, os impérios e as guerras. Contrariaram frequentemente os rumos da História. Por sua vez, os metais raros estão a modificar o mundo. Não satisfeitos com poluírem o ambiente, colocam em perigo os equilíbrios económicos e a segurança do planeta. Já reforçaram o novo domínio da China sobre o século XXI e aceleraram o enfraquecimento do Ocidente, iniciado na viragem do milénio. No entanto, a guerra dos metais raros está longe de estar perdida. Com efeito, a China cometeu o erro colossal de não ter em conta o impacto ambiental das suas atividades extrativas; o Ocidente dedicou-se a uma contraofensiva, de que é testemunha a lei europeia de 2023 relativa aos recursos essenciais (Critical Raw Materials Act), que estabelece as balizas de uma soberania mineral reencontrada; e alguns progressos técnicos, de que ainda não suspeitamos sequer, irão seguramente transformar a nossa forma de produzir riqueza e energia.

Europa em busca da paz e das matérias-primas críticas

Reino Unido e França tentam salvar o que resta da aliança com os EUA e apostam numa “coligação de vontades” para manter o apoio a Kiev, após a humilhação imposta por Trump a Zelensky. Velho Continente quer rearmar-se para não ser vassalo de Washington

Altercação A visita de Zelensky à Casa Branca, a 28 de fevereiro, retransmitida em direto nas televisões, ficará na História

Todos os impérios dignos desse nome conheciam a importância das minas e dos metais. Ouro e prata eram sinónimo de riqueza, tal como o ferro e o cobre garantiam poder militar. Como ficou demonstrado nas últimas semanas, a corrida às matérias-primas será decisiva na transição energética e sobretudo na relação de forças do novo mundo multipolar. Em 1992, numa visita ao complexo mineiro de Baotu, na província da Mongólia Interior, o então líder supremo da República Popular da China, Deng Xiaoping, afirmou: “O Médio Oriente tem o petróleo; nós temos as terras raras.”

A 3 de fevereiro de 2025, numa entrevista à Fox News, o Presidente dos EUA revelou, de forma categórica, os seus interesses sobre o país invadido pela Rússia, três anos antes: “Queremos o equivalente a 500 mil milhões de dólares em terras raras e os ucranianos aceitaram.” Como se percebeu na histórica altercação entre Donald Trump e Volodymyr Zelensky, ocorrida na Sala Oval, a 28 de fevereiro, as coisas não eram bem assim. O líder de Kiev recusou assinar o acordo que lhe foi proposto pelos norte-americanos em troca do apoio militar. Resultado: a Ucrânia habilita-se a ficar privada do seu maior fornecedor de ajuda militar e continua a ver comprometida a sua soberania sobre os respetivos recursos naturais.

HIPOTECA PARA 10 GERAÇÕES

Ironia das ironias: foi o próprio Zelensky quem terá proposto a Trump, em setembro, quando o republicano ainda estava em campanha para regressar à Casa Branca, o negócio de explorar as riquezas do subsolo ucraniano ‒ tal como a reconstrução das infraestruturas do país ‒ como contrapartida para a continuação do envio de material bélico made in USA. Pelos vistos, o negócio desse apelidado “grande plano para a vitória” gorou-se posteriormente nos detalhes: Kiev não podia aceitar que as garantias de segurança permitissem a Washington apoderar-se por completo da economia ucraniana. De acordo com o Financial Times, as concessões iam muito além do setor energético e Kiev abdicava ad aeternum de receitas estratégicas ‒ pelo menos “durante 10 gerações”, na estimativa de Zelensky.

Contradição de termos e pormenor adicional: na mais recente lista dos países com terras raras elaborada pelo Serviço Geológico dos EUA, divulgada há quatro anos, não aparece a Ucrânia. A explicação tem sido dada por vários órgãos de comunicação social e consultoras especializadas no assunto, nomeadamente a S&P Insights: o mapeamento mais rigoroso das jazidas minerais do país data do período soviético e há perto de quatro décadas que não se realizam quaisquer estudos que permitam identificar e justificar a exploração comercial dos 17 elementos químicos da tabela periódica essenciais nas indústrias tecnologicamente mais avançadas ‒ telecomunicações (satélites), automobilística (baterias de veículos elétricos), energias renováveis (eólicas) e em particular o setor militar (mísseis, aviões), ou seja, nada indica que os depósitos de Novopoltavske e Pivnichne tenham as riquezas e o valor que o regime de Kiev lhes atribui. Problema adicional. A realizarem-se prospeções que confirmem a existência de terras raras nestes locais pode implicar a autorização do Kremlin, dado que se encontram no leste do país, nas províncias de Donetsk e Zaporíjia, parcialmente controladas pelas tropas de Moscovo. Como se não bastasse, instalar o equipamento básico para extrair minérios deste tipo dificilmente demora menos de uma dúzia de anos e disponibilidade energética em larga escala, o que não é o caso presente, devido ao conflito e ao condicionamento elétrico da central nuclear de Zaporíjia (também tomada pelos russos desde o início da invasão).

MILAGRES E ARTES MÁGICAS

“A Ucrânia ocupa 0,4% da superfície terrestre, mas tem cerca de 5% do total de matérias-primas críticas”, afirma recorrentemente Svetlana Grinchuk, a vice-ministra ucraniana da Proteção Ambiental. Uma afirmação correta e reconhecida pela União Europeia (UE), que celebrou uma parceria estratégica com o país, em julho de 2021, para a exploração de riquezas minerais, já a pensar na competição com os EUA e a China. Além do gás e do petróleo, o subsolo ucraniano tem algumas das maiores reservas do planeta de titânio, ferro, grafite, carvão, manganés, urânio e lítio (um terço das jazidas na Europa), concentradas maioritariamente no Donbass (as regiões que, a par da Crimeia, a partir de 2014, foram anexadas pela Rússia).

Uma eventual partilha destes minerais estratégicos entre a Rússia e os EUA permitiria a Washington reduzir drasticamente a sua dependência da China, potência que possui as maiores reservas mundiais de terras raras e já é responsável pela refinação de 77% destes metais. No entanto, como explicou no El País Javier Blas, uma sumidade nestas questões, não há milagres: “Imaginemos que a Ucrânia seria capaz de produzir, por artes mágicas, 20% das terras raras [a nível global]. Isso seria o equivalente a três mil milhões de dólares por ano. Para alcançar os 500 mil milhões de que fala Trump, os EUA teriam de assegurar a produção ucraniana durante 150 anos. Um disparate.”

Disparate ou não, de algo ninguém duvida. A desglobalização e o divórcio entre os aliados do pós-guerra começam a ganhar forma. A velha ordem internacional está a dar lugar a uma caótica imprevisibilidade em que os homens fortes ‒ entenda-se autocratas ‒ governam em função de negócios que fazem tábua rasa do direito e das instituições multilaterais. Daí a urgência da UE e respetivos parceiros em arrepiar caminho para evitar a dependência militar de Washington, no preciso momento em que J.D. Vance e Elon Musk já advogam abertamente a saída dos EUA das principais organizações internacionais, da NATO à ONU.

DÚVIDAS E TERCEIRA VIA

“A Europa tem de estar preparada para assumir a sua força coletiva”, afirmou o primeiro-ministro da Polónia, Donald Tusk, após a cimeira especial convocada pelo seu homólogo do Reino Unido, Keir Starmer. Nesta quinta-feira, 6, em Bruxelas, será a vez de António Costa reunir à mesa os Chefes de Estado e de Governo com o propósito de discutirem uma vez mais o reforço do apoio à Ucrânia e a melhor maneira de aumentarem as despesas conjuntas em Defesa. Starmer não quer alienar os EUA ‒ “são e serão sempre indispensáveis”, afirmou segunda-feira, no Parlamento britânico ‒, acredita ainda numa “coligação de vontades” para conter Putin e garantir uma paz duradoura no Velho Continente. Não vai ser fácil. Viktor Orbán, Roberto Fico e Giorgia Meloni não disfarçam o seu alinhamento com Trump e a dirigente italiana já fala numa “terceira via”, o que quer que isso signifique. As diferenças de opinião são públicas e notórias. Será que Londres e Paris vão disponibilizar os respetivos arsenais nucleares para proteger o Velho Continente e liderar uma força de manutenção de paz para a Ucrânia? Aceitará o governo de Luís Montenegro mobilizar 300 soldados portugueses e 300 milhões de euros adicionais para o país invadido a 24 de fevereiro de 2022? Para já, a única certeza parece ter saído da boca de Volodymyr Zelensky: “O fim da guerra está ainda muito, muito, distante.” Filipe Fialho