É o que conclui um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), realizado entre 2014 e 2023, à faixa etária entre os 13 e os 29 anos de idade, em que um em cada cinco indivíduos em todo o mundo diz sentir solidão.
Sabe-se hoje que um indivíduo que viva sozinho ou esteja frequentemente isolado aumenta em 30% o risco de uma morte precoce. Além disso a solidão aumenta em 50% o risco de demência. A OMS quer combater esta “preocupação global” que não conhece fronteiras. Especialistas em saúde pública dizem que a solidão tem tanto impacto na saúde da pessoa como fumar catorze cigarros por dia.
Por isso, esta problemática psicossocial assumiu uma dimensão global, tendo-se transformado numa verdadeira pandemia, pelo que a OMS deu conta recentemente desta preocupação de saúde pública, tendo decidido criar uma comissão internacional a fim de fazer face a esta matéria.
A ideia é procurar entender a gravidade dos riscos que o isolamento social representa para a saúde pública, mas também propor soluções e apresentar recursos adequados, intenção que foi de imediato aplaudida pelos especialistas em geral, incluindo portugueses.
Muitos idosos sofrem de abandono, maus tratos, violência doméstica e abusos diversos. Alguns chegam a ser depositados nas urgências hospitalares por familiares que dão contactos telefónicos falsos, pelo que, quando recebem alta médica, não há como os entregar à família.
Estando entregues a si próprios em situação de fragilidade, tornam-se ainda mais vulneráveis. Resta-lhes a solidão, a decadência, o estado depressivo, a demência senil e, eventualmente, a morte prematura.
Também se sabe hoje que a solidão apresenta um padrão em forma de “U”, ou seja, é mais significativa no início e no fim da idade adulta. É aqui que entram as preocupações com a solidão juvenil.
Causas como famílias desestruturadas, estilos de vida, excesso de trabalho e turnos complicados dos pais, famílias reduzidas, problemas de falta de comunicação no âmbito familiar, abuso de utilização de conteúdos da internet, assim como dos jogos eletrónicos e das redes sociais talvez ajudem a explicar este fenómeno.
O excesso de comunicação e informação online e o défice de vivências humanas e no contacto com a natureza, só podem redundar em desequilíbrios internos que deixam as suas marcas em personalidades ainda em desenvolvimento.
As referências para a construção de quem somos e de como nos situamos no mundo não são os famosos – sejam eles actores, cantores ou atletas – os heróis ou modelos longínquos ou fantasiosos, mas sim pessoas de carne e osso com quem se interage na vida quotidiana.
As relações sociais e humanas são imprescindíveis para a construção da identidade. É importante ter oportunidade de contacto com referências humanas – quer pela positiva quer pela negativa – que nos hão-de ajudar a definir o que queremos ser e como.
Faz-nos falta lidar com indivíduos de quem não gostamos porque isso nos ajuda a definir como não queremos ser, nem queremos que os outros nos vejam. Do mesmo modo, é importante interagir com quem nos inspira porque isso nos ajuda a afinar a nossa identidade pela positiva.
A fé cristã vivida de acordo com o evangelho implica uma dimensão comunitária de partilha, testemunho e experiência conjunta que ajuda os fiéis a “rir com os que riem e chorar com os que choram”. Permite auxílio, estímulo, encorajamento, gratidão, generosidade e promove o bem-estar e a esperança sem a qual ninguém consegue viver de forma equilibrada.
O mal do século não poderá ser vencido individualmente, dada a sua natureza. Mais tarde ou mais cedo vamos aprender que precisamos mesmo todos uns dos outros.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.