Mas o que ignoramos quase por completo são as múltiplas expressões da fé cristã no Médio Oriente, desde Etiópia e Egipto a todo o Levante, incluindo a Síria e o Iraque, tradições muito antigas, como os coptas e outras que por lá pontificam.
Acontece que os cristãos egípcios, conhecidos como coptas, têm hoje mais liberdade de culto do que há uns anos, quando o país esteve dominado pela Irmandade Muçulmana. O Patriarca de Alexandria informa que o governo do Cairo levantou restrições para a construção de novas igrejas e por isso os projectos existentes estão a avançar, com apoios internacionais, como é o caso da reconstrução da Catedral de Luxor, que sofreu um incêndio de origem desconhecida em 2016.
Apesar disso, ainda em Abril passado as aldeias de Al-Fawakher e de Al-Koum, na província de Minya, foram atacadas por multidões de muçulmanos enfurecidos quando ouviram que se preparavam para construir templos cristãos na zona. O incidente passou quase despercebido mas dele resultou a destruição de habitações de cristãos.
A reconstrução ou construção de novos templos é necessária porque, de acordo com o Arcebispo Ibrahim Sidrak, primaz dos Coptas do Egipto: “As igrejas são o coração das nossas comunidades e são de difícil acesso para muitos paroquianos. Aqueles que vivem longe têm de gastar até um quarto do seu salário para poderem levar a família de autocarro à igreja para a Missa de Domingo”.
Sob a presidência de Mohamed Morsi, da Irmandade Islâmica, os radicais religiosos chegaram ao poder e os ataques contra os coptas dispararam, mas actualmente já não dominam a sociedade egípcia, contudo, este tipo de ameaças nunca desaparece por completo. Em 2012 e 2013, quando estavam no poder, “era muito arriscado para um cristão andar sozinho na rua”, afirma o Arcebispo. “As nossas igrejas foram ameaçadas e centenas foram incendiadas. Agora vivemos em relativa segurança. Há fanáticos e terroristas, como em todo o lado, mas estão controlados”.
Segundo a organização Ajuda à Igreja que Sofre os coptas egípcios são “discriminados pela lei, e não gozando dos mesmos direitos que os seus concidadãos muçulmanos, os cristãos são frequentemente vítimas de ataques e crimes. As vítimas também relatam que, na maioria dos casos, as forças policiais não intervêm nos ataques contra os coptas. Embora os seus agressores não beneficiem de impunidade legal, são frequentemente os coptas que são presos”.
Depois ainda existe a crise económica que prejudica especialmente as gerações mais jovens no acesso ao mercado de trabalho, numa sociedade em que nascem todos os anos dois milhões de egípcios, a que se juntam muitos migrantes que fogem da guerra. Primeiro foram os sírios à procura de refúgio e agora os sudaneses.
A igreja copta procura desenvolver um papel social relevante, em especial nas áreas da educação e da saúde, um papel que nos últimos anos foi reforçado devido à necessidade do apoio aos migrantes. Segundo o primaz: “Acolhemos alguns destes migrantes da melhor forma possível. De uma maneira geral, a igreja copta desempenha um papel caritativo na sociedade egípcia, nomeadamente através das suas escolas, hospitais e dispensários. Existem 180 escolas católicas coptas e têm uma boa reputação. Muitos muçulmanos querem mandar os seus filhos para estas escolas e alguns membros do Governo passaram por elas. Isto não só ajuda a educar o nosso povo, mas também a mantê-lo unido, apesar das diferenças religiosas”.
Apesar do país manter o Islão como religião oficial, a antiguidade da fé cristã, em especial na sua versão copta, é respeitada pela população, todavia os radicais islâmicos varrê-la-iam do mapa se pudessem. A Igreja Copta Ortodoxa de Alexandria terá sido estabelecida em meados do século I.
O islamismo é a religião oficial do Egipto, contando com 86% de muçulmanos. Os outros 13% são repartidos entre cristãos e uma pequena comunidade judaica que representa 1% mais ou menos. O dia 7 de Janeiro foi declarado feriado oficial em 2002, para celebração do Natal copta.
Apesar de tudo os cristãos queixem-se de serem pouco considerados na aplicação da lei, na segurança do Estado e em cargos públicos, e de serem discriminados no mercado de trabalho devido à sua religião.
Mas existe uma miríade de outras tradições cristãs em toda aquela vasta região do mundo, e que o Ocidente desconhece, em regra.
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