Tive oportunidade de ser orador nas Jornadas de Saúde Sénior “Viver Mais Com Saber”, realizadas no mês passado no Montijo, por iniciativa da câmara municipal e outros parceiros, ocasião na qual falei a uma assistência de idosos, técnicos e autarcas sobre a temática proposta: Saúde integral: saúde-mental-espírito.
Partindo do modelo de Descartes (“penso, logo existo”), que deriva do primado da razão, e foi questionado por António Damásio (“sinto, logo existo”), que valorizou as emoções nos processos do comportamento humano, passei pelo QI de Alfred Binet, depois pelos diversos tipos de inteligência (cinestésica, linguística, artística, etc), até ao conceito de Inteligência Emocional de Daniel Goleman, muito considerada hoje no mundo empresarial.
O poeta latino Juvenal defendia “mente sã em corpo são”. Mas a OMS acrescentou outra dimensão ao conceito de saúde – a dimensão social – ao definir doutrina em 1946: “A Organização Mundial da Saúde definiu saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade.”
Por outro lado, a percepção do conceito de qualidade de vida também tem muitos pontos em comum com a definição de saúde.
Ao longo da História e do desenvolvimento da humanidade, foi-se descobrindo que o ser humano se situa em diferentes dimensões. Por um lado a dimensão física, representada pelo corpo. Por outro lado, a alma, que é a sede da mente (pensamento), vontade (decisões), emoções e sentimentos. E por outra o espírito, considerando não apenas a cultura, a sensibilidade e as artes, mas também a ligação com a transcendência, isto é, a fé ou espiritualidade.
A grande questão é que isto está tudo ligado. O físico influencia o psicológico, por exemplo, quando o sistema imunitário está em baixo pode potenciar estados depressivos ou doenças psicossomáticas.
O físico influencia o espiritual. Quem está exausto não tem apetência para ler e apreciar poesia ou para procurar eventos culturais.
O psicológico influencia o físico. Se estou em pico de ansiedade há dinâmicas químicas desconfortáveis no meu corpo.
O psicológico influencia o espiritual, Caso me encontre numa situação de perda inesperada, como o luto, posso ser tentado a revoltar-me contra Deus e ficar perturbado.
O psicológico influencia o social, como sucede nos casos de esquizofrenias e outras perturbações de personalidade, onde há lugar a delírios e alucinações.
E o espiritual influencia o psicológico. Se estou metido num grupo religioso fanático, tendo a ver inimigos reais ou imaginários em todo o lado.
Finalmente o espiritual também influencia o físico. É o caso dos jejuns prolongados, sacrifícios físicos ou autoflagelações.
O olhar holístico, isto é, de visão integral sobre o ser humano acrescenta ao conceito de saúde da OMS a dimensão da Transcendência. Portanto, podemos dizer que a pessoa humana é um ser bio-psico-sócio-espiritual-transcendental. Portanto, temos que lidar com ambas as dimensões: a imanência (o que somos e o que somos para os outros) e a transcendência (aquilo que está para lá de nós e dos outros seres humanos).
Portanto, percorreu-se um longo caminho desde o ideal clássico, que era: “Mente sã em corpo são”, até ao ideal contemporâneo da saúde integral, ou holístico, que será: “Mente e espírito são em corpo são”.
É bom que todos – incluindo os seniores – façamos exercício físico, mental, emocional e espiritual. Quanto à transcendência, depende da fé de cada um ou da ausência dela. O importante é que cuidemos de nós enquanto seres complexos e multidimensionais, ao longo do ciclo de vida.
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