A verdade é que desde os tempos do Império Português, quando dividíamos a geografia com os espanhóis, estamos hoje reduzidos à condição de pequeno povo sem riquezas nem poder, apenas um pouco relevantes devido à expressão da nossa língua no mundo, às ligações com as antigas colónias e o Brasil, e sobretudo devido ao aconchego da União Europeia e da NATO.
Aqueles que olham hoje para este rectângulo no extremo da Europa e desconhecem a História, não sabem que os Portugueses mudaram o mundo, a despeito da localização geográfica do seu território ou da sua reduzida dimensão populacional.
Foi o nosso povo que inventou as embarcações que permitiram cruzar os mares do globo – entre elas a caravela – que depois outros vieram a utilizar com sucesso, como Colombo ao serviço dos espanhóis, para achar a América. O navegador português Duarte Pacheco Pereira foi o primeiro a estudar cientificamente a relação das marés com a lua e a registar tal descoberta. E foram os portugueses os primeiros a transformar navios em máquinas de guerra ao introduzir canhões nas laterais.
Ao contornar com sucesso o Cabo das Tormentas transformando-o em Cabo da Boa Esperança, os nossos navegadores deram início à primeira globalização da história, dando “novos mundos ao mundo”. Os holandeses e os ingleses vieram mais tarde e seguiram os passos do caminho já antes desbravado pela navegação portuguesa.
De 1500 a 1570 Portugal era o maior império do globo que se estendia da América do Sul (Brasil) à Ásia passando por África. Nem Espanha, nem Inglaterra, nem Holanda desafiavam o poderio da marinha portuguesa, a qual, de resto, se encontra hoje num estado lamentável. Portugal mudou o mundo tanto no aspecto militar como comercial, económico e cultural.
Pode mesmo dizer-se que a ascensão da Europa enquanto continente começou com a influência do Império Português, que se constituiu como génese duma era que se veio a tornar eurocêntrica, fazendo transitar o poder da Ásia para o Ocidente nos últimos cinco séculos, incluindo os Estados Unidos. Todavia neste momento tal hegemonia parece estar a chegar ao fim, face a novos protagonismos como o chinês.
Querer reduzir a Expansão Portuguesa às malfeitorias da escravatura e do colonialismo, de resto igualmente praticados por inúmeros povos europeus, asiáticos e africanos, é uma visão completamente vesga e desonesta da História. Brandir a necessidade de “reparações” financeiras como forma de menorização de Portugal, de culpabilização de todo um povo e múltiplas gerações é mais um disparate dos tempos em que vivemos.
Mas isso não significa que não se deva promover de vez um debate sério sobre a colonização portuguesa sem distorções ideológicas. O que não se pode é fazer uma leitura historicamente descontextualizada dos factos.
Não, não temos que bater com a mão no peito por sermos Portugueses. Celebrar o Dia de Portugal não é apenas honrar os antepassados mas também desmistificar o passado combatendo as nefastas influências woke. E sobretudo olhar o presente e projectar o futuro.
Os Portugueses devem ter orgulho na sua história, dada a significativa relevância que tiveram no passado, por sermos o estado-nação mais antigo da Europa, e termos uma das línguas mais faladas no mundo. Podem e devem ter orgulho pela maior parte das marcas civilizacionais que deixaram nos quatro cantos do mundo, das Américas ao Extremo Oriente e de África à Ásia.
Não são algumas páginas negras que nos devem envergonhar e que todos os povos que foram ou são relevantes do mundo igualmente ostentam. Nenhum ideal político ou religioso está isento de erros cometidos nalgum tempo da sua história, porque falamos de pessoas e as pessoas falham.
Não sou nacionalista nem populista, mas atlantista e europeu. E apesar de tudo tenho muito orgulho em Portugal e no facto de ser português. Dizer constantemente mal do país só se compreende em termos de disputa político-partidária, de uma malformação cultural ou dum problema de cariz psiquiátrico.
Ser português hoje é assumir a história nacional sem preconceitos e assumir o nosso lugar contemporâneo no concerto das nações.
Viva Portugal!
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