Em 1979, um grupo de 36 deputados do PSD abandonou o partido e, mantendo-se no Parlamento com o estatuto independente, formaram a ASDI (Associação Social-Democrata Independente). Pesos pesados do partido, entre eles Magalhães Mota (fundador do PPD, em maio de 1974, ao lado do seu amigo Sá Carneiro), Sousa Franco e Sérvulo Correia, entre outros, batiam com a porta, por discordarem do líder, relativamente à política de alianças: Sá Carneiro pretendia afirmar o PSD contra o PS, desviando o seu centro de gravidade para a direita, e os homens da ASDI – formalizada, como partido, no ano seguinte – entendiam que a melhor estratégia era a de uma política de alianças à esquerda, leia-se, uma aproximação ao PS. Francisco de Sá Carneiro, mantendo-se firme, jogou tudo e não só ganhou as eleições intercalares desse ano, à frente da AD, numa coligação com o CDS de Freitas do Amaral e o PPM de Gonçalo Ribeiro Telles, como renovou a maioria absoluta nas legislativas do ano seguinte, obtendo 44% e vendo a ASDI afundar-se nos parcos 26% da FRS, uma coligação com o PS de Mário Soares (que bem se arrependeu…) e com a UEDS de Lopes Cardoso. Com o braço-de-ferro, o líder “laranja” tinha conseguido o desiderato de uma limpeza no partido.
Por uma ironia da História, o resultado de Fernando Negrão, na eleição desta semana para a liderança parlamentar do PSD, 35 votos contra 32 brancos e 21 nulos – e uma abstenção de protesto contra o ato eleitoral… – pode pré-anunciar uma ASDI ao contrário, pelos motivos inversos, com um efeito semelhante e outro efeito desconhecido (já lá vamos).
O clima vivido no PSD – que é tudo menos o da unidade propalada pela mentira piedosa do congresso… – pode ter o mesmo desfecho de 1979. Há dois PSDs em confronto: um liberal, encostado à direita, órfão de Passos Coelho, outro social-democrata, encostado à esquerda, companheiro de estrada de Rui Rio. Esta semana, por exemplo, Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças de Passos, disse qualquer coisa “em nome do PSD” – e logo foi desautorizada por uma chuva de posts nas redes sociais, negando à deputada eleita nas listas do partido a legitimidade para falar em nome dele. A própria designação de Elina Fraga para uma das vice-presidências denota a vontade de Rui Rio de “fazê-los saltar”, imitando Sá Carneiro no tal efeito semelhante: fazer uma limpeza no partido – e, provavelmente, no Grupo parlamentar, mesmo que tenha, como o pai fundador, de enfrentar uma secessão.
Os motivos, porém, são totalmente opostos aos de 1979. Desta vez, é o contrário: os rebeldes querem a afirmação do PSD contra o PS – como os maioritários de ontem – e os alinhados com a liderança privilegiam a expiação pelos “crimes” do passismo e uma aproximação à esquerda. Nestas condições, está aberta a porta para a formação de uma ASDI ao contrário: uma ASDI de direita e, quiçá, a formação de um novo partido.
O efeito desconhecdido nesta simetria histórica tem a ver com os resultados: Quem vai conseguir 44% e quem se ficará pelos 26?…