Os resultados da primeira volta das legislativas francesas não surpreenderam ninguém, a começar pelo Presidente Macron. Depois de o partido de Le Pen ter vencido as europeias pela terceira vez consecutiva, de o governo assentar numa erosão da maioria relativa e de a popularidade do Presidente se manter estavelmente em baixa, este tinha de tomar uma de duas opções, ambas más: ou deixava acentuar o cerco das oposições ao seu projeto, as quais se apoiam nas ruas e num sentimento alastrado anti-Macron; ou se antecipava a uma prolongada agonia até final do mandato, permanecendo o alfa e o ómega de toda a raiva do sistema, podendo perder o governo e o Eliseu para o nacionalismo nos próximos ciclos políticos.
Só quem não percebe a natureza de Emmanuel Macron pode ficar surpreendido com o que fez. A sua natureza é de risco permanente, um ego que o projetou de um governo socialista para uma candidatura à presidência que acabou por destruir o seu partido de origem, transformando estruturalmente um dos hemisférios da V República. O outro, no espaço da direita gaullista, caminha para o mesmo fim, numa linha que caracteriza outros partidos da mesma família por esta Europa fora, canibalizados pela direita radical e pela extrema-direita, quer por esperteza desta quer por incompetência daqueles. A responsabilidade, porém, deve ser repartida também com Macron, que ao desnatar os dois hemisférios políticos – “nem de esquerda nem de direita” – acabou por desconectar eleitores com programas, desviando-os para um projeto híbrido, essencialmente orientado para si próprio. Ora, uma democracia saudável não deve cair num canto destes, sob pena de ficar refém dos inevitáveis bloqueios que o sistema emitirá para travar tamanha concentração de poder. Deste ponto de vista, o macronismo seria sempre um momento na história política francesa, mas o que podemos concluir é que a marcará por longos anos.