Se já é errado ver o mundo a preto e branco, o Médio Oriente trata de emaranhar ainda mais uma quantidade cada vez maior de atores em camadas. Talvez isto explique a dificuldade com que nós, europeus, nos tentamos encaixar nas suas dinâmicas, tenham elas componentes de segurança, comerciais, ideológicas ou humanitárias. Não é uma justificação para sucessivos falhanços, antes um retrato de uma vocação votada à permanente frustração.
É por isso ilusório pensar que de um Conselho Europeu podem sair posições consensualmente assertivas sobre a região. Uns querem distância do novelo, outros preservar equilíbrios, uns assegurar alinhamentos económicos, outros definir um espaço de atuação menos limitado que lhes ateste alguma coerência com aquilo que consideram essencial. É o caso de Portugal, quando recusou alinhar no cancelamento do financiamento à agência da ONU para os refugiados palestinianos, cuja credibilidade ficou prejudicada quando uma investigação preliminar apontou uma dúzia de funcionários como cúmplices do ataque do Hamas a Israel, lançando um anátema sobre trinta mil funcionários que, debaixo das bombas de uns e sob o terror de outros, têm procurado fazer chegar mínimos de sobrevivência alimentar, médica e educativa a mais de quatrocentas mil crianças, para não falar de muitos mais adultos. Essa posição, não seguida por vários países da União Europeia, reforçou ainda a verba para a agência, dizendo aos palestinianos e às organizações internacionais que não será Portugal a contribuir para o seu desaparecimento, a sua falência, a sua ilegitimidade. Mais, que devem apurar-se responsabilidades e expurgar os criminosos, respeitando a justiça, mas também o direito humanitário, criticando a arbitrariedade da atuação militar e a manipulação de civis por terroristas, numa tónica de reposição de prioridades humanitárias, critérios de atuação, proporcionalidade dos meios, defesa das vidas civis e preservação das funções insubstituíveis operadas por organizações multilaterais.
