Esta crónica tem como objetivo explicar, com base em fontes bíblicas (Antigo Testamento-Génese) e históricas, a região da Palestina, palco do atual (e eterno) conflito entre as duas religiões envolvidas: judaísmo e islamismo.
A figura central do surgimento das três religiões monoteístas (judaísmo, cristianismo e islamismo) é o Patriarca Abraão, da linha genealógica de Noé, que viveu, provavelmente, entre os séculos XXI e XVIII a.C.: nascido em Ur (Mesopotâmia, hoje Iraque), migrou para Canaã (a terra prometida por Deus), uma extensa região que abrange hoje partes do território da Jordânia, do Líbano, da Síria (incluindo os Montes Golã), o Estado de Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Nesta região, para além dos cananeus, viviam também os filisteus – povo da Filistina/Palestina, de língua semita-aramaica, uma comunidade também da linha sucessória de Noé. Portanto, os palestinianos históricos são de pertença judaica.
Em Canaã, Abraão, é casado com Sara, mas tem um filho com a sua escrava Agar, a quem dá o nome de Ismael. Posteriormente, Sara engravida e nasce Isaac (origem da nação judaica). Agar e Ismael são expulsos e vão para a região que, hoje, corresponde à Arabia Saudita, berço histórico-geográfico da nação árabe.
O povo de Israel tem um longo passado de perseguições e, consequentemente, de diásporas: a primeira (galut bavel), no século VI a.C., foi para Babilónia/Mesopotâmia; a segunda, já no ano 70 da era cristã, sob o domínio romano, com a destruição de Jerusalém, para a Ásia Menor (Turquia), África (Etiópia) e para vários países europeus: os estabelecidos na Europa Central e do Leste são denominados de ashkenazi, de língua iídiche (uma mistura das línguas judaica, eslava e germânica) e os da Península Ibérica de sefarditas.
Entretanto, na linha sucessória de Ismael, nasce, em Meca, no ano de 571, o árabe Maomé, o Profeta, fundador do islamismo, cuja religião, a bem da verdade, é de base teológica judaica. Após a sua morte, em Medina, em 632, o islamismo iniciou um enorme processo de expansão e domínio de um vasto território, incluindo Canaã, terra dos judeus. Foi na cidade sagrada de Jerusalém que os muçulmanos construíram, no século VIII, a Mesquita Al-Aqsa, o seu terceiro lugar sagrado. Foi esta ocupação muçulmana (de Saladino) que, no século XII, as Cruzadas, de caráter cristão, tentaram expulsar.
É imprescindível falar aqui também do Império Turco-Otomano, que remonta ao século XIII. A partir de Constantinopla (atual Istambul), este poderoso império muçulmano conquistou um vasto território na Ásia, na Europa e África e, logicamente, a região da antiga Canaã judaica.
Muito tempo depois. Para acabar com a diáspora judaica, como povo sem pátria, surge, no final do século XIX, um movimento político e religioso, denominado de Sionismo, que defende o retorno e o restabelecimento do antigo reino (Eretz Israel); ou seja, a criação do Estado de Israel, na sua sagrada Canaã, agora ocupada pelos árabes invasores.
Temos que retomar, inevitavelmente, ao Império Otomano. O declínio do seu longo reinado só acontece na I Guerra Mundial (1914-1918). A partir daí, a região (da suposta Palestina) fica sob o controle da potência colonizadora britânica. Entretanto, surge Adolf Hitler, acontecem a II Guerra Mundial (1939-1945) e o Holocausto judaico (Shoah): 6 milhões de judeus assassinados pelo nazismo, constituindo-se no maior genocídio da história da humanidade.
Em 1948, é finalmente criado o Estado de Israel. É neste contexto que a ONU recomenda também a criação do Estado-Autoridade Palestiniana. Agora, de volta à sua terra sagrada, o povo judeu teria finalmente a tão merecida paz? Logo no ano de fundação, Israel sofre o primeiro ataque de países árabes vizinhos, com o propósito de aniquilar o povo judeu. A partir daí, ocorreram sucessivas guerras e atentados contra Israel: em 1967, a ‘Guerra dos Seis dias’; 1968-1970; e Yom Kippur, em 1973.
E agora, 50 anos depois (7 de outubro de 2023), o ataque terrorista do Hamas em território de Israel, com assassinatos e raptos de mulheres e crianças israelitas. A realidade é que, apesar de várias negociações e tratados de paz, nunca foi possível chegar a um acordo de (com)vivência pacífica entre judeus e árabes-muçulmanos; estes, habitando nesta região, reivindicam, erroneamente, ser chamados de ‘palestinianos’.
Portanto, para concluir (ou talvez não…), existe uma enorme confusão, falta de conhecimentos teológico-históricos e erros grosseiros (ou tendenciosos) nas análises sobre a atual guerra Israel-Hamas. Cabe esclarecer que o conflito envolve um Estado (Israel) e um grupo armado miliciano-terrorista (Hamas), que ocupa e controla, com mão de ferro, a denominada Faixa de Gaza, que é apenas um território com autogoverno e não propriamente um Estado, no sentido dado desde o século XIII. Portanto, e seguindo a definição do sociólogo Thomas Marshall, o conceito de cidadania implica um vínculo jurídico do indivíduo ou grupo a um Estado. Assim sendo, não existindo Estado (Palestina), consequentemente, não existe a categoria de ‘palestiniano’.
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
+ A tribo LGBTQIA+: Tentativa de caracterização (Parte II)
+ O manto sagrado de Nossa Senhora (de Fátima) cobrindo a Ucrânia
+ O manto sagrado de Nossa Senhora (de Fátima) cobrindo a Ucrânia
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.