1 O espaço dos partidos é cada vez mais pequeno na sociedade portuguesa.
Marcelo Rebelo de Sousa foi o primeiro a perceber esta realidade, que já tinha dado um sinal relevante nas últimas eleições autárquicas, nomeadamente com a vitória de Rui Moreira, no Porto. A verdade é que o professor também contribuiu para essa nova realidade, na forma como, ao longo dos anos, analisou a atualidade política, semanalmente na TVI, sempre sob o foco do taticismo, das regras de comunicação e da eficácia mediática. Ao assumir esse olhar distanciado sobre as “guerras entre os partidos”, Marcelo acabou por ganhar, aos olhos da opinião pública, um estatuto independente e equidistante face a todos eles, que foi decisivo para a sua vitória. Por isso mesmo, quando ouviu, há cerca de um ano, Passos Coelho chamar-lhe “cata-vento”, Marcelo devia ter agradecido: estava ali a sua carta definitiva de alforria e o trunfo definitivo para a vitória concretizada na noite de 24 de janeiro.
2 A presença televisiva é decisiva para os candidatos.
Marcelo ganhou porque todos o conheciam há anos dos seus comentários (políticos, económicos, internacionais, futebolísticos, além da seleção de livros…). Mas isso não é uma novidade: foi também graças à sua presença na televisão que José Sócrates construiu a imagem que possibilitou ao PS, em 2005, a única maioria absoluta da sua história. E, nestas eleições, o surpreendente Vitorino Silva só teve um resultado superior ao dos outros “outsiders” porque, no fundo, há 20 anos que, de vez em quando, víamos o “Tino de Rans” na TV…
3 Não existe maioria sociológica de esquerda… nem de direita.
O resultado, em termos percentuais, obtido por Marcelo Rebelo de Sousa é muito semelhante ao do da soma dos votos do PS, BE e CDU nas legislativas de 4 de outubro. Quer isto dizer que, no espaço de três meses, os eleitores portugueses andaram aos ziguezagues, indecisos entre se devem virar à esquerda ou à direita? Duvido que a esmagadora maioria ainda pense nesses termos. O que conta cada vez mais na hora de votar é a confiança que se tem (ou não) no candidato. E, nesse campo, estes resultados demonstram, com clareza, que já ninguém acredita que o fascismo está escondido ao virar da esquina ou que os comunistas continuam a comer criancinhas ao pequeno-almoço.
4 O afeto continua a ser um valor importante na política.
Em toda a campanha, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se como um homem de afetos, deixando sempre que a emoção se sobrepusesse à razão – como fez, aliás, questão de realçar logo no início do seu discurso de vitória, no átrio da Faculdade de Direito de Lisboa. Ao mostrar-se, sinceramente, dessa forma, Marcelo desarmou os principais argumentos dos seus adversários. E, de certa forma, fez o contraponto necessário à frieza tão associada a Passos Coelho (que voltou a confirmar, na declaração gelada com que saudou a eleição do novo Presidente) e mostrou-se disponível para promover os compromissos necessários na sociedade portuguesa. O lado afetuoso foi também decisivo para o resultado de Marisa Matias e, em sentido contrário, para o desastre de Edgar Silva (que, curiosamente, obteve um bom resultado na Madeira, onde todos o conhecem…).