No Olho Vivo desta semana, um dos temas fortes em análise foi o do relatório apresentado pela Comissão Independente sobre os abusos sexuais, sobre menores, perpetrados no seio da Igreja Católica portuguesa. Outro, o da imigração em Portugal e das ondas de choque que o tema provocou dentro do PSD.
A subdiretora da VISÃO, Sara Belo Luís, que tem acompanhado o caso da pedofilia na Igreja e esteve presente na conferência de imprensa em que a Comissão apresentou o seu relatório, anota que “a comissão liderada por Pedro Strecht trabalhou sempre na sombra, recusando holofotes e destacando sempre, em primeiro lugar, as vítimas”. E acrescentou que até na apresentação do relatório final, na Fundação Gulbenkian, isso foi visível: “Ao lerem aqueles testemunhos, testemunhos reais e concretos que ficarão na nossa memória coletiva, contrariam a ideia de que as vítimas são números e estatísticas, são pessoas reais cujas vivas foram devastadas.”
“A cultura de ocultação na Igreja tem de acabar”, considerou, por seu turno, Rui Tavares Guedes, diretor-executivo da VISÃO, defendendo que a hierarquia católica não se pode comportar como um “Estado dentro do próprio Estado”, em especial quando estão em causa os direitos humanos e o respeito pela vida e a dignidade das pessoas. “O Estado laico tem de intervir”, sublinhou. “Este problema dos abusos sexuais, repetidos ao longo de anos e em vários países, não pode ficar dentro da Igreja e ser resolvido exclusivamente por ela”.
Já o editor executivo Filipe Luís salienta que o modelo escolhido pela Comissão, com a leitura de excertos lancinantes dos depoiemntos das vítimas, “foi fundamental para que as pessoas tivessem uma ideia concreta do que aconteceu. E isso agita as consciências de uma forma irreversível. Foi um grande serviço prestado pela Comissão”. Mais, pelo impacto que isto teve, agora, previsivelmente “muito mais vítimas irão perder o medo e as inibições e começar a denunciar os seus casos. Nada será como dantes.” “Aliás”, acrescentou, “quando se diz que há outras instituições onde há pedofilia e que estarão a ser menos escrutinadas, deve ter-se em conta que, na Igreja, é especialmnete grave. ´”É um crime civil mas, até para a própria Igreja, é também um pecado. Provoca em nós o mesmo choque que provocaria se uma esquadra da PSP se organizasse para o assalto à mão armada a um banco…”
Mais, segundo Sara Belo Luís, “há em curso uma revolução no seio da Igreja, que não mexe com os alicerces da Igreja, mas mexe com a sua hierarquia e, no fundo, com o poder clerical e o lugar primordial que ocupa há séculos”. A subdiretora da VISÃO chamou também a atenção para o facto de haver muitos católicos, leigos e mulheres, por exemplo, a reclamar mais poder na tomada de decisões. “O trabalho da comissão e a sua eficácia não pode ser avaliado exclusivamente pelos resultados que estes casos (a maior parte deles, prescritos) possam ter na Justiça.” No final do mês, remata, “quando a comissão independente entregar a lista dos alegados abusadores no ativo, a Igreja não tem qualquer margem de manobra para não atuar, inclusive responsabilizando bispos que ainda estão no ativo e que ocultaram casos de abusos de que tiveram conhecimento.”
Sobre a questão da imigração, Filipe Luís comenta as palavras de Carlos Moedas, segundo as quais não aceita lições sobre imigração, visto que ele próprio foi emigrante e é genro de imigrantes. “Só faltou dizer que até tem um amigo negro…”, ironizou o editor executivo. “Estas declarações demonstram que Moedas não precisa de lições: precisa de um curso inteiro sobre imigração!” Porquê? “Porque é não ter noção do que estamos a falar. O dr. Horta Osório também é emigrante. O Cristiano Ronaldo também é emigrante. Carlos Moedas foi um alto quadro de multinacionais e foi comissário europeu em Bruxelas. Nunca viveu num prédio como o que ardeu na Mouraria e não pode comparar as situações. É não ter noção nem saber do que estamos a falar”.
Rui Tavares Guedes afirmou que o debate sobre imigração é um dos debates mais idiotas que se podem ter, na atual realidade do País. “Grande parte dos setores essenciais da nossa economia estão dependentes da existência de imigrantes”, afirmou. “É isso que acontece na agricultura, nas pescas, na restauração e hotelaria, mas também na Saúde”. E avisou: “Com menos imigrantes, a nossa economia irá colapsar. “E se a nossa economia colapsar, o problema também ficará resolvido: nem os imigrantes quererão vir para cá nem os próprios portugueses quererão viver cá”.
Ou seja, os portugueses interiorizam que os imigrantes são necessários, não se registando, segundo os intervenientes no Olho Vivo, na opinião pública, uma vaga anti imigração. “Ora”, perguntou Sara Belo Luís, a propósito das declarações de Luís Montenegro sobre o tema, “se não existe em Portugal esse mercado eleitoral anti imigração, porque é que o PSD, e nomeadamente Luís Montenegro, insistem nesse assunto?”
A sucessão na liderança do Bloco de Esquerda, o pacote do Governo sobre a Habitação, a luta dos professores e a capa da VISÃO, que fala de uma nova vida depois dos 60, foram também temas abordados neste programa.
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