Esta foi uma semana política recheada de acontecimentos: do Conselho Nacional do PSD saíram as listas de deputados aprovadas e uma recusa de coligação pré-eleitoral com o CDS, e Eduardo Cabrita apresentou a sua demissão, após uma sucessão de episódios e polémicas com o Ministro da Administração Interna.
Acerca do PSD, o painel de olheiros da VISÃO já tinha dito no episódio anterior do Olho Vivo que a composição destas listas seria “uma carnificina”. Vieram a comprovar-se os receios. “Rui Rio disse que não ia fazer uma ‘limpeza étnica’, e repetiu depois do Conselho Nacional que era ‘mentira’ que o tivesse feito, mas olhando para as listas é bastante claro que houve um saneamento nos nomes que não o apoiaram nesta corrida interna”, afirma a diretora da VISÃO, Mafalda Anjos.
“Nas listas de deputados, Rui Rio efetuou uma purga. É natural que queria um grupo parlamentar fiel à sua estratégia — por exemplo, que vote favoravelmente à viabilização de um governo do PS se for caso, disso uma opção que os rangelistas sempre recusaram. Mas, o líder do PSD vai ter um problema na campanha, quer pela falta de quadros, quer no funcionamento da máquina partidária”, sublinha Filipe Luis, editor-executivo da VISÃO.
“Privilegiar a lealdade é legítimo, mas a lealdade não pode sobrepor-se à competência. As críticas e divergências de opinião não podem ser vistas como deslealdades. Mas é da natureza de Rui Rio: tem dificuldade em unificar, não tenta fazer pontes e rodeia-se sobretudo de pessoas que sente que não lhe fazem frente. Um partido político abrangente como o PSD tem de comportar e acomodar diferentes grupos e fações”, afirma Mafalda Anjos.
A revolução que Rui Rio fez nas listas de deputados terá também consequências na campanha. Quem aparecerá ao lado do líder do PSD? “É uma questão importante para a campanha. Vamos ter António Costa rodeado de caras que os portugueses conhecem há seis anos, simpatizando mais com uns do que com outros. Rui Rio estará rodeado de pessoas que a generalidade dos portugueses nunca viu na vida”, antecipa o jornalista Nuno Aguiar.
Para o CDS, a recusa de reedição da velha AD ou da mais recente PAF é a perda da “boia de salvação” que podia disfarçar um mau resultado nas eleições legislativas. O CDS fica mais vulnerável e o seu provável mau resultado marcará o futuro das alianças à direita. “É um momento de viragem para a direita portuguesa, a partir do qual o PSD terá de mudar muito a forma como chega ao poder. Morra o CDS ou torne-se residual, o PSD terá de fazer outras alianças. Com o Chega, há uma série de problemas e nem sabemos se o PSD o aceitaria, e mesmo a Iniciativa Liberal venderá o seu apoio mais caro do que o CDS. A facilidade de alianças à direita deixa de existir”, explica Nuno Aguiar.
Outro tema em análise foi a demissão de Eduardo Cabrita. “A ‘ponte de Entre-os-Rios’ de Eduardo Cabrita foi a morte do cidadão ucraniano às mãos do SEF, não o caso do acidente da A6. Não se demitiu então, mas demite-se agora, convenientemente, antes da campanha eleitoral, sob o pretexto da conclusão de um inquérito que nem sequer o incrimina…”, afirma Filipe Luis.
Uma saída que chegou tarde. “Se tivesse de apontar o maior erro político de António Costa no último ano foi ter segurado tanto tempo Eduardo Cabrita. Grande parte da imagem de soberba, arrogância e desresponsabilização deste governo vem deste ministro. O PM segurou-o muito para além do que seria sensato. E ao segurá-lo, tornou-se ‘cúmplice'”, afirma Mafalda Anjos.
Em análise estiveram também as vacinas para as crianças dos 5 aos 11 anos. O anúncio foi feito esta semana pela Direção-Geral da Saúde e tem por base a recomendação da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, que concluiu que a vacina é segura e que irá prevenir a transmissão e a doença grave nesta faixa etária. “É uma matéria sensível, que não oferece consensos fáceis, porque há muitos aspetos a considerar. É preciso sensibilidade e bom senso”, coincidem os olheiros da VISÃO. E conhecer os pareceres técnicos seria importante para acalmar os pais.
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