No meio da incógnita que paira sobre as eleições presidenciais, existe, pelo menos, uma certeza: António Vitorino – partindo da esquerda e federando ao centro – reúne todas as qualidades para ser o candidato a Presidente da República.
O país está entalado entre protocandidatos pouco inspiradores e donos de visões limitadas, num cenário político que não oferece muitas alternativas dignas da função.
De um lado, a representação de um vazio em forma de ponto de interrogação, configurado na farda de Almirante, cuja falta de ideias e de um projeto concreto para o futuro de Portugal é tão grande quanto a sua audácia e visão política. Em contrapartida, António Vitorino, com a sua vasta experiência — não apenas no panorama nacional, mas também no domínio das dinâmicas internacionais — surge como uma opção certa, sólida e competente.
É conhecido pela sua visão de Estado – ponderada e sensata – tornando-se num ponto de equilíbrio imprescindível para o futuro do país, especialmente num momento em que as interações globais se tornam cada vez mais complexas, exigindo uma liderança capaz de pensar além do imediato. Em contraluz ao populismo e à superficialidade política que têm dominado o discurso público, Vitorino mantém-se firme na sua postura de seriedade – às banalidades contrapõe conhecimento, às propostas desprovidas de substância afirma uma visão clara do país no mundo, desde a Lusofonia à Europa, do Atlântico ao Mundo.
Desde gravadores em reuniões semanais entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro, passando por comentários menos ortodoxos sobre vestuário, Presidentes inspiradores ou mais resguardados, o Palácio de Belém já experimentou de (quase) tudo.
Em 2026, seremos chamados a escolher o novo residente de Belém e, surgem por aí, dinâmicas bizarras na dança presidencial.
Entre o já falado nacional-fetichismo das fardas ao “agarra-me, se não eu avanço” da direita; somando a orfandade de candidato oriundo do centro-esquerda – lacuna evidente destes últimos 20 anos -, a disputa presidencial não se afiguraria de grandes emoções nas noites de comentário eleitoral dos canais generalistas, que antecedem as eleições.
Este vácuo é particularmente preocupante, pois, face às complexas questões internas e externas que o país enfrenta – instabilidade governativa, a Europa na era do Trump 2.0, somando-se uma Guerra em solo Europeu e no Médio Oriente – é mais urgente do que nunca que a presidência seja ocupada por alguém com uma visão estratégica capaz de integrar não só as realidades nacionais, mas também as dinâmicas globais.
E é precisamente aqui que António Vitorino entra.
António Vitorino é frontal, direto e claro nas ideias que defende e sempre defendeu ao longo da sua vida pública. É a representação de uma visão política que não se abstém, nem se contenta com “poucochinho”. Não precisa de acertar contas com o passado. É uma figura cuja certeza das palavras de jurar em “Cumprir e fazer Cumprir a Constituição”, não recairá num conjunto de análises e comunicações banais à sociedade portuguesa, muito menos em pioneirismos de Tiktok, ideias quiméricas de alteração a um sistema político que hoje é estável e funcional no seu pluralismo e nos seus instrumentos democráticos.
Dentro dos limites destas discussões mundanas, desta montra de banalidades, deste jogar o jogo apenas pelo jogo, a certo ponto, deixamos de ambicionar o possível e resignamo-nos àquilo que parece ser mais provável.
Enquanto discutimos, algures, ainda há quem sinta fome num local que diste poucos minutos de de uma casa onde outros já estão demasiado saciados para acabar a refeição. Algures, alguém se despede da família para tentar apanhar o elevador social noutro país, à procura de melhores oportunidades. Algures, mais uma mulher morre às mãos de um homem, vítima de violência doméstica. Os problemas reais sucedem-se. As soluções e visões escasseiam. Mas espante-se o leitor, o desfile, os cortejos de candidatos sem visões de país multiplicam-se. No lugar da visão abnegada, objetiva coletiva – de país e sociedade -, sucede-se vertiginosamente o exercício do ego.
Enquanto as conversas políticas se perdem em trivialidades, o país continua a viver uma realidade marcada por desigualdades, injustiças e desafios que exigem soluções urgentes. Neste contexto, é fundamental que a Presidência seja assumida por alguém capaz de entender a complexidade da realidade portuguesa, mas também de apresentar propostas para superar os desafios sociais e económicos que persistem.
Não basta ocupar um cargo simbólico e acenar como o Rei de Inglaterra, é necessário apresentar um projeto claro e unificador. Unificador da decência e dignidade dos democratas deste país.
Apesar da discussão da espuma dos dias, sempre existiram pessoas que acreditaram que as coisas não deveriam ser assim — que em Portugal, as coisas podem e devem ser diferentes.
Estas pessoas, que dedicam a sua vida à Coisa Pública, são as que eu costumo apelidar de “eternos insatisfeitos”. São indivíduos que acreditam que o nosso país tem um potencial tremendo neste canto da Europa, porém, que está cansado de viver do potencial.
É essencial que a Presidência esteja nas mãos de alguém com esta visão: uma liderança que faça política com razão e empatia, com a capacidade de compreender os desafios do presente e, simultaneamente, ter a coragem necessária para orientar o país em direção a um futuro melhor.
Um Presidente deve ser o primeiro entre iguais, uma delas, uma pessoa como tantas outras; mas aquele que recai a missão e obrigação, em tempos de incerteza, de orientar, unir e dar esperança a todos os portugueses.
E é por isso que, mais uma vez, vejo em António Vitorino a escolha mais natural para o cargo. Com a sua experiência, ponderação e sensatez, ele representa uma figura agregadora que o país precisa neste momento. Deputado, Ministro, Comissário Europeu, Diretor-Geral da Organização Internacional para as Migrações, com uma passagem interessante pelo privado e atualmente Presidente do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo, já fez de tudo. Ou, quase tudo.
Não sucumbe ao populismo, nem se deixa influenciar por discursos vazios ou por reformas radicais que, por exemplo, tendem a mesclar na conversa a Segurança e a Imigração. Pelo contrário, António Vitorino oferece uma visão equilibrada e realista, alicerçada na sua experiência e na sua compreensão das complexas dinâmicas internacionais que determinam, mais do que nunca, o futuro do país.
É tempo de confrontar os “porquês” de hoje com os “porque não” de amanhã, como diria Bobby Kennedy se por cá andasse. A visibilidade ou popularidade entre os portugueses de António Vitorino (preocupação entre alguns nos bastidores), torna a conquistar-se. Uma oportunidade destas para o campo socialista é que talvez não.
Em 2018, Miguel Santos Carrapatoso escreveu num artigo, que António Vitorino “foi quase tudo na política”. Veremos.
Mais artigos deste autor
+ Menos morcelas, senhor Presidente
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.