Num abrir e fechar de olhos, passaram-se quatro anos de liderança da Juventude Socialista. Da próxima vez que um jovem socialista assinar esta rubrica, já terá sido eleita uma nova liderança desta organização, a que dediquei tanto tempo, amor e convicção. Não pretendo com este artigo ensaiar um discurso de despedida, mas, sim, refletir convosco sobre a evolução da participação política dos jovens neste período.
Afinal, na narrativa da bolha político-mediática, os jovens continuam a ser, ao mesmo tempo, desinteressados e obreiros de grandes tendências ideológicas (o wokismo e o novo conservadorismo, o slow-quitting e a sociedade do burnout). Nas organizações políticas, o jovem continua a ser simultaneamente desejado e desprezado, e raramente por falta de capacidade ou de ação. Os jovens fazem falta no presente mas são sempre e apenas futuro, o que concede a esses responsáveis políticos o álibi perfeito para haver poucos jovens envolvidos na construção deste Portugal de Abril.
Em 4 anos, muito mudou sobre as formas de participação dos jovens. Com exceção de uma sede por convívio presencial no longo desconfinamento da Covid, a pandemia criou o hábito da participação por ecrã. Essa realidade não é só na política, também se vê por exemplo no ensino superior, mas tem consequências em especial para a troca de ideias, formação de quadros e criação de comunidades.
Com menos deslocações a outras realidades, vem menos empatia, menos solidariedade e outras formas de laços sociais. Nunca um jovem sentiu que fosse tão fácil chegar a titulares de cargos políticos. O digital veio acabar com essa distância. Por outro lado, mesmo que falem com muitas pessoas, os algoritmos poderão colocar-nos a falar sobretudo com quem pensa como nós. Menos expostos à pluralidade e mais expostos à vaidade, os jovens nunca se sentiram tão sós e ansiosos.
Por outro lado, os últimos anos revelaram um impasse na organização da intervenção cívica. Se alguns achavam que os partidos estavam esgotados e o movimento associativo envelhecido, eles não foram substituídos por movimentos inorgânicos. Pelo contrário, estes têm-se revelado sempre como pais ou filhos das velhas formas associativas. Pior, ao contrário do que aconteceu com o movimento Occupy, Que Se Lixe a Troika e 15-M, nenhum movimento popular, liderado por jovens ou não, ganhou massa crítica neste período particular. É certo que novas e meritórias iniciativas têm surgido, desde a academia Próxima Geração à plataforma EuVoto, mas com que alcance? Nas massas, saem-se como ganhadores novos canais mediáticos que permitem ao jovem assumir um papel de cidadão-consumidor.
Os partidos políticos não podem, por isso, apostar apenas nas fórmulas tradicionais. Precisamos de mais protagonistas jovens, mas os jovens não votam num partido por causa da composição etária das suas listas. Precisamos dos problemas dos jovens no centro do discurso político, mas tanto António Costa como Luís Montenegro o fizeram, sem impacto que se visse. Até há quem entenda que os jovens se mexem mais por causas do que ideologias, esquecendo o quão efémero se torna essa simpatia partidária. Quantos jovens hoje deixarão de votar no PSD porque ele (até há bem pouco tempo) agiu contra a IVG ou a adoção homossexual?
Nestes 4 anos, tenho acreditado numa geração que quer ser consequente com o que defende. Acredito que uma organização juvenil será tanto mais aliciante se, mais do que abanar bandeiras, transformar o mundo por suas mãos. Como sempre, muito falta ainda fazer para resolver os problemas estruturais da nossa geração, a começar pelos baixos salários e a acabar pelo afastamento entre os jovens e a política. Todavia, orgulho-me de, neste balanço de mandato, poder apresentar não só várias dezenas de conquistas legislativas, desde o trabalho à habitação, sem esquecer a igualdade e o ensino superior, como também uma organização mais próxima do território e do associativismo e com atividades onde a voz de quem participa é ouvida. Fazer um tempo de agir era e foi, aliás, a vocação e obrigação da organização de juventude do partido que estava no poder.
Hoje, porém, é a forma mais que a substância que importa e o orgulho no que fizemos não nos dá o luxo de ignorarmos a realidade ou sermos complacentes. O mundo não é como achamos que deveria ser. A questão é o que fazer – adaptar ou resistir?
Seguramente os socialistas, não só JS mas sobretudo PS, terão de investir ainda mais e melhor na comunicação. Está visto que é a única coisa que funciona. Devemos, todavia, fazê-lo mantendo-nos fiéis a quem somos, comunicando sempre com substância e valores. Sábias, afinal, são as palavras do poeta Dylan Thomas: “não entres tão docilmente nessa boa noite. Clama, clama contra a morte da luz.”
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