“Elon Musk” de Walter Isaacson, um dos mais reputados biógrafos do mundo, é fascinante e aterrador. Autista, com Asperger, obsessivo-compulsivo, e emocionalmente limitado, Musk conseguiu ser o homem mais rico do mundo, e mais conhecido, à conta de uma obsessão que não o larga: viver em Marte. Ou colonizar Marte. O SpaceX nasceu com esse objetivo, a Tesla é um sinónimo de retardamento da destruição do nosso planeta, e tudo em que se meteu – menos a compra do Twitter – resulta dessa compulsão. A Terra acabou, ou vai acabar, e temos de fugir para Marte.
Dito assim, Musk poderia ser um paciente de uma ala de um Hospital, mas a genialidade que advém do Asperger permitiu-lhe conceber e construir empresas de grande sucesso mundial, mesmo quando esteve à beira de perder tudo. Vagueou pelo Inferno, quando o SpaceX falhou os lançamentos, ou nos momentos em que não conseguia acertar no modelo do carro elétrico, mas o seu transtorno imparável conseguiu superar todos os problemas e obstáculos.
Lida muito mal com os seus subordinados, que são continuamente despedidos, trabalha 200 horas por dia, acompanha e acampa nas linhas de produção, pergunta repetidamente os preços de todas as peças, e o que estão ali a fazer – descarta umas atrás das outras – e todo esse esforço maníaco gera resultados positivos e inesperados. “Quem mandou pôr 6 parafusos ali? Dois chegam”, ordena. E explica a decisão a uma resma de engenheiros e físicos. Não gosta da automação das fábricas, e chegou a andar com uma lata de tinta laranja para assinalar os robôs que deveriam ser eliminados da linha de montagem da Tesla, trocando-os por “humanos”.
Com o défice emocional que resulta da sua condição, o pior de Musk está sempre presente: diz o que lhe passa pela cabeça, não tem nenhuma “cortina” de bom senso, e está sempre metido em confusões, agressões verbais, e batalhas campais. Adora dormir debaixo da secretária, no meio de uma fábrica, e consegue estar horas agarrado a uma consola de jogos. Tem uma vida pessoal mínima, vários filhos, alguns casamentos, mas poucos podem dizer que são seus amigos. Ou que o conhecem bem. Ou que aturam as suas fúrias e insultos, públicos e privados. O autor ainda o tenta comparar, algumas vezes, com Steve Jobs, mas Elon Musk ultrapassa todas as fronteiras. Um livro obrigatório para quem quer perceber Elon Musk “trocado por miúdos”.
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.