Conheço e gosto do Rui Moreira (declaração de interesse). Acho que é um ótimo presidente da Câmara do Porto, e os portuenses deverão renovar a sua confiança nele, e na sua gestão, dando-lhe uma nova vitória nas eleições autárquicas. Esta é a parte feliz desta coluna.
Mas gostando dele, não gostei nada, nem um pouco, da sua defesa sobre o que aconteceu no final da Liga dos Campeões. Basicamente disse isto: não foi tão mau como o Sporting em Lisboa, e temos de apostar no turismo. Tudo errado, por motivos errados.
O que aconteceu em Lisboa foi uma vergonha, e já estamos a pagar por isso. E se foi num lado, foi também no Porto, e vai custar caro. 20 mil adeptos do Sporting, naquela noite, são os mesmos 20 mil, ou mais, de britânicos no final dos Campeões. Com uma agravante desmedida: instalaram-se na cidade durante três dias – e que três dias! – manhã, noite e longas madrugadas, muitos milhares de litros e cerveja, e sem nenhuma preocupação com a pandemia. E vieram de um país onde as variantes mais perigosas da Covid estão ativas, e em transmissão entre grupos etários mais novos, e não vacinados.
O resultado parece óbvio: se num país que já tem 75 por cento da população vacinada, se contada apenas uma dose, os contágios com as variantes ainda não abrandaram na população abaixo dos 40 anos, pior será para nós, que ainda vamos nos 30 e pouco por cento com uma dose. Ou seja, vieram com o vírus, mais a família mutada, e deixaram-no no Porto. Por que raio não escolheram uma cidade britânica para fazer esta festa de contágios?
E quanto a apostar no turismo, nestas circunstâncias, e desta qualidade, não parece ser o melhor para o país e para o Porto. Isto não foi uma enxurrada turística à grande e bela cidade do Porto, foi um dilúvio de cerveja e vírus que já está em transmissão descontrolada na cidade. Turistas destes não fazem falta. E, por último, conviria não dar a ideia de que nos vendemos por uns trocos, poucos e efémeros, que vão deixar a sua marca em contagiados, internados e mortes. E tudo isto para não entrar na moral e na autoridade do Estado, e da autarquia, que se esfumou. Depois da vergonha em Lisboa, o Porto não merecia uma dose pior.