Há momentos, raros, em que a política se transforma num trapézio, e em que os artistas não acertam na corda. Melhor: acertar até acertam, mas de esticada que estava, a corda, fez ricochete e estatelaram-se no chão. Nem chegaram ao colchão. Nada de grave, mas o espetáculo foi arrepiante. Até parecia que era de propósito. Foi assim, com o BE, no circo do Orçamento.
Não correu bem. Nada bem. De tanto esticar, de tanto exigir, de tanto impor, distraiu-se com esse jogo, e não percebeu a tempo que o Orçamento já estava garantido. No trapézio o tempo é tudo. Tem de ser milimetricamente cumprido. Não aconteceu com o Bloco, e isso paga-se caro. Aliás, uma sondagem do JN dizia que 86 por cento dos bloquistas apoiavam o Orçamento de Estado. Queriam o Bloco no Orçamento. Desejavam um OE viabilizado.
Há alguma falta de comunicação entre a «Mesa» do BE (porquê mesa? Será que é por ser uma mesa?) e os militantes ou apoiantes. E caindo do trapézio, não há volta a dar, porque o dono do circo não quer mais experiências. Quem não faz à primeira, já não entra na segunda. Pois é, nada fácil.
Qual é a volta que o Bloco vai dar? Bem não se saiu, e isso pesa, fortemente, no momento certo. Porque ninguém se esquecerá, e muitos vão fazer recordar, que num ano dramático para o país, numa crise sem fim, o Bloco preocupou-se apenas consigo, e com as suas exigências, boas ou más não interessa, e não com a necessidade urgente de existir um Orçamento para dar estabilidade ao país. Inversamente, 61 por centos dos comunistas apoiaram a decisão da CDU, o que significa que estão atentos às pessoas.
O BE, apesar de ser um excecional trapezista, agora tem de dedicar-se ao «flick-flack». No chão. Em terreno seguro. Não nas nuvens. E pedir desculpas ao público, e ao dono. Há momentos, raros, em que os partidos se perdem na estratégia, e esquecem-se do objetivo. Mas convenhamos que o Bloco tem muito de contorcionista, e Catarina Martins até se mostra incrédula com o que aconteceu. E vai acontecer. E se, de repente, o PS deixar de contar para o BE? Grande chatice: deixa de ter poder e influência, e pode voltar a ser um pequeno partido. É extraordinário como se tem tudo, e como se perde tudo, num escasso momento.