De hoje a três meses, precisamente, os americanos vão dizer se querem que Trump continue na Casa Branca. É só disto que se trata, a 3 de novembro. Biden não interessa para nada, podia ser ele ou qualquer outro. Quem vai a jogo, quem vai ser referendado, é o atual presidente dos EUA, mais a sua administração, e forma de governar. Trump sabe isso, desde o início, e está agora a puxar todas as cordas que pode, e não pode, e todos os truques que ainda tem na manga.
A mais recente ideia é adiar as eleições. Como sabe que não pode tomar essa decisão, só o Congresso, e aí ninguém quer, usa e abusa disso para criar e alimentar a ideia de que a votação feita por correio, universal em alguns estados, vai ser fraudulenta, não controlável, e com um resultado inaceitável. Aqui comete um erro de palmatória: se voltasse a ganhar, então ele próprio estava em causa.
Trump chegou a um ponto, quase quatro anos depois, que figuras importantes do seu partido, mas na maior parte do caso anónimas, lançaram o “«Projeto Lincoln” para o tirar da Casa Branca. São muito bons, conhecem todos os truques, e têm dinheiro que se farta. Fazem anúncios televisivos especialmente direcionados para as estações e programas que Trump gosta, deixando-o embaraçado, nervoso, reativo, e a multiplicar os erros.
Quem leu o livro de Bolton, o ex-conselheiro de Segurança Nacional, percebe o caos permanente na Casa Branca, as decisões erráticas de Trump, os seus altos e baixos, e a fuga permanente dos melhores do seu Governo e staff. É desolador. Poucas vezes na História, ou nenhuma, os EUA foram tão criticados, depreciados, isolados. Os aliados fogem da Casa Branca, os inimigos deixaram de o ser, e tudo o que passa pela cabeça de Trump exige um permanente esforço de descontaminação, redução e anulação.
Mas tudo isto tem um reverso, um lado não contabilizado, uma faceta incontrolável. Milhões de americanos adoram-no, e como as eleições não são diretas, mas por maioria simples em cada estado, com mais ou menos grandes eleitores, basta a conjugação de vários fatores para um presidente ser eleito sem a maioria dos votos. Trump, aliás, é um exemplo disso mesmo, quando ganhou a Hillary. Agora, nestes 90 dias, joga-se tudo. E tudo é continuar a ter uma América desgovernada, louca, irrefletida, ou empossar um Presidente da velha guarda, sem ideias nem soluções, mas com bom senso e experiência. Trump aguarda, apenas, pela figura que Biden vai escolher para vice. Se for da nova vaga esquerdista, Biden estará a entregar o jogo. É também nisto, nesta escolha, que reside a chave do Euromilhões eleitoral.