De Astrologia e Astronomia, sei tanto quanto de fusão a frio. Nunca consegui distinguir no céu as constelações e, quanto ao alinhamento dos planetas, parece que sim que ocorreu aqui há dias um, mas sinceramente não dei por nada.
Já o Mercúrio retrógrado… ah esse sem dúvida está ao rubro como compete ao dito planeta.
Nas últimas semanas, fomos assistindo, em crescendo, a acontecimentos tão graves e tão coincidentes no tempo que só são possíveis de explicar através dos astros.
Comecemos com a hospitalização do Papa Francisco.
Mais do que um chefe de governo ou até mesmo do que o chefe duma Igreja, o Papa Francisco representa, para crentes e não crentes, o lado luminoso da Força. É um guia espiritual respeitado pela sua imensa humanidade e simplicidade e mesmo para os que se dizem ateus a sua hospitalização e a quase certeza não verbalizada que não mais sairá com vida do hospital, representa o fim de uma era. Há quem diga que a morte terá já ocorrido e que aquele que, para muitos, era a voz dos que não têm voz, respira artificialmente, numa tentativa de retardar a convulsão que o seu desaparecimento e substituição irão causar.
Entretanto, o apelidado cessar-fogo em Gaza vai-se tornando numa horrenda farsa à medida que os dias se sucedem. A continuar assim não será necessário realojar a população palestiniana para transformar toda a região na Riviera do Médio Oriente com que sonham Netanyahu e Trump: o genocídio terá tido sucesso total. Nem Hitler conseguiu melhor.
Há três anos, a 24 de Fevereiro, convidada por uma estação de TV para comentar incursão da Rússia na Ucrânia, e respondendo ao jornalista sobre se achava que iria haver guerra, respondi que não era uma questão de “achar” mas sim de ler os sinais e a História, olhar os protagonistas e as forças geopolíticas e sobretudo geoeconómicas para ter a certeza que sim. Acrescentei ainda que não só a guerra aconteceria como seria longa.
Já fora do “ar”, o jornalista, um jovem que a par de muito poucos outros me faz ainda acreditar no jornalismo, voltou a insistir acrescentando que eu não estaria a falar a sério. Já não me lembro do que lhe disse. Sei que ficámos à conversa durante um bom tempo, no final do qual me disse que esperava que estivesse errada. Eu também, mas a minha década e meia de ensino de Geopolítica e Geoestratégia deixavam-me poucas dúvidas. Sobretudo, deixava-me uma certeza. A Rússia jamais admitiria sair derrotada! Não se tratava e não se trata de poder bélico (aí deixo todos os comentários para quem sabe de misseis balísticos, nucleares e outros que tais).
Trata-se de um outro poder bem mais determinante: o poder histórico, económico, nacional/imperialista de um país que jamais aceitará outra condição na geopolítica internacional que não seja a de uma potência, mesmo num mundo que passou a multipolar.
A bolha de paz e de prosperidade em que nos movíamos há sete décadas impediu os líderes de ver esse conflito como uma arena onde se digladiavam poderes que transcendiam em muito as fronteiras da Ucrânia. Jogava-se a relevância da Europa, os acordos de assistência mútua, a NATO, a importância da ONU, o Direito Internacional, uma nova ordem internacional.
A chegada de Trump ao poder não acontece por via de um golpe de Estado mas sim por força do voto norte-americano. Poder-se-á discutir até que ponto terá existido interferência externa na decisão, mas é inegável que a Casa Branca se abriu a Donald Trump por força e vontade de um homem/um voto. Noutras circunstâncias, diríamos que fora a democracia a funcionar. Mas, desta vez, a democracia terá feito um mau serviço a si mesma. Provavelmente, os astros estavam contra.
A cena gaga na Sala Oval resume o momento político atual: a força da razão desmorona-se perante as razões de força, que, neste caso, são predominantemente, de caráter económico. Pelo caminho, vão ficando os cadáveres dos que desconhecem a importância de um dress code, daqueles para quem toda a terra é rara e que pouco se importam se o míssil que lhes ceifou os entes queridos e as próprias vidas tem um alcance de 5 ou de 5.000 Km, ou usa a tecnologia chinesa, americana ou europeia. A morte é tão democrática que não poupa nem os que a determinam.
Como se tudo isto não bastasse para maldizermos os astros, temos ainda a nossa crisezita doméstica.
De um lado, um primeiro-ministro que, aparentemente, não estaria em exclusividade e que como tal, levanta suspeitas quanto aos eventuais conflitos de interesses que daí podem surgir. Perante esta sombra, porém, não queria arriscar uma moção de confiança porque… faz contas.
Do outro, uma oposição liderada por um partido que não arrisca deitar abaixo um governo no qual, está convicto, os portugueses já não acreditam, porque…faz contas.
É caso para dizer, que se lixe o País porque o que interessa é o resultado das eleições.
Mas nem tudo está perdido.
O Brasil sempre venceu um Oscar e se a Fernanda Torres não levou para casa a estatueta foi porque, de facto, perante o caos que se instalou só podia ser a protagonista dum filme com o título ANORA a levá-la.
É que resume bem a situação em que estamos!
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