Sendo um dos tópicos, senão “o” tópico mais quente do momento na Europa e no mundo, a imigração esteve até há bem poucos dias arredada da discussão partidária interna.
A entrada fez-se de forma abrupta e com uma comunicação muito pouco feliz.
É uma verdade de La Palisse que ninguém contesta que os fluxos migratórios e o acolhimento de imigrantes tem que ser feito com segurança, como aliás é natural em todas as áreas de recolocação de populações mesmo nas que, internamente, se movimentam.
Acabar com bairros problemáticos nas grandes cidades e realojar os seus habitantes noutros locais implica sempre um planeamento de segurança que passa por processos de integração, de informação e formação previamente estabelecidos.
Colocar numa mesma frase e, lado a lado, a palavra “imigrante” e “insegurança” é dar origem a raciocínios, narrativas e atos de intolerância, xenofobia e ódio.
Acredito verdadeiramente que não era essa a intenção, mas num momento e num mundo onde a palavra tem a vida contada ao nano segundo, a informação idem e os ânimos se encontram bastante orientados para a não aceitação do outro, um discurso deste tipo é perigoso e inadequado.
Os discursos e as narrativas anti-imigração têm anos, foram perfeitamente orquestradas para determinados fins políticos e estão agora a dar frutos. Ir contra esta corrente pode fazer perder eleições e isso nenhuma força política pretende
Neste momento as pessoas não ouvem as notícias até ao fim. Regemo-nos por aquilo a que os comunicólogos chamam soundbites, que podíamos traduzir como “o que fica no ouvido”. E o que nos fica no ouvido é, por um lado, o que estamos mais disponíveis para ouvir e, por outro, o que é repetido pela comunicação social.
Por isso é que o tema foi mal introduzido nesta campanha: porque lançou o soundbite de que a imigração traz consigo maior insegurança.
Independentemente de se dizer que é preciso mais imigrantes para inverter a curva demográfica e para proteger o Estado Social, que as contribuições pagas pelos imigrantes são muito superiores às recebidas, que não existem números que sustentem essa imagem de País mais inseguro por causa de quem acolhemos, o que o cidadão comum ouve é: mais imigração igual a menos segurança.
Curiosamente, as evidências demonstram que o número de vítimas de violência que, efetivamente, cresceu no nosso País são cidadãos estrangeiros.
Vivemos num país e num tempo de “achismos”. Achamos que sim, mas também que não. Damos pouca importância aos números, aos estudos ou às evidências.
Cada vez que alguém se queixa de que “os estrangeiros estão a tirar-nos o trabalho”, ou que “não pagam taxas moderadoras no SNS ou que têm este ou aquele privilégio, quando confrontado com a pergunta se a situação já se passou consigo aí, vem a resposta sacramental: “Comigo não, mas com um amigo dum amigo…” Ou então: “Não, mas sei de fonte segura que…”
É lógico que ninguém quer um país de portas escancaradas ao exterior. Mas, entre isso e a existência duma política de portas aferrolhadas, vai um abismo.
Por isso, era muito importante que cada partido, cada força política, dissesse qual a sua visão para esse problema multifacetado e transnacional. Até porque a questão exige um equilíbrio de forças entre o humanismo que nos deve orientar e a objetividade duma sociedade que tem normas e valores a defender. Entre a necessidade de inverter a diminuição da demografia e o dever de integrar quer os que chegam quer os que aqui nascem. Entre o respeito pelas culturas externas e a nossa. Entre os nossos jovens que precisamos reter e os demais que precisamos de atrair.
Não é um balanço fácil nem é possível atingi-lo dum momento para o outro. Por essa razão é tão imperioso conhecer as diferentes posições dos diversos políticos.
A imigração transformou-se numa espécie de elefante na sala. Sabemo-lo lá, conhecemos o espaço que ocupa, mas tememos aproximar-nos com medo de que possa partir tudo à sua volta. E este “tudo” não significa violência ou turbulência. Significa perder ou ganhar eleições.
Os discursos e as narrativas anti-imigração têm anos, foram perfeitamente orquestradas para determinados fins políticos e estão agora a dar frutos. Ir contra esta corrente pode fazer perder eleições e isso nenhuma força política pretende. Mesmo que saiba que, a médio longo prazo, serão atitudes corajosas de acolhimento e integração, de políticas de real aculturação construindo sociedades multiculturais, que darão um novo fôlego à democracia.
Mas…quem quer esperar por tal?
Os únicos condenados à longa espera são os que nada têm por que esperar.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.