Numa breve volta pelos momentos quentes, recordo-me do Chega ser acusado de clonar jornais para partilhar informação falsa nas redes sociais. Mais tarde, de ler que o líder do partido foi condenado por ofensas a uma família do Bairro da Jamaica, no Seixal, a quem chamou de bandidos. Até aqui… chamaria gestão corrente de um partido que nasceu a 9 de abril de 2019 e que necessitava de se afirmar na senda política.
Mas, esse mesmo partido já se apresentou a vários atos eleitorais e, claro, necessitou de identificar/mapear homens e mulheres que, de norte a sul, sem esquecer as ilhas, compõem as suas fileiras, tal qual outro partido político. Por outras palavras, cresceu e é hoje a terceira força política, num país que embora se diga democrático ainda olha com alguma desconfiança para todos os partidos fora do chamado “arco da governação”.
Voltando aos casos, e quando tudo parecia ter tudo para correr bem, eis que quase numa assentada o país fica a saber que deputados – municipais ou com assento parlamentar – do Chega estão acusados de furtar malas em aeroportos, conduzir embriagados, prostituição de menores, participação económica em negócio. Para um partido que convida a “Limpar Portugal” ou que sublinha “Chega de Corrupção”… não bate a bota com a perdigota.
Não há partidos imunes a escândalos e o Chega não é exceção. No entanto, o líder do Chega tem gerido os “casos” em tempo real e, sobretudo, mantendo-se coerente nas posições políticas. E, é exatamente este ponto que me leva a questionar: porque não têm os líderes dos outros partidos – também a braços com escândalos – reação semelhante? Porque não exigem a quem prevarica a renuncia imediata ao mandato? Porque optam por uma estratégia de “passar por entre os pingos da chuva” ou não vi, não ouvi, não falo?
A diferença não está na génese do partido. A diferença está no facto de o Chega já ter chegado ao poder, mas ainda não ser poder. Uma latitude que permite a André Ventura imprimir curativos no Partido, enquanto líderes como Luís Montenegro ou Pedro Nuno Santos apenas imprimem paliativos. Afinal, chegar e manter-se no poder significa ter rede. Uma rede composta por homens e mulheres que, qual formiga, trabalham no terreno de forma incansável e em prol de dias de liderança da sua força política.
Gerir pessoas significa coordenar e orientar equipas de forma eficiente para alcançar objetivos organizacionais. Gerir partidos políticos significa também gerir egos. E um ego mal gerido é suficiente para abalar uma estrutura de base larga (leia-se cacique).
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