O assunto das eleições presidenciais é o hot topic do momento, parecendo até por vezes um reality show para ver quem é o mais popular, o mais apoiado, mais gostado, e quem poderá, no fim, conquistar o coração político dos portugueses – um autêntico Keep Up with The Possible Presidents of the Portuguese Republic.
De um ponto de vista comunicacional, todos os protocandidatos são aborrecidos: o Almirante Gouveia e Melo, pelas funções que ainda desempenha, tenta constantemente exaltar um saudosismo da farda de guerra que faz lembrar outros tempos; António José Seguro bem tenta, porém tem uma incapacidade brutal de entusiasmar um eleitor; António Vitorino, apesar da sua imensa experiência política, nomeadamente na área da Defesa e das Migrações (o que seria uma grande vantagem em relação aos seus possíveis oponentes, considerando os tempos de globalização em que vivemos), está um pouco ofuscado pelo barulho em torno de Seguro, e as sondagens demonstram isso.
Não menos aborrecida é a comunicação dos candidatos já confirmados: André Ventura e Luís Marques Mendes. Ainda que diametralmente diferentes, ambos são cópias, ambos estão num caminho que já é conhecido de todos e que por isso não anima. Ventura é discípulo das correntes nacionalistas representadas por Donald Trump, Marine Le Pen, Jair Bolsonaro, Santiago Abascal, entre outros compinchas dessas derivas extremistas. E por essa razão, todo o seu discurso é altamente previsível, basta estar atento ao que os nomes citados anteriormente vão dizendo nos seus respetivos países para saber o que o líder do Chega! vai dizer na semana a seguir.
Marques Mendes, como é óbvio e por isso não será surpresa para ninguém, é uma tentativa de Professor Marcelo Rebelo de Sousa 2.0 – até o tom que adotou no seu discurso oficial de candidatura fazia lembrar os tiques do ainda Presidente da República.
Infelizmente, e como está bem à vista de todos, os tempos de Jorges Sampaios e Mários Soares já passaram. A coragem política, inteligência e a tenacidade de Jorge Sampaio ao avançar contra a vontade do partido e do seu líder à época, António Guterres, ou a experiência e vocação para a liderança de Mário Soares ao avançar para uma eleição em que as sondagens inicias lhe davam não mais de 8% são, hoje, boas lembranças daquilo que foi uma época rica em representantes que ultrapassavam o mero âmbito político por lhes serem reconhecidas qualidades e interesses que os capacitavam para exercer cargos da maior importância. Hoje, temos políticos que são políticos – ponto. Não se vê neles cultura, mundo, inteligência ou qualquer outra vocação sem ser pertencer a um grupo parlamentar.
Com isto não quero fazer um elogio ao passado como vontade de o trazer para o presente – nada disso. O objetivo é apenas mostrar que para se ser bom político não basta perceber de política ou ter bons instintos. Está na hora de, pegando nos bons exemplos que Portugal já teve, criar novas formas de fazer política, criar novos standards para aquilo que é também uma nova geração e uma nova era – tal como Sampaio e Soares fizeram no seu tempo.
Não surpreende que o Almirante tenha boas intenções de voto nas sondagens: vem de fora dos partidos, é-lhe reconhecida qualidade na profissão que exerce e ataca constantemente o establishment. É uma coisa nova embrulhada numa estética antiga mas que ainda assim muda os ares.
A Esquerda e a Direita, se não inovarem nas escolhas, vão surpreender-se com o resultado das presidenciais. São precisas caras frescas com currículo, claro, e experiência, mas também com noção de que um discurso monocórdico como o de Marques Mendes não ganha votos e que os gritos incendiários semelhantes aos de Ventura captam a atenção mas a longo prazo cansam. Já ninguém quer ouvir politiquês. As pessoas cada vez mais se sentem conectadas com quem fala como elas naturalmente sobre assuntos do dia-a-dia e até, imagine-se, com algum humor de vez em quando, coisa que em Portugal parece difícil. Basta ver como a campanha de Trump apostou numa autêntica “rota dos podcasts” informais, com um público-alvo jovem e atento – funcionou. De repente, aquela figura pintada de maléfica e assustadora está a falar de forma descontraída e a sorrir, parecendo um amigo de quem o via e ouvia.
As redes sociais alteraram por completo a forma como comunicamos: a comunicação está mais autêntica, menos filtrada, mais próxima do indivíduo, mais rápida e muito, muito, menos formal. Alguns políticos já vão percebendo isso, mas a maioria ainda está nos anos 2000. Keep up, politicians!
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.