Jerónimo de Sousa sai de cena. Entra Paulo Raimundo. Mas, quem é o novo líder comunista, de onde vem, porque sai Jerónimo neste momento, porque não houve debate e antes uma sucessão qual família monárquica, por onde anda Bernardino Soares, João Oliveira, João Ferreira e outros camaradas conhecidos do grande público? Estas são algumas das perguntas que mais se têm ouvido desde domingo, dia em que numa conferência de imprensa Jerónimo indicou o senhor que se segue no cargo de Secretário-geral do PCP.
As respostas às questões têm sido tema de conversa em televisão, rádio, café, grupos de WhatsApp, redes sociais. Mas, vamos por partes! Jerónimo há muito que deveria ter deixado o cargo de Secretário-geral do PCP. Foram 18 anos de mandato à frente de um partido que parece ter parado no tempo, que deixou de cativar massas, que há muito perdeu a “força do PCP”. Sem saber cativar os mais jovens, aqueles que nasceram em democracia, sem captar o apoio dos mais velhos, o PCP tem demonstrado não estar a acompanhar a atualidade. Veja-se o caso do Alentejo, historicamente território seu, onde nas últimas legislativas perdeu deputados. Se assim é em “casa”, imagine-se no resto do país!
De igual modo, perante a crise económica e social que o país atravessa a “força do PC” parece está moribunda ou morta. E, estou indeciso no adjetivo justamente porque o PCP está a colocar todas as fichas num homem que nasceu no pós 25 de abril e que tem “um percurso de vida marcado por uma experiência diversificada” (…), “inserção no colectivo, preparado para uma responsabilidade que associa a dimensão pública à ligação, contacto e identificação com os trabalhadores e as massas populares e com o Partido, as suas organizações e militantes”, lê-se na página do partido. No entanto, ao escrutinar a biografia de Raimundo percebemos que aderiu à Juventude Comunista Portuguesa ainda adolescente e que antes dos 20 anos passou ao quadro de funcionários da JCP, tendo sido “promovido” a funcionário do Partido em 2004, quando tinha menos de 30 anos. Ou seja, é o chamado trabalhador que nunca foi ao mercado de trabalho no verdadeiro sentido da palavra. Diria que a experiência de Raimundo é muito idêntica à de Isabel Camarinha, a atual secretária-geral da CGTP.
Numa altura em que o País está mergulhado numa maioria PS, em que diariamente somos surpreendidos por mais um escândalo no seio do governo, as famílias começam a sufocar com o custo de vida, a “força do PC” não é capaz de mobilizar e fazer convergir para as ruas os portugueses. Terá Raimundo o dom de congregar?
Não me parece. Ao ouvir as suas ainda poucas intervenções para dentro do PC não lhe sinto a força mobilizadora. É certo que todos temos de começar por algum lado, que os discursos podem ser escritos por terceiros, que a postura e a colocação de voz se treinam. Mas, não lhe sinto o carisma, ainda que tenha “feito o voto” de servir com grande disponibilidade um ideal político, seja um revolucionário profissional mesmo à custa de sacrifícios e perdas.
Não sei o que Raimundo estará a sentir ao ler o que sobre ele se escreve, ao ouvir as já muitas piadas com o seu nome. Sei, no entanto, que o cargo que herdou – ainda que o partido faça questão de avançar que a discussão da proposta para novo líder vai ser votada em reunião da direção do Comité Central, que se realiza este fim-de-semana – é duro, que será o líder de um partido que viu a sua bancada na Assembleia da República ficar reduzida a 6 mandatos, sem que lá tenha assento. Também sabemos que a chamada “cassete PCP” está gasta e em desuso. A seu favor tem, no entanto, o facto de ter nascido em democracia e de encontrar o terreno favorável para convencer os portugueses eleitores a virem para a rua gritar. Tem é de usar as novas tecnologias e não a técnica do fax para mobilizar as fileiras. Afinal, já teve tempo para perceber que o PCP necessita de se modernizar para continuar a senda política.
Será ele o homem certo? Carlos Carvalhas foi herdeiro de Cunhal. Jerónimo de Sousa herdeiro de Carlos Carvalhas. Três estilos nos antípodas, mas todos nascido e conhecedores do Portugal pré abril. E agora? O livro está em branco.
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