Não há idade de reforma na política, mas devia! Sempre defendi esta ideia, e de cada vez que vejo imagens de alguns políticos, ou oiço os seus discursos tenho a certeza de que algo deveria mudar no perfil daqueles que nos governam.
Poderia dar o exemplo de Biden que, cerca de um ano depois de ter tomado posse como presidente dos USA, foi apanhado pelas câmaras a fechar os olhos durante os discursos da abertura da COP26, caiu por várias vezes nas escadas enquanto subia para um avião. Não quero com isto dizer que deveria estar fora da política, mas será que devia estar num cargo executivo? Vou retomar a minha ideia inicial: deveria haver uma idade para os políticos portugueses se reformarem, tal como existe uma idade obrigatória para que os funcionários públicos se aposentem.
Parece que quem faz as leis gosta de aplicar o provérbio “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”.
Num breve olhar pelas idades de alguns presidentes de Câmara, e só para dar dois exemplos, encontramos pessoas com 77 anos, caso de Elvas, 72 anos, caso de Oeiras. Se focar na Assembleia da República, cujos deputados acabam de tomar posse, temos na bancada do PS representantes do povo com 76, 73 e 71 anos. Na bancada do PCP um representante com 75 anos. Se olharmos para a presidência da República encontramos um Presidente com 73 anos.
Ao fizermos um breve exercício de memória encontramos nas listas às autárquicas candidatos com 18 anos a disputar a presidência da câmara de Valpaços e de Tomar. E aqui é curiosa a forma como estes jovens foram olhados pelos portugueses e como comunicaram com o seu eleitorado. Enquanto que um apostou nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, na explicação das ideias através de vídeos, para conseguir chegar aos jovens e garantir alguma interatividade, o outro apostou também nas ferramentas multimédia e no porta-a-porta, talvez pela idade dos seus eleitores alvo. É verdade que não foram eleitos, mas acredito que fizeram muito pela política, nomeadamente na sua geração.
E o que fazem os mais velhos? As selfies são um modelo gasto e que não aproxima ou traz jovens para a política ou tão pouco a exercer um direito que é seu- votar. Discursos com mensagens que remetem para o antes ou pós 25 de abril há muito que deixaram de ser atrativos ou interessantes para quem nasceu nos últimos anos da ditadura (e está hoje na casa dos 50 anos) ou sempre viveu em democracia. Comunicar através de edital é desconhecido e quase disparatado para quem sempre comunicou por SMS, WhatsApp ou tem no Twitter uma fonte de informação à escala mundial, ou no Tik Tok o “edital” para vídeos, que tanto podem ser engraçados como sérios.
Sem querer tirar o mérito ao cidadão político sénior, será que a sua realidade social não está desfasada do mundo real, do Portugal real, onde os mais novos têm uma visão e objetivos de vida completamente opostos? Não deveriam estes senhores sair da primeira linha da cena política nacional e assumir, por exemplo, o papel de Senadores?
As perguntas impõem-se: o que falha na nossa democracia para ter alguns dos principais protagonistas durante décadas? Por que existe uma idade mínima para que um cidadão se candidate à Presidência da República – 35 anos –, mas não existe uma idade máxima? E por que tem um funcionário público de se reformar obrigatoriamente aos 70 anos e um político não? Aliás, para se candidatar ou exercer cargo político não tem qualquer limite de idade. Não estará na altura de revermos legislação e trazer os mais jovens para a vida política, independentemente da sua área profissional? Não estará na altura de as distritais, concelhias, aqueles que estão mais junto da população desejarem para o país uma nova “fornada de políticos” em vez de arrastarem seniores para o confronto democrático?
Portugal precisa de sangue novo, de coragem para fazer reformas, de ter conselheiros que conheçam o mundo real e que, sobretudo, não tenham medo de perder o status quo.
Saibam e queriam os políticos atuais usar tecnologias de informação, como o Twitter ou mesmo o Tik Tok, para comunicar com a população e uma nova geração milleneal, irá aparecer.
As reformas que o País precisa, a visão de futuro que queremos, não se faz com reformados. Precisamos da experiência e conselho dos mais velhos, mas os cargos executivos têm que ser dos que ainda têm tempo para arriscar.
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