Não conhecendo pessoalmente o Prof. António Costa e Silva, sou daqueles que recebi com expectativa positiva a sua escolha para coordenador do futuro plano de recuperação económica. Independente e gestor, tem ideias fundamentadas e, sobretudo, uma experiência de saber fazer. Ouvi-o na TSF, numa das várias entrevistas de discutível oportunidade, que deu logo que foi conhecida a sua nomeação. Notei a forma desenvolta e conhecedora como falou de áreas relevantes como a digitalização, as energias renováveis, a economia do mar, os portos e a ferrovia e a exploração de minerais. Revelou cumplicidade com o Ministro Matos Fernandes e deu nota de que já estava a trabalhar apoiado na equipa do Ministério do Ambiente. São sinais. Estando em causa a elaboração de um plano de desenvolvimento económico de médio e longo prazo, espero que também a proximidade ao Ministério da Economia seja prioritária. Um plano com esta ambição e complexidade não se faz em dois dias, não é uma tarefa individual e será importante envolver e ouvir muitos actores antes de se anteciparem objectivos e conclusões finais.
Permitam-me a opinião de quem já esteve por dentro destas matérias: o problema da política em Portugal não é tanto o diagnóstico dos problemas ou a elaboração de planos para a sua solução. São importantes mas não são suficientes. O maior desafio é sobretudo a execução dos planos que são apresentados.
Fala-se agora da importância do investimento na ferrovia e no desenvolvimento dos portos. E fala-se bem, uma vez que são cruciais para o nosso desenvolvimento e mobilidade. Convém no entanto lembrar que em 2014 o governo de então e do qual fiz parte, apresentou num trabalho coordenado e ouvindo todos os agentes económicos e políticos (incluindo óbviamente todos os partidos), o Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas (PETI). Nele se contemplavam – com orçamento, fonte de financiamento e calendários de execução definidos até 2022- cerca de 50 obras públicas, totalizando um investimento de 6MM€. Mereciam especial ênfase as linhas ferroviárias Lisboa-Porto e as ligações europeias (Aveiro-Vilar Formoso-Norte de Espanha e Sines- Elvas- Madrid) e os portos ( com Sines e Leixões, à cabeça). Estamos em 2020 e os investimentos públicos de que se fala agora são basicamente os mesmos do PETI de 2014… Um exemplo, entre muitos outros planos que no passado foram apresentados e que conhecem, na sua execução, uma morosidade que frustra o nosso desenvolvimento.
Sem pretender desvalorizar o papel do Estado e a importância de um plano de recuperação económica num momento tão crucial como o do pós- pandemia, sou daqueles que acredita que o melhor plano que poderemos dar aos empresários e agentes que criam riqueza, será o de posicionar Portugal, a 5 anos, como um dos 10 melhores destinos mundiais para o investimento internacional. O diagnóstico dos bloqueios à concretização de tal objectivo são conhecidos anualmente, analisando os rankings mundiais de competitividade económica das melhores instituições internacionais. Os atrasos de Portugal são conhecidos: complexidade, imprevisibilidade e peso fiscal na vida das empresas e das pessoas, burocracia endémica dos vários níveis do Estado a lidar com processos de investimento, legislação laboral nem sempre suficientemente adaptável às necessidades da nova economia, e insuficiências de capital e capacidade de gestão em muitas empresas portuguesas. Se conjugássemos a resolução destes crónicos problemas com uma visão partilhada de crescimento e desenvolvimento económico assente nos sectores que se entendessem como chave para a economia sustentável e circular do futuro (e entre muitas novas áreas eu não esqueceria o sector da hospitalidade e da industria manufacturadora), estou certo que Portugal daria um salto que nos aproximaria do nível de vida dos melhores países europeus, para grande beneficio dos nossos filhos e das novas gerações.
Na política planear é importante mas critico é executar.