Embora não seja isso que captou a atenção dos presentes, o Congresso do PSD acabou por lidar também com vários dos temas que, afinal, foram a razão de ser da mudança de líder.
O tema “Bloco Central” era, afinal, só um assunto que criámos para animar a campanha interna, tentar criar diferenças onde as não havia, como explicou Pedro Santa Lopes no seu discurso.
Mas saber com que posicionamento nos apresentamos aos eleitores que perdemos é, de tudo, o mais importante. E aí, desde um presidente que quer recentrar as prioridades do PSD nos mais desfavorecidos às moções aprovadas contra uma lógica ultramontana e confessional a que parecíamos estar reservados nos últimos tempos, tudo parecem bons sinais.
Mas o que mais gostei de ouvir foi que Rui Rio percebe as razões pelas quais perdemos as eleições autárquicas. Que são no fundo a razão da antecipação das eleições no PSD para quem já não está recordado…
Nenhum partido pode ser forte no País se não for forte nas principais cidades. Nenhum partido pode ser alternativa de poder sem uma rede forte nas autarquias onde o PSD tem perdido a cada eleição a posição liderante que antes sempre foi a sua.
Lisboa é hoje paradigma da mentira que é a governação de esquerda. Uma cidade dual, de 60 mil pessoas a viver em habitação municipal, cerca de 20% da população da cidade, e de um mercado livre que só é acessível a muito ricos e estrangeiros.
Lisboa está a expulsar a sua classe média sem um pingo de remorso. Em Lisboa, o PSD tem de voltar a ser o que é da sua matriz: o defensor da classe média, do pequeno e médio empreendedor, dos jovens com rasgo, da integração com a experiência dos mais velhos.
Sabemos que a recuperação de emergência do País teve um preço elevado junto deste nosso eleitorado, mas temos de mostrar que passado esse período de emergência é com o PSD que estas pessoas são acarinhadas.
Lisboa é hoje pela mão do governo de esquerda uma cidade planeada inteiramente pelos privados. Mas é possível ter um equilíbrio entre vários direitos, entre um mercado regulado pelo interesse público e o valor da livre iniciativa. É isso a social-democracia.
A CML investiu nos eixos centrais, assim como se fosse um mestre de cerimónias de uma exposição, mas deixou para trás os bairros. Benfica, S. Domingos, Campo de Ourique, Telheiras, Restelo, Olivais, Alvalade, Alta de Lisboa… o Parque das Nações que está a envelhecer e ainda não tem a escola que lhe falta. Tantos e tantos bairros da classe média da Lisboa precisam de mais estacionamento, de melhor espaço público, de melhores ligações e transportes, de qualificar os seus mercados e comércio local. E precisam de manter a habitação acessível aos filhos de Lisboa, que não podem ser empurrados para a periferia da área metropolitana e que têm o direito de viver na proximidade dos seus pais e avós.
O PSD não pode aceitar esta política de perpetuação da pobreza e da dependência do Estado, em que, ao fim de 40 anos de políticas públicas de habitação, Lisboa seja a capital da Europa com mais bairros sociais e maior percentagem de população a viver em bairros sociais.
Lisboa precisa de uma visão reformista, progressista, centrada nas pessoas, moderada e não revolucionária.
Lisboa precisa do PSD. Mas o projeto para Lisboa não se faz no último ano ou nos últimos 6 meses. Não vamos de novo procurar o empenho de um Fernando Negrão, de um Fernando Seara ou de uma Teresa Leal Coelho, em cima da meta e sem tempo. Desengane-se quem pensar que, por mal gerida, a cidade nos vai cair no colo.
Lisboa e Porto conquistam-se, e esse caminho tem de começar a tempo. Com ideias e com protagonistas. Até porque, afinal, a vitória no País se decide nos grandes centros urbanos
(Artigo publicado na VISÃO 1303, de 22 de fevereiro de 2018)