Quando, por distração ou desalento, cedemos ao pessimismo e começamos a achar que os ideais fundadores da União Europeia estão ultrapassados, não há nada como levar com um choque de realidade. É isso que está a acontecer com as manifestações que, há semanas, ocorrem na Geórgia, em defesa da liberdade e da democracia e que deveriam provocar um sobressalto cívico aos cidadãos dos 27 Estados-membros que desvalorizam as eleições para o Parlamento Europeu e que, em simultâneo, vão alimentando as forças populistas que, com base na demagogia e na defesa de nacionalismos bacocos, procuram destruir a UE por dentro. O protesto continuado dos georgianos para impedirem uma aproximação forçada do país à Rússia e, em alternativa, poderem manter o seu caminho de adesão à Europa unida é, nesta altura, uma das maiores provas de confiança na justeza do projeto europeu ‒ mesmo quando este enfrenta um dos seus momentos mais difíceis e desafiantes. Ver as multidões a encherem as ruas de Tbilisi, empunhando bandeiras com os símbolos europeus, é a melhor demonstração de que a força da UE são os seus ideais e valores. Com resultados que nos deviam inspirar: o maior período de paz jamais registado no Velho Continente, o alastrar da liberdade e da democracia parlamentar em cada vez mais nações e a consolidação da ideia de que um estado social forte é o principal fator de progresso para as populações e a principal garantia de justiça económica e social.
Apesar das divisões que a minam, das crises que a dilaceram e das muitas contradições em que vai sendo construída, a Europa continua a ser um exemplo para muitos países ‒ em especial os seus vizinhos geográficos. Mas só permanecerá assim enquanto os seus valores mais importantes continuarem a ser respeitados. A UE só mantém este poder de atração porque é o espaço onde mais pessoas vivem melhor e em liberdade ‒ o contrato social implícito que está na génese do apelo europeu para o resto do mundo. Aderir e pertencer à UE tem sido, para várias gerações, sinónimo de progresso, de paz e de liberdade de circulação num conjunto de países que, no seu todo, é maior do que a soma das partes que o compõem. E isso, mais do que nunca, precisa de ser valorizado. Até para se perceber que, se nada for feito, esse “prémio” pode estar em risco.