
José Caria
Caro Elon Musk,
Aqui na VISÃO sabe-se, desde o início de novembro, que anda à procura de um sítio com sol e vento para a instalção da Gigafactory 2, a primeira fábrica Tesla, de baterias para carros elétricos, na Europa. Depois disso, já imagina, Portugal pôs-se logo na corrida e agora até já sabemos que a sede social está registada na Avenida da Liberdade. Aguardemos? Nem por isso.
No Facebook, o grupo Bring Tesla Gigafactory to Portugal, que abriu há três semanas, já tem quase 40 mil membros – e é fechado. Mas há outros, com o mesmo empenho em conquistar a sua atenção. Não admira, Elon, se formos os eleitos, isso pode representar um investimento de 4 mil milhões de euros e a criação de seis mil a dez mil empregos diretos. O que para nós, portugueses, quer dizer muito.
Mas nesta missiva que lhe dirijo, gostava realmente de saber se recebeu uma outra, aquela que o cidadão Nuno Brito Jorge lhe dirigiu, com uma proposta atrevida.
Tive acesso a ela, por isso posso citar-lhe as partes essenciais, caso se tenha perdido no caminho. E posso também assegurar que o remetente não é um cidadão comum – trata-se de alguém que tem feito muito pelas renováveis neste país (na Boa Energia trabalha no investimento cidadão em energia limpa, fundou a cooperativa Coopérnico e acaba de lançar a plataforma www.goparity.com, para a democratização do investimento sustentável).
“Além do espanto tecnológico e dos benefícios ambientais, há um terceiro, e talvez o mais importante, mérito naquilo que fazes: pões as pessoas a falar do assunto. Das alterações climáticas, da independência energética, das renováveis e da proteção ambiental”, escreve-lhe Nuno, em inglês, não se preocupe.
E agora, atenção, que vou transcrever a proposta, de fácil execução, que motivou a sua carta: “Estamos bem cientes de que uma Gigafactory é um “Gigainvestimento”, mas porque não abrir uma parte do investimento aos cidadãos? Não precisa de ser complicado nem de ser muito dinheiro. Foste pioneiro em tantas áreas, até no crowdfunding, porque não juntar mais esta? Estamos a falar das mesmas pessoas que são apaixonadas pelo que vocês fazem.”
Elon, o que me diz? Se calhar não sabe, mas como explica Nuno Brito Jorge, Portugal é um país que cada vez mais adora empreendedorismo, inovação e tecnologia. “Mas diversos tipos de interesses e políticas excluem o cidadão comum de qualquer perspetiva de partilha dos benefícios económicos de projetos emblemáticos como o vosso. Também podes ajudar a mudar este paradigma!”
A minha carta vai longa e o tempo de um homem do seu calibre não deve ser muito. Mas a verdade é que Nuno ainda quis partilhar consigo as alegrias de um ano que foi particularmente profícuo para Portugal, em contraciclo com o resto do globo. “Em 2016 fomos campeões europeus de futebol, António Guterres foi nomeado Secretário-geral da ONU, corremos mundo pelos nossos quatro dias 100% renováveis, fomos o país mais premiado no World Travel Awards e até o Papa, o primeiro a colocar a proteção ambiental na agenda da Igreja, anunciou uma nova visita. Ajuda-nos a começar 2017 com mais uma história feliz.”
Vá lá Elon, nós também gostávamos que a ideia do Nuno se concretizasse.
Ficamos a aguardar por uma resposta. Até lá, Feliz Natal