O texto de João Semedo:
A prepotência de uns contra a liberdade dos outros
Sou médico e antes do lançamento do manifesto “Direito a Morrer com Dignidade” já me preocupava com os problemas do fim da vida. Escrevi, e publiquei, sobre o tema antes de aparecer o manifesto.
A minha posição é clara: sou contra a eutanásia ativa.
João Semedo, em texto publicado na Visão com o título “A prepotência de uns contra a liberdade dos outros” e que, benevolamente, classificarei como infeliz, veio zurzir em todos os que, sobre a eutanásia, não pensam como ele. Apesar de reconhecer que o tema foi trazido neste momento à discussão pública “com intenção de aproveitar o novo ciclo político” – leia-se, para aproveitar a oportunidade de o Bloco de Esquerda “entalar” o PS – João Semedo critica até os que elogiaram o manifesto por vir ajudar ao debate, brindando-os com o epíteto de “hipócritas”.
Aceito, mas não compreendo, que João Semedo pretendesse que um tema tão importante fosse decidido passando ao lado do debate. Para mim o debate é fundamental, porque democrático, mas cada um tem as suas concepções de democracia…
Afirma ele que os “autoritários anti-eutanásia” dizem que o Parlamento não tem mandato para decidir sobre este tema (que ele próprio assume ter entrado na agenda por aproveitamento político), quando é do conhecimento de quem quiser ler os programas com que os partidos se submeteram a sufrágios nas últimas legislativas que só o PAN tinha este tema no seu programa. Mas não vou perder mais tempo com os gratuitos insultos que João Semedo dirige a quem não pensa como ele.
Contudo, enquanto médico, não posso deixar passar uma frase no final do texto: “Em Portugal, muitos morrem em péssimas condições, numa agonia carregada de sofrimento inútil. Este é o problema, é isso que interessa discutir e solucionar.”
Aqui, João Semedo acertou na mouche! E ele, que foi deputado, poderia ter feito mais para discutir e solucionar esse problema, apresentando iniciativas legislativas e manifestos sobre a obrigação de o Estado oferecer uma rede nacional de cuidados paliativos de proximidade e sobre a figura do cuidador informal, acerca da qual é urgente legislar. Muitos desejariam ter o apoio dele para isso a que Rui Rio chamou “acabar com a crueldade”.
A minha opção pessoal e solidária é a de ajudar o sofredor a não sofrer e a viver com dignidade. Quero um Estado Social que garanta o direito e o acesso aos apoios sociais e aos cuidados de saúde que cada um necessita – e não a solução mais barata e eugénica de matar o sofredor.
Resposta de João Semedo:
“Tenho defendido que o debate sobre as problemáticas do fim de vida deve ser feito a partir do confronto de opiniões, com o estilo próprio de cada um mas sem insultos ou ataques pessoais. Ataquemos os argumentos, deixemos de lado os seus autores. Não é o caso da carta do meu colega José Mário Martins sobre a qual quero, apenas, informar o próprio e os leitores da VISÃO que, enquanto deputado e entre dezenas de outros projetos de lei sobre cuidados de saúde, apresentei propostas que conduziram à aprovação do Testamento Vital e da Rede de Cuidados Paliativos”.