Um lugar comum às temáticas de saudades dos Portugueses espalhados pelo mundo é o mar. Sim, somos um país de aventureiros do mar, que é o nosso segundo vizinho para além da Espanha. Talvez por isso com ela partilhe muita da nossa História, entre glórias e tragédias que nos fazem quem somos hoje. E esse mar, trazemo-lo dentro de nós, cada um de nós, Portugueses, independentemente do sítio onde nascemos. E quando nos vêm dizer que o Adriático é mar, fica tudo estragado. Não tem ondas, não é mar. Quase não tem marés e muitas vezes nem cheira a mar. Bom, de facto não é o oceano a que estamos habituados mas, sim, é mar. E é sobre isto que vos venho hoje falar.
À medida que o tempo passa vai-se aceitando que o Adriático é mar, e até o chamamos mar. As praias não têm areia, talvez pela falta das ondas fortes que desfaçam as rochas. Os peixes são mais pequenos que os nossos – por exemplo a sardinha que nem chega a gorda, nem pinga no pão (a tragédia da primeira edição da Festa dos Santos Populares que realizamos em Ljubljana). Isto talvez devido à alta temperatura da água e pouca necessidade de gordura quando comparada a sua subsistência aqui com a do nosso oceano. Há até peixes que ficam a faltar à chamada, como por exemplo o comum peixe espada. Este mar é o mais transparente da Europa, já dizia o Jacques Cousteau. As condições para mergulho são excelentes e até é possível ver um barco romano afundado na costa da ilha croata Pag. E é comum ver golfinhos, um bom indicador da qualidade da água.
E como o Adriático se parece com um grande lago, a experiência de praia na Eslovénia e Croácia (que é o equivalente ao Algarve para os Eslovenos) é muito diferente da nossa. Pode-se nadar até lá longe sem problemas, e poucas vezes se vê bandeiras ou nadadores-salvadores. Faz-se muito desporto aquático (à exceção do surf, claro) e quase toda a gente já velejou ou o faz com frequência anual. Não é tanto um desporto de elite por cá. Há uma grande diversidade de marinas na costa croata e nas ilhas, e há bastante gente com o seu próprio barco. Nem sempre é comprado novo. Aliás, conhecem-se vários casos de barcos construídos em casa, na garagem, em que depois de pronto não cabia na porta, obrigando a demolir uma das paredes para aceder ao barco.
A experiência de velejar toca-nos o lado das descobertas, talvez. Especialmente quando se está no barco para trabalhar um pouco e usufruir deste contacto incrível com a natureza. As ilhas croatas da Dalmácia são por vezes como um rendilhado em que o barco se desloca ao sabor do vento. Diria que uma boa parte do turismo das ilhas, especialmente das mais pequenas, conta com os adeptos deste desporto. É uma parte de ser Esloveno (quase comparado com subir o Triglav), velejar o Adriático, acordar entre pequenas ilhas desertas da Kornati, e partilhar com outros um espírito desportivo e confraternizador. Talvez por isso seja palco de vários team building, onde as empresas ajudam a construir o espírito de equipa dos seus funcionários no mar. Na minha empresa – XLAB – há todos os anos uma saída com duas embarcações por quatro ou cinco dias. Todos trabalham, ninguém está lá só para ver os navios. E todos os que aderem estão muito confortáveis com o facto de fazer parte da tripulação.
E neste novo mundo interligado de forma remota, há até quem traga o trabalho a bordo para não ter que faltar a esta oportunidade. Ajuda o facto de desenvolvermos cá uma das melhores tecnologias de desktop remoto – ISL Online (representado em Portugal pela Imparpower) – que permite ter o seu posto de trabalho em qualquer lado do mundo de forma eficiente. Há já muito tempo que é líder de mercado, por exemplo, no Japão. A Eslovénia tem destas surpresas, apesar de ser pequenina, mas com melhores do mundo espalhados por várias modalidades (como o jogador Oblak já foi exemplo). Outro futuro campeão a destacar é Sentinel Marine, do meu colega Marko Pihler, que traz para o mundo das embarcações de recreio o conceito de barco inteligente (à imagem da casa inteligente) que utiliza os dados colhidos pelos sensores dos barcos ligados para melhorar a experiência de navegação. Fica o convite.