Segunda-feira:
Estão 34,7 graus e um céu sem nuvens. O sol nasce por aqui às 3 e tal da manhã por isso está mais tempo no céu a debitar sem descanso. Os passarinhos param no meio da rua, entre os carros, a perguntar “mas que merda é esta?”. Os noruegueses equacionam tempo assim com férias, por isso nada funciona como deve e está tudo mentalmente nas praias de Portugal.
Terça-feira :
Estão 37,3 graus e um céu sem nuvens. O fjord está mais amarelo e as pessoas estão mais encarnadas. Ontem saíram a correr do trabalho para se espalharem nas varandas a aproveitar o sol e hoje a cidade está repleta de camarões cozidos, com roupa leve. O sol não dá mostras de que precise ser aproveitado, continua a debitar sem descanso. Vejo, pela primeira vez na Noruega, uma mosca feliz.
Quarta-feira:
Estão 36,5 graus à sombra e o céu continua sem nuvens. A última vez que alguém se lembra de três dias sem ver nuvens foi em Setembro de 1945, mas não havia internet e as pessoas estavam a pensar noutra coisa. Todos os meus amigos que me ligam de Bruxelas estão de cuecas na cozinha a borrifar-se com o spray das plantas. As notícias multiplicam-se com mapas da Europa pintada a encarnado.
Quinta-feira:
Estão 38,2 graus e céu limpo. Os noruegueses aprenderam que afinal há dois tipos de mau tempo, e que é por isso que as casas em Portugal são imperfeitas para os dois. Ninguém consegue dormir. Pela primeira vez, com um prazer quase indisfarçável, coloco a frase “ai, as vossas casas não estão preparadas para este calor” numa conversa. Começa-se a ver gente à sombra.
Sexta-feira:
Estão 37,7 graus. O céu continua limpo. Até as montanhas mais altas perderam as pontinhas brancas. Na Noruega a vida normal decorre à temperatura de conservação dos alimentos – 4 graus no Inverno e 16 graus no Verão, por isso isto tudo é inusitado. Os supermercados não estão preparados para este calor, é preciso fazer compras com discernimento. Os chocolates estão todos liquefeitos. A fruta a cair para o amarelo e as pessoas com quem falo passaram nitidamente do prazo
Sábado:
Estão 36,0 graus à sombra e não há nuvens no céu. Os passarinhos não acreditam na sorte e andam tão gordos que coabitam pacificamente com as moscas e mosquitos, também eles sem acreditar na sorte. A cidade está vazia, pela primeira vez foi tudo para o mar, como nós fazemos quando o tempo está assim. O fjord está cheio de barcos, barquinhos, bolas, colchões e gritos. Parece o Portinho da Arrábida de antanho.
Domingo:
Estão 16 graus. Chove.