Motivados pelo recente sucesso do Funaná no panorama musical Português, com bandas como Fogo-fogo ou Scúru Fitchádu, quisemos trazer à Eslovénia uma mostra de tão pouco conhecida (por cá) cultura Cabo-verdiana. Cabo Verde destaca-se pela sua musicalidade, bem expressa por manifestações populares como o Carnaval de Mindelo, cuja importância faz com que a cidade seja conhecida nos dias dos festejos momescos como “Brazilim” (ou “pequeno Brasil”).
É a este maravilhoso ponto no mundo Lusófono, casa de Cesária Évora e de uma riqueza cultural deslumbrante, que se dedica a 18ª edição da revista bilingue Luso-Eslovena Sardinha, disponível gratuitamente em www.sardinha.tv. Cabo Verde está um pouco por toda a edição: na fotografia de capa por Luís Quaresma, nos textos de Alja Krašovec, no espaço arte a apresentar o pintor Eduardo Bentub, etc. Esta é a primeira vez que dedicamos o Festival da Lusofonia a uma nacionalidade em particular, neste caso cuja Embaixada mais próxima é em Bruxelas.
A terceira edição da Festa da Lusofonia, que este ano foca Cabo Verde, foi realizada pela Sardinha em colaboração com a Associação de Amizade entre a Eslovénia e Portugal, dirigida pela portuense Gabriela Droga Mazovec,. Iniciou-se com a exposição de pintura do pintor Eduardo Bentub na Kavarna Soteska, em Ljubljana, a 27 de Outubro, que contou com música ao vivo e algumas outras surpresas. Essa foi também a noite de lançamento da 18ª edição da Sardinha, entre tons ritmados de Funaná́ e quentes Mornas de fim de Verão.
Eduardo trouxe a este público luso-esloveno “as representações paisagísticas, onde predominam composições figurativas da vida quotidiana dos ilhéus” da sua terra natal. A complexidade das técnicas que utiliza na sua criação artística, contrasta com a simplicidade ténue dos temas representados. Aqui vingam temáticas que incluem jogos tradicionais e caras conhecidas ao autor, memórias quentes do forte sentido de família que se vive nos ilhéus, música e músicos que com as cores vivas das obras se misturam de forma intrínseca, etc. Em exposição até dia 25 de Outubro.
Sabe-me bem voltar a este espaço onde há já vários anos, entre 2009 e 2012, dirigi uma galeria artística – Galerija TukadMunga – neste espaço central de Ljubljana, com os pintores (e amigos) Iskra Beličanska e Vladimir Leben. Foi um tempo extraordinário em que, durante três anos intensivos, nos voluntariamos para dar a exposição apropriada aos artistas em que acreditamos, realizamos mais de 50 exposições de pintura, escultura e multimédia de artistas internacionais e locais, muitas vezes acompanhadas de concertos e performances, atingindo uma exposição considerável no meio cultural de Ljubljana.
As festividades continuaram com uma tertúlia literária à volta de autores de Cabo Verde, organizada por Gabriela Droga Mazovec, incluindo uma exposição das experiências de viagem do Luso-falante Armin Gorjup, que fez uma caminhada organizada por Cabo Verde durante vários dias. Foi uma boa oportunidade para trocar histórias e memórias desses misteriosos ilhéus e da suas gentes hospitaleiras e sempre dispostas a ajudar no que for preciso. Segui-se uma sessão sobre a presença da Cultura Portuguesa pelo Sri Lanka, o antigo Ceilão, por Paulo Relógio.
Para além dos eventos Lusófonos na Kavarna Soteska, houve ainda uma tertúlia literária dedicada a Mia Couto na Vodnikova Domačija a 24 de Outubro (organizado pela Associação de Amizade Luso-Eslovena em colaboração com Divja Misel), e no início do mês a 8 de Outubro a projeção do filme José Carlos Schwarz – a Voz do Povo do realizador Adulai Jamanca no espaço Poligon, em Ljubljana, incluído no ciclo anual de Cinema Português (organizado pela Sardinha e com o apoio do Instituto Camões através da Embaixada Portuguesa em Viena).
São este tipo de eventos que mais contribuem para a imagem da Lusofonia tão longe dos países lusófonos que representa. Nas primeiras edições este Festival da Lusofonia em Ljubljana esteve integrado no Festival dos 6 Continentes de Filipe e Lisete Larsen, que se realiza simultaneamente em diversas cidades por todo o mundo. O 6 Continentes mudou-se para Junho e nós decidimos dar a Outubro a oportunidade de passar a ser o mês de celebração da Lusofonia por cá, e que esperamos se venha a tornar uma das já várias tradições de Língua Portuguesa que ajudei a construir.