Pedro, o Grande foi o primeiro czar a compreender a importância da educação formal e a impô-la pela força, como era seu hábito em tudo. Mandou erguer a universidade e encheu-a de estrangeiros, e fez vir os melhores que a Europa tinha para oferecer. Pedro chamou, e eles vieram.
Consigo trouxeram gostos arquitectónicos, as modas e as maneiras, prácticas militares, gosto artístico e tudo o resto. Perceptoras francesas, arquitectos italianos, militares prussianos e outros tantos; um rio que durante três séculos correu da Europa em direcção a este húmido baluarte do Norte.
É desta altura que data a relação ambígua que a Rússia tem com os estrangeiros – admira as suas qualificações, sente-os por vezes como superiores mas nunca deixa de os ver como uma ameaça e uma perturbação. De fora vieram coisas boas e más. Aqueles que em Dezembro se apaixonaram pelas ideias revolucionárias francesas logo pagaram pela ousadia no cadafalso da fortaleza de São Pedro e São Paulo ou nas neves eternas do degredo. De fora, com salvo-conduto e dinheiro alemães, chegou Vladimir Ilich Ulianov, que atrás de si arrastou a noite comunista.
Veio a Perestroika, e com ela uma segunda vaga de estrangeiros. Não pela mão forte e resoluta de Pedro mas pela mão trémula de Ieltsin, de todas as partes vieram para salvar a Rússia das suas trevas. Qualquer homem de negócios europeu, especialista ou académico da escola de Chicago era recebido com vénias e às arrecuas; as suas palavras, ingeridas cuidadosamente como de uma santa hóstia se tratasse. As mais belas filhas de Leninegrado entregavam o corpo e a dignidade às manadas de finlandeses que os autocarros domingueiros traziam, cheios de vinho e dinheiro.
Com as sanções veio uma nova consciência e uma nova relação com os estrangeiros ocidentais. Especialistas são respeitados e requisitados, mas desta feita por convite… Há um novo apreço pela produção nacional e alguma motivação para produzir mais e melhor. A Rússia não é nem nunca será economicamente autossuficiente, nem alcançará um nível de desenvolvimento industrial transversal equivalente a países como a Alemanha ou os Estados Unidos. Resta esperar que esta vaga ganhe corpo e se transmute em desenvolvimento visível.
Só recentemente, sob o primeiro-ministro, é que se começou realmente a cobrar impostos a sério e a regulamentar importações. Estes movimentos têm todavia sempre um lado negro. Com eles vem um nacionalismo pequenino que não dignifica a cultura ou a história.
As universidades de tempo soviético eram reconhecidas pela qualidade do seu ensino, ainda que mais teórico do que as necessidades do mercado exigem. Hoje são velhos edifícios em mau estado, recheados de professores bafientos e mal pagos, não avessos a cobrar uma contraprestação em numerário contra bons resultados em exames.
Recentemente houve um pequeno grupo de professores de cultura e língua checa, dessa mesma nacionalidade, que foram dispensados por uma universidade pública russa, preteridos em favor de professores russos. Na avaliação a que foram sujeitos, um dos critérios que pesou em seu desfavor era o facto de estes falarem muito checo….nas aulas de checo.