Antes de se tornar primeiro-ministro, em dezembro de 2013, Bettel foi presidente da Câmara da capital luxemburguesa, tal como Costa presidiu aos destinos de Lisboa.
Mas mais curioso é o facto de ambos dirigirem um governo de tipo “geringonça”, resultante de um acordo pós-eleitoral que relegou o partido vencedor nas legislativas para a oposição.
Aquilo que aconteceu na noite eleitoral luxemburguesa de 20 de outubro de 2013 é ainda mais complexo do que o surgimento da geringonça portuguesa.
No Luxemburgo, as eleições fazem-se através de listas nominais e Xavier Bettel, líder do Partido Democrático (membro dos grupo dos liberais no Parlamento Europeu) que conseguiu menos de 20% dos votos, obteve uma excelente votação pessoal que o tornou no novo homem-forte da cena política luxemburguesa.
Diz-se que na noite eleitoral Bettel terá convocado os líderes dos partidos socialista e ecologista para criar a tal geringonça luxemburguesa.
Os socialistas – que partilharam o poder com os cristão-sociais de Jean-Claude Juncker – tinham abandonado o governo meses antes devido a um escândalo relacionado com os serviços secretos. Foi essa decisão que precipitou as legislativas e azedou as relações no seio da velha aliança entre socialistas e cristão-sociais depois de décadas de coligações no poder.
Da tal reunião noturna pós-eleitoral surgiu um coligação improvável entre o Partido Democrata, Os Verdes e o Partido Socialista Operário Luxemburguês. Apesar de os socialistas terem mais votos e o mesmo número de assentos parlamentares que o partido de Xavier Bettel, foi este o nome unânime para chefe de governo graças à votação individual que obteve e ao crescimento eleitoral do seu partido.
No governo de Bettel cabe ainda destacar a presença de um lusodescendente, o ministro da Justiça, Félix Braz.
A criação da geringonça luxemburguesa não agradou obviamente a Jean-Claude Juncker, líder do partido mais votado, que esperava fazer uma coligação com o Partido Democrata já que a nova liderança socialista ficou “de candeias às avessas” com os conservadores. Quem também terá ficado insatisfeito foi o grão-duque Henrique que, segundo fontes oficiosas próximas do monarca, não gostou de ter sido “forçado” a nomear um formador de governo que não fosse Juncker, que presidia aos destinos do país desde 1995 e com quem Henrique tinha excelentes relações pessoais.
A geringonça luxemburguesa acabou por tomar posse com um primeiro-ministro oriundo do terceiro partido mais votado. No Luxemburgo, em vez de geringonça, optou-se pelo nome “coligação Gâmbia” porque as cores dos três partidos no governo são azul, vermelho e verde tal como a bandeira do país africano.
Xavier Bettel colocou-se na vanguarda da política luxemburguesa pela sua irreverência, tanto como deputado como ao assumir a presidência da Cidade do Luxemburgo. O jovem político, filho de uma franco-russa, sempre assumiu a sua homossexualidade e foi, suavemente, contrastando com o conservadorismo reinante na sociedade luxemburguesa. Em 2015 Bettel contrai matrimónio com um arquiteto belga, tornando-se assim no primeiro dirigente homossexual de um Estado-membro da UE casado.
Visionário, Bettel começou a fazer uso das redes sociais antes da maioria dos políticos importantes do país. Só quando assumiu a chefia do governo “delegou” a gestão da sua página Facebook a um membro do gabinete. Ainda hoje, Bettel tem mais seguidores do que qualquer político luxemburguês (com a exceção de Juncker que agora tem projeção europeia) e do que todos os ministros do seu governo juntos. Esta proximidade dos eleitores, e sobretudo dos mais jovens, garantiu-lhe um capital de simpatia elevadíssimo.
Em 2017, o Luxemburgo não vive dificuldades económicas. Tampouco tem de fazer frente a populismos: a extrema direita e a extrema esquerda representaram menos de 10% dos votos expressos nas últimas eleições. Mesmo assim, as mais recentes sondagens dizem que Xavier Bettel não será o próximo primeiro-ministro do Luxemburgo. O partido de Jean-Claude Juncker poderá obter maioria absoluta na próxima vez que os luxemburgueses serão chamados às urnas.
E agora, à frente dos cristão-sociais e na corrida para primeiro-ministro está Claude Wiseler, casado com uma portuguesa de seu nome Isabel, e muito próximo do PSD e do CDS declarando frequentemente a amizade que o une a Pedro Passos Coelho.