O primeiro dia do resto da vida de António Costa foi esta semana. Na segunda-feira, Costa apresentou-se ao País e ao Parlamento como PM de um governo em gestão, ou seja, de saída. E deixou claro, tanto na comunicação que fez perante os deputados como na entrevista que deu à CNN, o ponto em que está a sua cabeça: magoado, mas com um “brilhozinho nos olhos”; frustrado, mas pronto para ir à luta.
António Costa tem, neste momento, dois alvos e um desígnio. Os alvos são evidentes: o Presidente da República e o principal partido da oposição. O primeiro-ministro retrai-se ao criticar frontalmente a Justiça, mas mostra-se, de modo pouco velado, vítima dela, na forma como geriu as suspeitas existentes e na comunicação pública que fez – e, segundo sublinhou, “um primeiro-ministro não pode viver debaixo de uma suspeição oficial”. Independentemente do famoso último parágrafo constante do comunicado da Procuradoria-Geral da República, a circunstância do primeiro-ministro era insustentável e o próprio reconheceu-o, ao admitir que, se não constasse esse trecho, talvez se demitisse no dia seguinte. É que, uma vez sabendo-se dos mais de 75 mil euros em notas encontradas na sala do seu chefe de gabinete, contígua à sua, seria impossível manter-se com condições políticas para continuar em funções, mesmo antes de o juiz de instrução ter esvaziado muitas das teses da investigação.