As imagens impressionam pelas semelhanças: são filas de carros e de famílias aflitas em fuga, carregadas de sacos com os poucos pertences, em direção a um destino incerto. Entre as fotografias do Nabka, palavra que significa catástrofe e que resume a do grande êxodo palestino de 1948, e as que nos chegam hoje do retângulo da Faixa de Gaza vão 75 anos, mas as vítimas são as mesmas: civis obrigados a uma evacuação forçada, apanhados no meio de uma guerra, que parece cada vez mais irresolúvel.
“Não temam! Permaneçam na cidade, que é tanto vossa quanto nossa”, diziam os panfletos em árabe e hebraico, que, segundo a futura primeira-ministra israelita Golda Meir, nessa altura foram despejados sobre as populações árabes de Haifa. Conta ela, na autobiografia, que não desejava a debandada dos palestinos do recém-fundado Estado de Israel, mas isso de nada serviu. O medo e a pressão falaram mais alto, premonitórios: como judeus e árabes poderiam alguma vez viver juntos e em paz? Na semana passada, os panfletos despejados dos céus sobre a Cidade de Gaza, à ordem de Netanyahu, tinham outro tom, implacável: “Evacue para sul, é para a sua própria segurança e a segurança dos seus familiares, e distancie-se dos terroristas do Hamas, que estão a usá-lo como escudo humano.” Mais um capítulo na História de décadas de uma convivência opressiva e sangrenta.