Há demasiado ruído no debate sobre a crise da Habitação. O foco está, em grande parte do tempo, nas medidas ou propostas que emitem maiores decibéis na troca de argumentos – mesmo quando todos concordam que estas terão pouquíssimo impacto no mercado. É, no fundo, um sinal dos tempos em que vivemos: dar sempre mais atenção ao que faz elevar o tom da polémica e acicatar o extremar de posições, em vez de se procurar encontrar, em conjunto, os melhores caminhos para se resolver os problemas que surgem. Na questão da Habitação, como na Saúde ou na Educação, aquilo a que assistimos é sempre o mesmo e, convenhamos, não é nem salutar nem eficaz: a redução de qualquer debate à simplista divisão entre “nós” e “eles”, como se tudo se pudesse resolver através do esmagamento de um dos lados, sem que isso tivesse consequências no equilíbrio do setor, seja ele qual for.
Falta também alguma dose de rigor no debate e mais sentido de perspetiva. Não há, por exemplo, um problema geral de falta de casas em Portugal. O que há, isso, sim, é um problema, cada vez mais gritante, de falta de acesso à habitação nos principais centros urbanos, à semelhança, aliás, do que acontece na maioria dos países.