Sabemos, por motivos que já vamos elencar, que, quando fundou a Vista Alegre, em 1824, José Ferreira Pinto Basto tinha uma clara visão de futuro para a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre – que cinco anos depois receberia o selo de Real Fábrica, razão pela qual ainda hoje há uma coroa a encimar o logótipo. Começou por se dedicar aos vidros, passou para a porcelana de pó-de-pedra e, na segunda metade do século XIX, já se tinha afirmado como uma importante unidade industrial, tendo trazido de França grande parte do conhecimento que lhe permitiu aperfeiçoar técnicas e procedimentos.
Nesta altura, já a Vista Alegre guardava arquivos de peças, desenhos e registos, na certeza de que seriam fundamentais para a construção de uma marca que, poderia não ser ainda bicentenária, mas que se adivinhava de sucesso. Ao redor da fábrica, no lugar da Vista Alegre, em Ílhavo, o fundador fez crescer muito mais do que uma empresa. A comunidade de trabalhadores que ocupava o bairro operário – pequenas casas geminadas ou em banda, que surgiram em redor da fábrica, paredes-meias com a capela que hoje é monumento nacional – formou uma verdadeira aldeia. No lugar da Vista Alegre, cujo nome remonta ao século XVII, foram pululando novidades: posto médico, creche, clube desportivo, corporação de bombeiros, teatro, mercearia, escola… Os trabalhadores eram incentivados a percecionar a vida para além das suas funções, e Pinto Basto fazia questão de que todos eles aprendessem música e fizessem teatro. Um despertar para as artes e a beleza que, garantia o fundador da empresa, seria fundamental para fazer deles melhores funcionários.