A imagem é ilustrativa: um balão cheio a pairar no ar, em risco de cair em cima de um pionés afiado. Assenta bem nas ideias que Nouriel Roubini, um dos analistas financeiros mais conceituados do mundo que previu a crise financeira de 2008, descreve no seu mais recente livro. Segundo defende, há neste momento uma dezena de tendências simultâneas que ameaçam o futuro da economia global nas próximas duas décadas. Para Roubini, não é apenas possível, mas mesmo provável, que o longo período de prosperidade e produtividade que vivemos desde a II Guerra Mundial não se mantenha durante muito mais tempo.
A era de “grave instabilidade, conflito e caos” em que entramos faz-nos “vacilar à beira do precipício”, como “chão a fugir-nos debaixo dos pés”. O homem apelidado Dr. Catástrofe está fortíssimo nas metáforas, porque quer mesmo que o mundo perceba que vivemos em alerta máximo perante sinais inequívocos de riscos económicos, financeiros, tecnológicos, geopolíticos, políticos e ambientais a que chamou mega-ameaças. Os sintomas são notórios: uma inflação com subida abrupta em economias desenvolvidas com perspetivas de estagnação ou mesmo recessão; o fim da era do dinheiro barato com uma subida das taxas de juro, que fragiliza financeiramente países soberanos e agentes económicos privados endividados; mercados bolsistas tradicionais e criptomoedas em queda; desglobalização e tensões geopolíticas entre os EUA, a China e a Rússia; graves secas e vagas de calor na Ásia e África subsariana; insegurança energética. Uma convergência de fatores que sozinhos são maus, mas que juntos, como acontece hoje, podem ser calamitosos.