Primeiro, as boas notícias, até porque valem a pena: o défice continua a baixar e deverá, em 2017, fixar-se em apenas 1,2%; a dívida pública também desce e deverá ter terminado o último ano em 126,2%; o crescimento económico é o maior desde o início do século; a taxa de desemprego caiu para valores (8,2%) que não se viam há quase década e meia; o Instituto Nacional de Estatística garante que foram criados 159 mil empregos nos primeiros onze meses do ano que agora terminou. Mas…
Sim, no meio destes números francamente animadores – e ainda surpreendentes para alguns… – há um grande e incómodo “mas”: os jovens continuam a ter uma taxa de desemprego muito superior à média (cerca do triplo da taxa global) e os salários continuam sem crescer. E esses dois factos, quer se queira quer não, acabam por andar ligados e podem vir a ter as piores consequências no futuro.
Embora pertençam à geração mais bem preparada de sempre, com melhor formação académica e, em muitos casos, com uma experiência e uma vivência do mundo invejável graças a programas como o Erasmus, os jovens portugueses dificilmente conseguem encontrar uma oferta de emprego, à saída das universidades, que lhes permita iniciar uma vida digna de forma independente. A diferença, nos últimos anos, é que isso deixou de ser um motivo de revolta e passou a ser encarado como uma resignação. Depois de anos de crise, habituados a ouvir que os seus pais tinham “andado a viver acima das possibilidades”, convenceram-se mesmo que o País não dá para mais, que por cá a carteira continuará a ser curta e dificilmente poderão sair da chamada cepa torta.
A segunda grande diferença é que eles se habituaram, desde sempre, a olhar para o mundo de uma forma global, sem fronteiras nem limites à comunicação internacional. Por isso, a possibilidade de ir trabalhar para o estrangeiro, de responder a entrevistas de emprego por Skype, de apresentar candidaturas para estágios por esse mundo fora (remunerados, tantas vezes, pelo dobro do que é oferecido como salário de entrada em Portugal), passou a fazer parte do quotidiano desta nova geração. E se nos primeiros anos da crise, há já uma década, o ir procurar emprego no estrangeiro era visto ainda como uma fatalidade, agora passou a ser uma oportunidade: enriquece currículos, dá novas experiências, criam-se redes de contactos, entra-se em mercados de trabalho mais atrativos e melhor pagos. Aquilo que era um drama, é agora, até muitas vezes, uma festa, um abrir de horizontes, uma oportunidade de enfrentar desafios.
A grande questão é que se esta saída de jovens é boa para cada um deles individualmente, ela acaba por ser prejudicial para o País: não ajuda à criação de riqueza, diminui a produtividade da economia, deixa escapar talento e espírito de mudança. Algumas consequências disto começam a ser já visíveis na nossa economia, onde se percebem faltas de mão de obra gritantes em certos setores, nomeadamente os que exigem maior qualificação ou especialização.
É verdade que na sua mensagem de Natal, o primeiro-ministro prometeu que, em 2018, o”emprego digno” e o “salário justo” vão estar no centro das preocupações do Governo. António Costa reconheceu até que essas são condições essenciais para “os jovens perspetivarem o seu futuro aqui connosco, em Portugal”.
As palavras, reconheço, foram certeiras. Mas é preciso bem mais do que discursos, como sabem, por exemplo, a geração dos filhos de António Costa. É preciso, isso sim, acabar com o “fado” dos baixos salários e dos seus supostos benefícios para a produtividade e a economia. Portugal, como todas as nações orgulhosas, precisa de transmitir esperança, confiança no futuro. E isso, não tenho dúvidas, só será possível com o empenho, os sonhos, a motivação, o otimismo e a informação da geração mais bem preparada de sempre. E paga de forma justa.