Acabou o tempo da razão. Chegou a hora dos apelos à emoção. Desapareceu o pré da campanha – agora é mesmo só campanha, com o que isso implica de discursos exaltados – e as ações de domingo passado já disso deram sinal. Acabaram os debates, estão aí os confrontos e os desafios para duelos. Voltaram as ações de rua, subiu o ruído e aumentou a oferta de bacalhau a pataco: por enquanto, a surpresa foi apenas o anúncio de que algumas portagens do interior serão mais baratas, ganhe quem ganhar.
A Coligação acrescenta argumentos a favor de tudo o que fez e garante que daí resultou em triunfo para o País. O maior deles? Ter evitado que o Serviço Nacional de Saúde caísse na bancarrota, uma afirmação que responde diretamente a uma das principais críticas da oposição ao longo destes mais de quatro anos. Onde, do PS para a esquerda, se via sempre uma ameaça a uma das principais conquistas do Portugal moderno e solidário, a Coligação reclama ter sido a salvação. E fala na criação de novos empregos, quando as oposições a confrontam com o desemprego.
Do lado do PS, Costa procura cativar com sucessivas variações sobre o tema da confiança. A última? “Na nossa democracia não há lugar à mentira, só a uma política de verdade.” Veremos, caso tenha oportunidade de o provar, se assim é.
Para a Coligação, tal como para o PS, uma coisa está garantida: as pensões (ou melhor, os pensionistas) não voltarão a sofrer mais se aderirem ao nosso projeto. “Juntem-se a nós que só têm a ganhar”, gritam (a fase de falar em tom moderado e de forma mais tranquila já lá vai).
Esta é a maior prova de que procuram o voto pelo coração. Afinal, até estão prontos a assegurar uma solução para as dificuldades da Segurança Social, apesar de defenderem métodos distintos e contraditórios para a encontrar.
Pode acreditar-se que se atinja o mesmo destino seguindo caminhos antagónicos, do que se duvida é que, sendo o percurso diferente, os beneficiados e os prejudicados sejam os mesmos e que lucrem de igual forma, qualquer que seja a via.
São assim as campanhas, aqui e em quase todas as democracias. Mais grito ou menos alarido, mais abraço ou menos beijinho, mais megafone ou menos ruído, mais feira ou menos comício, é a época dos pregões (chamam-se slogans, nestas alturas). Desperta a afetividade, tolda-se o raciocínio.
Pegue-se no ensino: o País vai ficar mais bem preparado, os nossos jovens vão ter acesso a mais conhecimento. E isto apesar de uns insistirem no “eduquês” – que a Coligação acusa de ser a origem de todos os males, da desresponsabilização, do facilitismo – e de outros protestarem contra o “nuno cratês” – onde só veem seleção, exclusão, abandono escolar, desincentivo à investigação.
A discussão acabou. Agora é o confronto, num pingue-pongue em que se responde, após o pudim flan comido ao jantar, à afirmação do adversário feita depois da mousse de chocolate do almoço.
Se até hoje não ficámos a saber o que devia estar nas tais cem páginas com o resumo das reformas do Estado que Paulo Portas prometeu, também não será nos quinze dias que faltam que as vamos ler. Assim como teremos de ir votar com fé (já que falta o conhecimento) em quem terá a melhor solução para que Portugal responda como deve ser à crise dos refugiados, que propostas tem para resolver o problema atual, para evitar o seu avolumar e para integrar os que vierem.
E isto é assim, não só por culpa dos partidos e dos seus estrategos de campanha. Também de parte da Comunicação Social, também por culpa de percentagem assinalável do eleitorado que não quer informar-se e prefere decidir por empatia. Está in não ter pachorra para estas coisas. Os partidos agradecem, sobretudo os grandes que têm meios de impor pela estridência o que lhes possa falta em clarividência. O mal é de quem tem ideias novas.