Não só por questões profissionais, mas também por cidadania, tenho reservado grande parte do meu tempo livre para seguir a campanha eleitoral. Ao contrário do que possam pensar, não estou arrependido.
Tenho aprendido algumas coisas sobre o futuro. Já sei, por exemplo, que vai haver frente a frente nas televisões e que Passos Coelho não quis uma sessão coletiva por terem recusado a presença do número dois da coligação. Dizem – os da oposição – que tem medo de debater, mas ainda não percebi o que ele receará, por não conseguir adivinhar o que de novo, e incómodo, lhe iriam perguntar.
Também já sei que António Costa não promete 207 mil novos empregos, mas jura que tem um plano que lhe dá essa previsão – afinal, prometer e prever não são a mesma coisa. Assim como sei que a coligação Portugal à Frente não quer experimentalismos e que o PS não quer mais do mesmo. Uns acham que Portugal pode mais, os outros que são de confiança. Mas deixemos os cartazes, que disso falou-se muito e já tenho como certo que, se uns são amadores, os outros andam lá perto.
Mais coisas importantes que eu aprendi: que os feriados (ou pelo menos alguns) voltam se ganharem os que até agora são oposição e que as receitas fiscais deram um pulo de 978 milhões (aqui já não sei se por mérito do Governo, da retoma ou por mera manipulação contabilística – depende de quem o diz). Também estou sem saber se Paulo Macedo salvou o Serviço Nacional de Saúde da bancarrota ou se isso é uma efabulação e vai deixar (no caso de perder o ministério) um calote superior a 1,5 mil milhões de euros. Gostava era de saber como vão ser suportados os custos crescentes da medicina, ganhe quem ganhar.
A propósito de dívidas: também já sei que o PS quer baixar a Taxa Social Única para valores que a coligação alerta que farão falir a Segurança Social e que a resposta do PS é que a atual maioria quer entregar as poupanças dos trabalhadores a privados. Discussão gasta, dir-se-á, mas apesar de tudo mais recente que o velho debate sobre o plafonamento das pensões. Eis uma matéria que mais parece uma questão de fé do que de números.
Também sei que, segundo José Sócrates, a máquina da Justiça (Toda? Toda não, só o Ministério Público) quer que o PS perca nas urnas, apesar de Costa achar que devemos deixar para a Justiça o que é da Justiça e de Passos guardar silêncio. O que não se sabe é se estão ambos contentes com a forma como funciona e se querem, o quê e como mudar o sistema.
Mas nestas semanas reconfirmou-se que a data de apresentação das candidaturas à Presidência é questão de extrema relevância. Há coisas que só podem dizer-se a 5 de outubro, ou talvez ainda a 4, mas depois de fechadas as contas do sufrágio. Afinal, as presidenciais estão a tomar conta das legislativas, exatamente o que os líderes partidários não queriam. O que se discute com paixão é se Nóvoa é (ou foi) esquerdista, se é homem de ação ou só de palavras, e os seus amigos insistem em recordar que tem com ele três ex-presidentes. Já sobre Belém, comenta-se que foi com estrondo e em horário errado que confirmou a candidatura, enquanto pelo lado dos possíveis candidatos laranja decorre um estranho jogo sobre quem avança primeiro. Não antes de 4, aconselha Marcelo e Santana. O mesmo sugere a nomenclatura social-democrata.
O estranho é que num regime em que aos presidentes mais não compete do que exercerem magistraturas de influência, as eleições presidenciais despertem mais paixões que as legislativas – afinal, aquelas em que decidem quem vai exercer o poder real. Talvez o eleitorado sinta que as diferenças entre os candidatos a Belém são mais dramáticas do que as que existem entre os principais adversários na corrida ao Governo.
Espero, até ao final da campanha, conseguir superar esta perplexidade.