O que provoca a doença? Pode ser um micróbio, se estivermos a falar de uma infeção. Quando não se trata de uma infeção, muitas das vezes, a doença é provocada por um excesso ou um défice de proteínas. Isto porque o nosso corpo produz uma enorme variedade de proteínas no seu funcionamento e usa-as para a execução de muitas funções que lhe são essenciais. Assim, se temos demasiado de uma determinada proteína, entramos numa desregulação que gera uma doença. Grande parte dos medicamentos modernos são compostos químicos que interagem com essas proteínas, bloqueando-as quando as temos em demasia. Parece simples, mas a verdade é que arranjar compostos químicos que interajam com cada proteína é um processo demorado e muitas vezes não conseguimos que esse bloqueio seja muito eficaz ou duradouro.
Haverá forma de destruir as proteínas em excesso em vez de as bloquear? E será esse processo mais eficiente do que aquilo que temos agora?A resposta é sim e sim. Chamam-se PROTACs, são uma nova tecnologia que tem vindo a ser desenvolvida e podem revolucionar os medicamentos como os conhecemos. As nossas células têm proteínas que destroem proteínas (sim, o nosso corpo funciona muito à base de proteínas). O problema é que quando temos uma proteína em excesso, essa destruição não é suficiente.
Um PROTAC é um composto químico com duas metades. Uma metade liga-se à proteína em excesso, enquanto a outras e liga à proteína responsável pela sua destruição. Assim, o que um PROTAC faz é pegar na proteína em excesso e encaminhá-la para que seja destruída. E a melhor parte é que esse PROTAC é reciclado no fim e pode recomeçar um novo ciclo. Ou seja, um PROTAC consegue destruir muitas proteínas e, com uma dose muito baixa, será possível resolver a doença em questão. A principal vantagem de um PROTAC para um medicamento atual é que os compostos químicos dos medicamentos atuais precisam de se ligar de forma muito específica a uma parte muito específica da proteína para a bloquear, enquanto o PROTAC só precisa de se ligar. O PROTAC pode ligar-se a qualquer parte da proteína porque a única coisa que precisa de fazer é encaminhá-la para que seja destruída. E isto, em termos de desenvolvimento de novos medicamentos,pode trazer uma solução mais rápida para muitas doenças que continuam por resolver. Neste momento, nenhum PROTAC é ainda um medicamento aprovado, mas estão sem dúvida no caminho para tal. É importante perceber que esta é uma estratégia muito recente e que, como tal, pode demorar muitos anos antes de chegar às nossas farmácias.
A tecnologia PROTAC tem sido estudada para várias áreas. A principal é sem dúvida o cancro. Há proteínas que são essenciais ao desenvolvimento dos tumores. Se destruirmos essas proteínas em específico, podemos resolver esta doença com uma eficácia superior àquela que temos com os medicamentos atuais. Para além do cancro, há muitas outras doenças para as quais estão a ser desenvolvidos PROTACs. Serão eles o futuro da terapêutica? É esperar para ver.
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