Quando se fala de beleza, tipicamente, lembramo-nos da beleza visual ou da beleza sonora. As belas paisagens, os monumentos, a arquitetura, as belas artes ou a beleza dos corpos humanos, mas também a beleza das melodias criadas pelas pessoas ou pela natureza. Aquilo que consideramos belo ganha muito valor, traz-nos uma sensação de bem-estar e preferimos estar perto dela. Ao contrário, tendemos a fugir daquilo que consideramos feio.
Porém, a noção de beleza não se deve restringir a essa esfera visual ou auditiva. Alguns salientam a beleza da ciência, da descoberta do funcionamento do mundo ou de uma equação matemática (a beleza racional). Aqui, quero destacar uma outra dimensão da beleza que, muitas vezes, fica esquecida: a beleza das relações humanas. De facto, podemos olhar para as relações humanas e classificá-las de feias ou belas. Feias, quando envolvem a violência, a perfídia, a traição, a manipulação ou o abuso. Belas, quando se constroem em torno da compaixão, do amor, da entreajuda, da justiça, do respeito e da simpatia e da empatia.
Sabemos bem que os seres humanos são capazes dos mais nobres e dos mais repugnantes comportamentos. E sabemos, também, quanto o contexto em que os seres humanos vivem influencia esses comportamentos. Por isso, muito mais do que dizer que a pessoa A ou B é boa ou má, importa vermos o quanto o contexto relacional existente é feio ou belo.
É verdade que, ao contrário da beleza visual, esta beleza relacional não é visível aos olhos. Mas isso não a torna menos verdadeira, menos importante ou menos percetível. Se nos movermos num espaço cheio de fealdade relacional, o nosso sistema nervoso detetará rapidamente essa fealdade. Ficaremos ansiosos, desconfortáveis, podemos sentir-nos humilhados ou até despertar em nós a raiva, o ódio ou o ressentimento. Já se estivermos num espaço cheio de beleza relacional, o nosso sistema nervoso recompensar-nos-á com sensações de paz, tranquilidade, harmonia, alegria, comunhão e felicidade.
E a verdade é que a qualidade e quantidade de relações interpessoais é uma parte contínua e fundamental da nossa vida. Aliás, os estudos científicos sobre a felicidade mostram bem o quanto essa quantidade e qualidade são fundamentais. Por isso, não devemos descurar esta dimensão. Seja nas famílias, nas escolas, nos hospitais, nos lares de terceira idade, nos locais de trabalho ou nos espaços de lazer, temos que cuidar da beleza relacional tanto quanto cuidamos da segurança dos equipamentos ou da estética dos espaços. Mais, cuidar só dessa estética, sem cuidar das relações, pode muito bem gerar um choque despertador de uma sensação de hipocrisia. De que serve viver numa casa muito bonita, desenhada por um renomado arquiteto, se estiverem podres as relações entre os familiares? Que conforto sentimos ao trabalharmos numa organização com uma sofisticadíssima decoração de interiores se as relações laborais estiverem corrompidas pelo bullying, pela desconfiança e pela competitividade desenfreada? Se formos minimamente empáticos, perturbar-nos-á o lazer num belíssimo hotel se sentirmos que os funcionários vivem exaustos e debaixo de uma tensão permanente.
Vários estudos têm demonstrado os impactos positivos na saúde mental e na felicidade de desfrutarmos da beleza visual e sonora. Outros, demonstram a importância da qualidade das relações. O que sugiro é que cuidemos, ao mesmo tempo, destas dimensões e que as consideremos, todas, parte da importância da beleza. E que, quando contratarmos um designer de interiores e um arquiteto para embelezar os espaços em que nos movemos, contratemos, também, um designer relacional para aumentarmos a possibilidade de vivermos rodeados de beleza nas relações humanas.
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