No meu tempo, quem viajava para o espaço sem ser astronauta eram cães. Agora, são bilionários. Dá que pensar. Homens enriquecem para além do que é imaginável para assim conseguirem finalmente ter o privilégio que, até aqui, estava reservado apenas a cães: entrar numa nave com pessoas que, ao contrário deles, sabem mesmo o que estão lá a fazer, e tentar não urinar fora do sítio próprio.
As naves dos bilionários Bezos (a pessoa mais rica do mundo) e Branson (um pelintra que é apenas o 589º mais rico do planeta) elevaram-se a cerca de 90 quilómetros de altitude, mantiveram-se no espaço menos de cinco minutos e depois voltaram para a Terra. Ora, isto não é uma viagem ao espaço, é fazer uma escala no espaço. Eles fizeram uma viagem da Terra à Terra, com uma escala de cinco minutos no espaço. Nem dava para entrar no free shop, se ele existisse. Qualquer outra viagem em que o viajante ficasse apenas cinco minutos no destino seria considerada um fracasso ridículo ou até ofensivo. “O meu filho Jeffrey veio visitar-me. Ficou apenas cinco minutos e foi embora”, diria a mãe de Bezos, pesarosa, se o dono da Amazon lhe fizesse uma desfeita dessas. Mas, numa ida ao espaço, parece que cinco minutos é o suficiente para que a viagem seja um êxito. O que significa, provavelmente, que o espaço não tem muito que ver. Estive à procura de guias turísticos e, de facto, não encontrei nenhum. Talvez seja um sinal. No entanto, todos os cosmonautas dizem que a experiência, por mais breve que seja, de contemplar a Terra do espaço, os transforma. É possível que isso suceda com estes bilionários. Quem sabe se, tocados pela beleza e pela fragilidade do planeta visto do espaço, eles não aproveitam o silêncio sideral para reflectir: “Aquela é a minha casa. E, ao ver o planeta daqui, assim despido, constato que há dois ou três pontos do globo que eu ainda não exploro para meu benefício pessoal. Vou tratar disso assim que aterrar.”