Apesar de a esplanada estar quase vazia, as duas mulheres escolheram uma mesa perto da minha. Pousaram os sacos de compras que traziam numa cadeira, sentaram-se, subiram as golas dos casacos, isto tudo sem interromperem o frenético relato sobre a maçada familiar que o Natal fora. Amigas de longa data, certamente. Quando o empregado se aproximou, transformaram o pedido numa complicação de detalhes acerca do leite e do café dos galões, as torradas tinham de ser aparadas, pão caseiro de mistura, manteiga só de um lado… Sempre me fascinaram as pessoas que querem coisas banais de uma forma extremamente particular e que não se importam de aborrecer quem quer que seja para as obterem. Pousei o Estilhaços do Bret Easton Ellis sobre a mesa. Sabia que a conversa das duas mulheres se interporia entre mim e a leitura. O Pedro diz que eu devia andar com auscultadores, mas não consigo desligar-me do que me rodeia. E tenho medo de ser atropelada ao atravessar uma estrada.
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