Foi com perplexidade que li o parecer em que a Ordem dos Médicos escolhe afirmar o negacionismo da violência obstétrica, ignorando o sofrimento de milhares de mulheres. Foi com angústia que ouvi os relatos corajosos e pungentes de dezenas de mães na manifestação do passado dia 6. Foi com esperança que li artigos e crónicas de pessoas sensíveis ao tema, nomeadamente de um grupo de médicos, que fez questão de admitir que o primeiro passo para a solução é identificar e reconhecer o problema. E é a propósito do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres que escolho falar sobre o direito a dar à luz sem sombra.
Enquanto mulher, mãe e feminista, revolta-me especialmente que seja tão comum ser vítima de maus cuidados de saúde no processo de gravidez e parto em Portugal. É um momento especialmente sensível, de grande vulnerabilidade, em que sofrer maus tratos, coação, desconsideração, intervenções dolorosas que não são necessárias e todo o tipo de silenciamento é profundamente traumático, física e psicologicamente.