O adiamento da maternidade é uma realidade e a pressão nas mulheres faz-se sentir cada vez mais à medida que a idade avança. Mas quais são afinal os fatores que fazem adiar este projeto? Primeiro, podemos apontar um primeiro fator que é o facto de a maternidade coincidir com o período de maior crescimento e realização profissional e a mulher atual sente dificuldade nesta gestão. Ausentar-se das empresas ou dos seus projetos é algo que as mulheres querem evitar e isso faz com que adiem a maternidade. Paralelamente, há muitos projetos pessoais que as mulheres querem concretizar, como viajar por exemplo. Por outro lado, atualmente também só mais tarde se alcança a estabilidade desejada para se ser mãe. Estes e outros fatores contribuem para o adiar da maternidade. Há ainda outro fator que, indiretamente, pode contribuir para este fenómeno que é a instabilidade sentida nas relações amorosas, o que pode dificultar a permanência numa relação de continuidade que leve a ponderar a maternidade.
Contudo, sabemos que este adiar é um grande gerador de ambivalência nas mulheres, já que é impossível ficar indiferente ao avançar da idade e àquilo que isso representa para quem quer ser mãe. Engravidar naturalmente é um processo que se vai tornando mais difícil com o passar dos anos devido a uma diminuição natural e fisiológica da fertilidade. As células germinativas vão diminuindo ao longo do tempo bem como a qualidade das mesmas. Além disto, existe também a diminuição da função hormonal ao longo do tempo.
Do ponto de vista psicológico, a procriação medicamente assistida é um processo muito doloroso e desgastante para a mulher e para os casais. Fisicamente ocorrem alterações várias, os exames são invasivos em alguns casos e os tratamentos são penosos. Acresce a isto o medo e a ansiedade, associados muitas vezes a sentimentos de culpa por um possível adiamento da maternidade e a sentimentos de baixa autoestima e incapacidade para fazer algo que deveria ser natural à mulher. Além disso, o impacto na dinâmica também é grande e a sexualidade é afetada, tornando-se mecânica e com objetivo quase único da reprodução. Além disto, existe ainda algum preconceito no que se refere à maternidade tardia, porque não é habitual e porque, inegavelmente os riscos são maiores. Mas uma mulher grávida deve sempre ser apoiada e não criticada, independentemente da sua idade. Com maior ou menor acompanhamento, desde que isso seja vivido de forma construtiva e contribua para o sentimento de felicidade dos pais, é sempre uma coisa positiva.
Estes sentimentos de estranheza estão muitas vezes relacionados com ideias pré-concebidas sobre a forma como a sexualidade é vivida à medida que os anos passam, acreditando-se que a mulher fica menos disponível para a sexualidade, o que não corresponde à verdade. O que acontece é que, por norma, o avançar da idade tende a coincidir com a permanência em relações longas e as relações longas sim interferem significativamente com a sexualidade, em particular com o desejo sexual. A rotina, a falta de novidade e a previsibilidade tendem a ter impacto negativo no desejo sexual, diminuindo-o, sobretudo no caso da mulher. O sexo passa a ser intencional e menos espontâneo e é preciso que o casal entenda isto, sob pena de cair na inatividade sexual. Contudo, uma relação nova que inicie aos 50 anos voltará a usufruir de um desejo sexual mais frequente e espontâneo. Em suma, as dificuldades ao nível do desejo relacionam-se mais com o tempo da relação e não tanto com a idade.
Todavia, é importante não ignorar que a vida sexual de qualquer mulher que é mãe é afetada após uma gravidez e nos primeiros meses de vida da criança. O tempo de regresso à “normalidade” depende de fatores múltiplos, tanto individuais como relacionais. Contudo, a idade não é o fator mais determinante.
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